EVOCAÇÃO DO GRUPO FERNANDO PESSOA NO BRASIL
Publicamos aqui uma fotografia datada de 1962. No Rio de Janeiro, o Grupo Fernando Pessoa reúne com alguns dos mais significativos e representativos escritores brasileiros. Recordemos o que está por de traz deste momento de convivência, mas sobretudo, momento de criação e de intercâmbio artístico e cultural.
Em novembro de 1960, o Centro Nacional de Cultura assinala o 25º aniversário da morte de Fernando Pessoa com um conjunto de espetáculos e sessões culturais em colaboração com o Grupo Fernando Pessoa. E desde logo há que assinalar um aspeto peculiar destas comemorações.
Em 1935 morre Fernando Pessoa. Na época, ocupava já, mesmo junto do público em geral, uma posição de óbvio e justíssimo prestígio cultural: mas estava longe ainda da profundidade de conhecimento e revelação e análise que hoje, a seu respeito, domina a cultura portuguesa tanto no plano interno como no plano internacional. E isto, sem embargo dos estudos já então em pleno desenvolvimento entre nós, e da repercussão que Pessoa alcançara na época, no Brasil.
Mesmo assim: no início da década de 60, a criação do Grupo Fernando Pessoa, no âmbito do CNC e com a marca profunda de Fernando Amado, representou uma antevisão profunda, e de alta qualidade artística, da generalização dos estudos e das evocações pessoanas. E, acrescente-se, numa perspetiva de revelação da dimensão dramática de Fernando Pessoa: não é demais lembrar que, durante décadas, essa dimensão cénico-dramática estava ainda muito concentrada em O Marinheiro - e pouco mais se ia conhecendo…
O Grupo Fernando Pessoa surge então como sinal e marca de referência nos 25 anos da morte de Pessoa. Estiveram envolvidos o CNC e a Casa da Comédia. E nesse aspeto, importa assinalar uma vez mais a intervenção criativa de Fernando Amado, ligado a ambas as entidades, que tanta vez se associaram em manifestações culturais. Fernando Amado surge, neste contexto, como elemento dinamizador e aglutinador do movimento comum. E com ele, uma geração de então jovens atores, em grande parte revelados nesse movimento, e que iriam marcar, até hoje, a vida cultural-teatral portuguesa: Glória de Matos, João Ávila, Isabel Ruth, Manuela de Freitas…
E ei-los, em 1962, levando O Marinheiro, revelando o Primeiro Fausto e mais adaptações e leituras de Fenando Pessoa ao Brasil, com espetáculos no Rio de Janeiro, São Paulo, Santos, Recife, Olinda, Belo Horizonte, Salvador da Bahia Curitiba., além de espetáculos e intervenções na televisão, já na altura poderosíssima a nível nacional. A repercussão dessa missão cultural portuguesa pode ser ajuizada pela forma com o público e a intelectualidade brasileira recebeu os artistas portugueses, isto numa época em que as relações culturais e artísticas entre os dois países não eram especialmente relevantes - e sobretudo, no que se refere ao teatro, muito mais significativas de lá para cá ( Maria Della Costa, Cacilda Beker) do que de cá para lá, passada que foi a época de ouro das tournées de Amélia Rey Colaço …
Então repare-se na fotografia. No Rio de Janeiro, vemos o Grupo Fernando Pessoa com alguns dos nomes mais significativos, na época e hoje, da arte e da intelectualidade brasileira. Vemos Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Morais, Cecília Meireles com Glória de Matos, João Avila, Isabel Ruth, Norberto Barroca e César Augusto.
Voltaremos a este grande momento de intercâmbio cultural luso-brasileiro.
DUARTE IVO CRUZ