Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

MANUELA DE FREITAS COM O GRUPO FERNANDO PESSOA NO BRASIL

Com Manuela de Freitas, terminamos esta série de evocações do Grupo Fernando Pessoa no Brasil. Ou melhor: terminamos a análise crítica da tournée e das atividades artísticas dos participantes, mas iremos ainda ouvi-los acerca desta grande viagem. Viagem que serviu de primeira internacionalização para alguns destas jovens atrizes e atores, mas também, de afirmação, no exigente meio cultural e teatral brasileiro, de uma cultura e de um profissionalismo que na época – estamos em 1962! - não seria comum em Portugal.

Serviu ainda para afirmar o nome e a obra de Fernando Pessoa, na altura bem menos conhecido do que é hoje, sobretudo na sua dimensão poético-dramática.

Nesta rememoração da tournée do Grupo, importa agora referir a carreira de Manuela de Freitas. Tem a especificidade de uma larga continuidade no cinema, com mais de 30 filmes, sobretudo, mas não só, filmes portugueses.

Mas entre esses, podemos já referir que 9 foram dirigidos por João César Monteiro, quatro por Manoel de Oliveira, três por Jorge Silva Melo: mas como se disse, estamos perante uma carreira cinematográfica que passou as fronteiras, o que não é, como bem sabemos, habitual entre nós.

E que tem como remate coerente a colaboração na Cinemateca Nacional.

Vejamos um pouco a participação nos filmes de Oliveira. Desde logo, pela relevância e qualidade do realizador: mas é interessante notar que esses filmes reportam a peças de teatro ou a obras de ficção de autores também do maior relevo – e desde logo Vicente Sanches (“O Passado e o Presente” – 1971 – “nunca a câmara de Oliveira foi tão ágil” – João Bénard da Costa), Camilo (“Amor de Perdição” – 1978), Agustina Bessa-Luís (“Francisca” – 1981), Paul Claudel (“Le Soulier de Satin” –1985).

Este último filme teve como Conselheiro Literario Jacques Parsi, autor de um estudo sobre Manoel de Oliveira, onde designadamente refere o sucesso unanime na estreia em Paris: “O filme conseguiu pôr de acordo L’Humanité e La Croix!” (“Manoel de Oliveira” ed. Centre Culturel Calouste Gulbenkian Paris 2002).    

Mas também não estará fora deste registo a colaboração de Manuela de Freitas com outros realizadores e em especial com João César Monteiro, com quem trabalhou regularmente de 1971 a 2003, ou com Jorge Silva Melo, que como sabemos reparte a sua atividade entre o cinema e a encenação e produção teatral.

E encontramos esta mesma exigência, digamos assim, na carreira teatral. Manuela de Freitas estudou em Londres, e em Lisboa, trabalhou com Alfredo Gutkin, Peter Brook, Bob Wilson, Grotowsky, Fermando Amado, Luis de Lima. E praticamente todos os encenadores portugueses de relevo. Esteve ligada à Casa da Comédia com João Mota, com quem iria fundar A Comuna.

E interpretou textos de António Patricio, Almada, Fernando Pessoa, Bertold Brecht, Paul Claudel, Samuel Beckett, Natália Correia, Arrabal, Tenessee Williams, Eugene ONeill,  mas também  Strindberg, Shakespeare,  Racine, Eurípedes…

Resta dizer que esta série de referências sobre o Grupo Fernando Pessoa justificará a recolha de uns depoimentos de atores que estiveram na tournée ao Brasil.

 

DUARTE IVO CRUZ