O fruto é a ternura
Admira-me sim, que uma pessoa a quem o amor não tenha ferido, saiba dize-lo, escreve-lo com lucidez quase total.
Faz crer que muito pela alegria nos chega o entendimento. E afinal não, nem por uma nem por outra via, mas pelas duas, ou por uma terceira que se junta, e é núcleo da intuição de quase não errarmos. A esse fenómeno se chama sensibilidade, inteligência, campo de mérito, saber de além, acelerador de partículas de Deus, Bozão de Higgs, visão que só vê no não visto, mistério aberto a um se tutoyer que poucos conhecem.
Surpreende-me que se não saiba que o adeus, é, um por enquanto, e o encontro, uma água furtada, alçapão à possibilidade.
Vai medo indefeso. Digo.
Vai que a idade chega até de motociclo ou de carroça. Vai que este lugar, é o lugar para onde volta quem parte e, se ainda parece porto, é tão só por de tão vigoroso procurar-se, ali e agora, te chamar de aurora e de irmão.
Existem olhos que conhecem os desejos para lá do recinto do mundo. Por certo conhecem a via das palavras que se aguardam sempre vindas de um alguém. Alguém que em vez de dizer ‘deixo-te’ nos sussurra ‘tenho de ir’, como se o que vai, deixasse apoio num telefone que tocará, é certo, mas cansado e desamparado pelo peso de uma porta entreaberta.
É a vida uma multidão de esperas num ápice: iguais na fome e na fartura.
E reconheço-te muito em mim. A diferença é que transponho o sonho pela persiana e o pássaro da véspera já me levou. Quantas vezes?,nem eu sabia, nem eu soube.
Apaziguava-te.
Teresa Vieira
Sec. XXI