LONDON LETTERS
The wealth wars, 2014
As virtudes hidroterapêuticas do Scottish shower são tão clássicas quanto a masculinidade do kilt. Um duche de água quente e outro de fria estimula o sistema circulatório, robustece a energia vital e dizem até que amplifica a fertilidade. Em vésperas da House of Lords debater o referendo sobre o Yes or No à independência da Scotland, a frente económica apresenta-se com xadrez digno do historical highland dress. — Un homme en kilt est un homme et demi! A um tempo, confirma-se a recuperação da economia: o GDP cresceu 1,9% em 2013, o melhor ano desde o colapso financeiro. Mas a outro tempo, anuncia-se que o Royal Bank of Scotland regista perdas anuais de £8bn a pagar pelos contribuintes. — When the cup is full, carry it even! A sublinhar o invernoso catavento temos o Environment Secretary admoestado pelas gentes de Somerset ainda submersas após as cheias natalícias e Westminster a sugerir à Royal Household melhor aplicação dos recursos públicos no apoio a The Queen’s programme of official duties, senão a abrir palácios aos turistas que há muito pagam as chaves da Tower of London.
A recuperação chegou ou está a caminho? A questão quase ameaça a secular dúvida existencial de Hamlet pela omnipresença. O Shadow Chancellor esteve este sábado na Fabian Society a equacionar a agenda do Labour Party na economia para o próximo parlamento. Com as eleições em 2015, Mr Ed Balls quer balance the books in a fair way. Ou seja: diminuir o défice orçamental e a dívida pública com um mix fiscal que onere os ultra ricos e estimule novo futuro com investimento mais talento. Ao detalhar o programa indica o regresso à 50p tax rate for top earners. O Chancellor of the Exchequer, Rt Hon George Osborne, recusa liminarmente estes cortes na riqueza, para não a afugentar. Logo o Prime Minister declara em assembleia de empresários que é a bad, very bad idea. Sob fogo cerrado, os trabalhistas insistem na fairness de partido pro-business. No entretanto, uma sondagem da YouGov mede o apoio popular à medida: 26% desaprovam e 40% apoiam. O rácio subiu hoje: os Liberal Democrats afastam-se do parceiro governamental e igualmente querem elevar o tributo dos maiores rendimentos a fim de aliviar os demais.
Com 20 milhões de desempregados na European Union, é claríssimo que o rigor financeiro necessita de novos ingredientes na ementa. Mais de cinco anos depois do choque financeiro de 2008, esgotado o feel good factor dos Olympic Games na mesa do último Christmas, a debilidade da recuperação só pode preocupar. Quanto à intervenção de Mr Balls nos vizinhos fabianos, a reter são as velhas ideias em torno da talentocracia. Só através de salto na inovação, o UK e o West podem ambicionar retorno à prosperidade perdida. Com o devido cumprimento a Mr Joseph Schumpeter, a deliberate agrarian, sobre a destruição criativa estamos entendidos face aos campos alagados de South West England. Aliás: Alguém por aí leu o ancient Lucius Moderatus Columella e o seu De Re Rustica?
Thomas Jefferson, que toda a vida se debateu com difícil pagamento das faturas em Monticello, lega vasta reflexão sobre os desequilíbrios no tesouro. Em carta a Samuel Kercheval, de 1816, nota que “[with the decline of society] begins, indeed, the bellum omnium in omnia [war of all against all], which some philosophers observing to be so general in this world, have mistaken it for the natural, instead of the abusive state of man. And the fore horse of this frightful team is public debt. Taxation follows that, and in its train wretchedness and oppression." As preocupações deste founding father do moderno republicanismo com o crédito só cessam na morte com a transação da propriedade. O neto esclarece no anúncio de venda que o montante das suas dívidas acendera a $107,000 de dólares. Algo como $1,5 milhões, decerto acumulados ao longo de vivência com padrões diversos da frugalidade de HM Elisabeth II. – The question is where to put the principles and the interests.
St James, 28st January
Very sincerely yours,
V.