LONDON LETTERS
Polar vortex, 2014
Todos concordarão que o segredo de um agradável dia londrino será manter o sentido de humor e sempre trazer consigo um chapéu de chuva. The British weather é uma instituição nacional e assiste até o mais relutante dos insulares a trocar amenidades, desde que seja após o café da manhã. Também os céus há muito por cá autorizaram cada qual a fazer as suas próprias predições ambientais. — La gaieté et la santé changent l’hiver en été! Ainda assim, por certo, o frio, a àgua e o vento andam excessivos nestas latitudes. Em Dorset e redondezas soam sirenes noturnas de flooding warning e em Edinburgh acendem luzes de security alert. Informam os metereologistas que os rigores destes dias em novo ano se devem a um polar vortex, a ventilar as temperaturas árticas e a produzir fantásticas ondas destinadas a esculpir as costas atlânticas. — Rain at seven, fine at eleven! O social climate espelha o particular azul de Westminster.
So, 2014, what's next? Temo que a pincelada atmosférica teime em sombrias cifras Fahrenheit. O ambiente social algures reflete os humores políticos do Big Ben, como revela a débil prevenção nas transbordantes linhas do Thames. E aqui, quando o mais é errático por método? Plans, more plans and, cuts, more cuts! O Chanceler of the Exchequer, Mr George Osborne, programa poupar £12 billion from welfare spending sob o budget umbrella da peculiar coligação entre conservadores e liberal democratas. Onde e sobre quem, em concreto, fica para depois! O anúncio comprou uma argumentativa disputa doméstica com Mr Nick Clegg no seio da maioria conduzida por Mr David Cameron, PM, aliás, ora às voltas não com a gestão de expetativas e sim com divertidas acusações de cronismo face ao seu hairdresser. (—Really?!)
Com os motores partidários a rugir em fundo e a tensão a subir a par das sondagens em torno do UKIP, do eurocético Mr N Farage, Westminster avalia a agenda das próximas eleições. Tudo indica que o sufrágio ocorrerá a May 24, com simultaneidade de votos para o parlamento europeu e os governos locais, após o ajustamento temporal exigido para decidir da European Commission em November. Excetuada a célere decisão na câmara alta sob acordo de Lord Greaves (Lib-Dem) e Lord McKenzie of Luton (Labour), o assunto arrasta-se distraidamente pelos palácios. Nos Commons pisa alegre trote. Uma efervescência mediática salpicada por tweets que estremecem o olhar sereno dos velhos quadros em volta, mas persiste em época de montaria. Assim: Se a House ultima em comité os preparativos para a Strategic Defence and Security Review e avisa que a capacidade das forças armadas "should be determined not by budgetary constraints but by a fully developed strategy which defines the position in the world that the UK wants to adopt", o frenesim nos green backbenchers não poupa sequer os speed limits.
Cores do tempo, em vésperas das BAFTA nominations, entre calma glacial e enchente intempérie, Corionalus de Master Shakespeare regressa aos palcos de Covent Garden, no Donmar Warehouse, com Tom Hiddleston (BBC's The Hollow Crown ou War Horse), e o Prince William estuda Agricultural Management na Cambridge University. A opção real indicia futuro nos 540 km² do Duchy of Cornwall e a universidade atrai novo lote de talentos amigos e abonadas carteiras, mas a power play perdeu fino crítico com o passamento do lendário Mr Simon Hoggart, do Guardian, no passado domingo. Para já, à direita, o New Statesman apresenta-se na sala de armas e avança a point-in-line: “The hard part of George Osborne's job is keeping a straight face." — Ouch.
St James, 7th January
Very sincerely yours,
V.