LONDON LETTERS
Early Spring @ London, 2014
Os dias na cidade estão mais suaves. Será da passarada ao redor, mas após um inverno diluviano bemvinda é a subida das temperaturas. À atmosfera primaveril, entre euforbias e camélias cujo perfume surpreende no arvoredo de rua, auxilia o líder dos Liberal Democrats ao lançar na praça pública aquilo que quase se institucionaliza como jogo de campanha até às eleições europeias e municipais de maio. — Chérie, il n’y a pas de roses sans épines! Em vésperas de debate com o primaz do eurocético UKIP e quando os Tories multiplicam argumentos sobre o “cult of Nigel”, Mr Nick Clegg lista razões porque he loves Britain para defender a permanência do UK na European Union. O efeito é viral: da literatura ao pub até às PM Questions, cada um tem amoroso tweet a circular em Westminster. — All in good time! Resta saber se a moldura dos British values basta para obstar à Brexit.
Uns dias de repouso forçado e eis uma explosão de cor nos jardins a impor uma doce pincelada num quotidiano acinzentado pela austerity press. Para não destoar por inteiro nestes sunny days, eis também a classe política apostada em love letters aos eleitores. No trilho reaberto há algum tempo por Mr David Cameron face às estimadas raízes familiares do Prime Minister em Scotland ocupada com o sim/não à independência, seguem agora os Lib Dem em toada internacionalista. O terno guião inclui tea, freedom & tolerance. Serve o fervor patriótico para dividir as águas no debate de Mr Clegg com Mr Nigel Farage sobre o futuro nacional na EU, agendado em sessão dupla: a 26 March na LBC Radio e a 2 April na BBC 2.
Os dois chefes partidários esgrimirão ideias pelo in/out em expetável marco na contagem decrescente para o euroreferendo outonal e o voto primaveril por parte de um eleitorado que tem ouvido os mais fantásticos argumentos contra o estrangeiro, desde um êxodo romeno rumo a Heathrow para assalto ao welfare state à sinalização árabica como non-violent person. Quando faltam 10 semanas para o novo recrutamento dos representantes, a incerteza soma nas sondagens em torno do avanço ukkiper e muito derivará do Nick v Nigel debate. Ora, a voz de Mr Clegg merece ainda ouvir-se pelo menos dito dos motivos. A Europe necessita do United Kingdom, pois, como a história ensina com o sangue de várias gerações, a atual germanização detonará os nacionalismos mais cedo do que tarde.
A tradição da liberdade que o Deputy Prime Minister ecoou na conferência dos Lib Dem deste fim-de-semana carece do velho sistema de pesos e contrapesos. Algo que manifestamente se ausenta de Brussels quando a rede das suas instituições esquece o papel que nos tratados a cada qual é atribuído. O mesmo quanto à recusa que Mr Clegg sustenta face a politics of blame, interna e externamente usada como forma de pressão em matérias exclusivas dos parlamentos nacionais. O voto é só aquela última linha que recorda Mr Alan Bennett em memorável diálogo. — I am going to put the phone down on you, but very quietly and very politely.
St James, 11h March
Very sincerely yours,
V.
--- O trabalhismo perdeu hoje um dos seus campeões: o líder da Rail, Maritime and Transport Union. RIP, Mr Bob Crow.