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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

O fruto é a ternura

 

Admira-me sim, que uma pessoa a quem o amor não tenha ferido, saiba dize-lo, escreve-lo com lucidez quase total.

Faz crer que muito pela alegria nos chega o entendimento. E afinal não, nem por uma nem por outra via, mas pelas duas, ou por uma terceira que se junta, e é núcleo da intuição de quase não errarmos. A esse fenómeno se chama sensibilidade, inteligência, campo de mérito, saber de além, acelerador de partículas de Deus, Bozão de Higgs, visão que só vê no não visto, mistério aberto a um se tutoyer que poucos conhecem.

Surpreende-me que se não saiba que o adeus, é, um por enquanto, e o encontro, uma água furtada, alçapão à possibilidade.

Vai medo indefeso. Digo.

Vai que a idade chega até de motociclo ou de carroça. Vai que este lugar, é o lugar para onde volta quem parte e, se ainda parece porto, é tão só por de tão vigoroso procurar-se, ali e agora, te chamar de aurora e de irmão.

Existem olhos que conhecem os desejos para lá do recinto do mundo. Por certo conhecem a via das palavras que se aguardam sempre vindas de um alguém. Alguém que em vez de dizer ‘deixo-te’ nos sussurra ‘tenho de ir’, como se o que vai, deixasse apoio num telefone que tocará, é certo, mas cansado e desamparado pelo peso de uma porta entreaberta.

É a vida uma multidão de esperas num ápice: iguais na fome e na fartura.

E reconheço-te muito em mim. A diferença é que transponho o sonho pela persiana e o pássaro da véspera já me levou. Quantas vezes?,nem eu sabia, nem eu soube.

Apaziguava-te.

 

 

Teresa Vieira

Sec. XXI