LONDON LETTERS
European countdown, 2014-17
Eis dados estatísticos quase supreendentes. Inquiridos sobre se o país é europeu ou não-europeu, 50% dos Britânicos afirma que não o é face a 40% de respondentes dizendo que sim é. Análoga percentagem de culturalmente não identificados com a imagem corrente da European Union atinge os 31% em France e 11% na Germany ou ainda 26% em Poland. — À chose faite conseil pris! Os números são de um relatório independente da Opinium Research e condensam maior expressividade na gama das fidelidades políticas. Apenas 4% das gentes de Her Majesty se reconhece na eurocidadania. — Practice makes all things easy. Resultado? Se o referendo sobre a Brexit fosse amanhã, 36% votariam pela permanência na EU do United Kingdom. Hoje, pelas 17 horas, reúne pela primeira vez o terceiro governo da Kanzlerin Angela Merkel no mais poderoso país da eurozone, a seis meses do sufrágio parlamentar para Brussels, quando bandeiras ucranianas se manifestam nas praças de Kiev por tal adesão e os desempregados de longa duração somam dois milhões só no outro lado de La Manche.
O retrato diz do estado dos laços emocionais que perpassam o continente e do desencanto que germina nas bases do projeto europeu. Algo bem diverso do clima envolvente do 1975 referendum on Britain membership of the European Union, em pleno condomínio USA-URSS com a East e West Germany, pilotado em London por Mr Harold Wilson e Lord Roy Jenkins, aliás, em aberta sintonia com Monsieur Jacques Chirac em Paris e o Kanzler Ludwig Erhard em Berlin — ministro de Herr Konrad Adenauer desde 1949 e autor do milagre económico (Wirtschaftswunder). Sem forças partidárias a polarizarem o terreno como o crescente UKIP e a convergência dos europeístas no centro eleitoral, à data, 67% vota a favor e 33% contra o Common Market. Mesmo com a coordenação das lideranças, dentro e fora de fronteiras, o debate gerou um dramático duelo sobre os riscos e benefícios. O Labour Government disse «sim à Europa», mas com a oportunidade de os ministros e os parlamentares expressarem livremente os seus pontos de vista. A clivagem assim aberta ainda é visível a 40 anos de distância, seja nas bancadas de Westminster, seja na cartografia socioeconómica britânica, seja finalmente na recetividade das chancelarias continentais. Acresce a modernosa paisagem internacional, que se distingue tanto na balança de poderes como nas fórmulas dos tratados e instituições.
A gestão da pertença britânica em muito passa pelo atual trio de protagonistas: Frau Merkel e o Prime Minister David Cameron ou o Opposition Leader Mr Ed Milliband. A tudo permanecer igual, hipótese ao gosto dos economistas, em 2017 ocorrerá uma hecatombe política na Europe. Sinal dos tempos, e da minha pessoal ignorância, tentei ler o acordo da ‘Grand Coalition’ bem como o programa do governo CDU/SPD. Posso escrever que tal me foi vedado por uma barreira cultural: apenas existem documentos sobre "a union of stability" em alemão de London a Dublin até Berlin. Fonte diplomática assinala-me que existe uma nova língua oficial europeia.
O Bundesregierung permite-me, porém, conhecer o juramento proferido pela Bundeskanzlerin. Frau A Merkel: "I swear that I will dedicate my efforts to the well-being of the German people, promote their welfare, protect them from harm, uphold and defend the Basic Law and the laws of the Federation, perform my duties conscientiously, and do justice to all. So help me God."
St James, 17th December
Very sincerely yours,
V.