JOÃO d’ ÁVILA COM O GRUPO FERNANDO PESSOA NO BRASIL
Retoma-se a fotografia que documenta o Grupo Fernando Pessoa no Brasil e atesta a projeção da tournée, já pela qualidade dos atores portugueses, já pelo extraordinário conjunto de escritores brasileiros que os rodeiam: e desses escritores brasileiros, os melhores de entre os melhores, temos dado notícia, bem como dos artistas portugueses, o que agora se prossegue.
Recorde-se que a tournée ao Brasil foi feita no âmbito da programação do Grupo Fernando Pessoa, fundado por Fernando Amado no Centro Nacional de Cultura.
Na foto no Rio de Janeiro, vemos na primeira fila Glória de Matos, que já aqui referimos, e ao lado João d’Avila, que agora evocaremos. Ambos aliás ativos e marcantes, passado que foi mais de meio século… Em 1962, eram todos muito jovens. Mas jovens ou não, reuniram, para os ouvir, o que de melhor representa a literatura brasileira contemporânea, como temos visto nesta série de crónicas.
João d’Avila merece também o destaque da sua grande qualidade artística, excelente ator que é. Devemos assinalar a internacionalização da sua formação e da sua carreira. Diplomou-se como ator em Lisboa, no Conservatório Nacional, onde terá tido professores do alto nível de Samuel Dinis, Gino Saviotti, Eurico Lisboa Filho, Carlos de Sousa, Margarida de Abreu, penso que, ainda, Álvaro Benamor. É um dos fundadores do Grupo Fernando Pessoa, em 1960: participa, como vemos, na longa tournée do Brasil e, em 1963, em nova grande viagem por Angola e Moçambique.
Em seguida, muda-se para Inglaterra, onde prossegue estudos na Royal Dance School e na London School of Dramatic Art, integrando o London Theatre Group, onde ficou 10 anos a trabalhar em Inglaterra e um pouco por todo o mundo, em sucessivas tournées.
No regresso, a partir de 1975, continuou até hoje uma carreira diversificada, mas com incidência na revelação ou dramatização de autores portugueses, em textos escritos para a cena ou dramatizações de outras obras da autoria de Almada, Sá Carneiro, Cesariny, Régio, David Mourão Ferreira, Mário Cláudio, Melo e Castro, Lídia Jorge…
E precisamente: Lídia Jorge, no texto que serve de prefácio a uma recente biografia de João d’Avila, considera-o “um imenso ator (com) uma notável capacidade de deslocação no palco, um ator concentrado, ao mesmo tempo na personagem que desempenha em si e que de si faz outra máscara, sempre em conexão perfeita com o conjunto das outras personagens.” (in Luciano Reis - “João d’Avila - do Teatro à Poesia” 2013).
E, por ocasião de nova tournée de João d’Ávila ao Brasil, ao Canadá e a outros países onde trabalhou para as comunidades portugueses e para os leitorados de português em diversas Universidades, Manuel Bandeira, que aparece na fotografia do GFP, afirma - “jamais esquecerei a emoção com que escutei O Menino de Sua Mãe e O Sino da Minha Aldeia ditos por João Ávila”
Resta acrescentar que João d’Avila é autor de pelo menos um texto dramático - “Mater”, levada á cena pela com companhia A Barraca.
DUARTE IVO CRUZ