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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

As novas opções políticas.

 

Julgo que quem analisar ao vivo um conjunto de mecanismos como os que perscrutam e se infiltram nas atmosferas políticas dos dias de hoje, depreenderá que, afinal, tinham surgido, pelo menos duas opções muito claras por entre os regimes e os sistemas políticos existentes e em relação aos quais, qualquer voto bafeja, e até mesmo a abstenção.

 

Referimo-nos à possibilidade de se poder optar por entre uma ditadura arejada ou uma democracia abafada, ou ainda por uma osmose das duas, se abandonarmos de vez tudo quanto constitui um princípio em si mesmo.

 

O papel destas opções, quais energias curativas da intranquilidade das sociedades, são edificadoras de um estilo de pensar à sombra do sol.

 

Ainda assim, as opções que acima referimos, ou mesmo a união de ambas constituem um infalível caminho de destruição da liberdade. Ao menos da responsável liberdade criativa, única que, no nosso entender responde à altura pelo nome.

 

Aliás, exactamente por essa razão de bem se orgulhar esta liberdade do seu nome, e do que representa, é que nasceram estas opções a que acima nos referimos, numa aproximação artística de destruir autor e peça ou cansar ambos, ao ponto de confundir humanidade e expectativas, mas seguro ser o controlar de feição supostamente aternurada qualquer esfera de vida.

 

Como refere o Professor Doutor Paulo Otero no seu magnífico livro A Democracia Totalitária, o totalitarismo surge (…) reunindo todo um conjunto de dogmas radicalmente opostos do modelo do Estado liberal então vigente na Europa e, deitando mão das palavras de Nicólas Pérez Serrano, acrescenta, o quanto o totalitarismo comporta em si um verdadeiro esforço de divinização do Estado.

 

Ora, como não chegasse ter acontecido ao mesmo tempo, entre mim e o Professor Paulo Otero, a comunhão de pensamentos e de investigação sobre a temática que se aborda no presente texto, a verdade é que, ontem, ao relermos as palavras de Albert Camus na Peste, e outras por nós escritas num texto publicado no Jornal Euronotícias sob o título O Tirano Que Sulca A Democracia, concluímos o quanto o bacilo da peste, de facto, nunca morre, mas antes se transforma numa suposta possibilidade de ditadura arejada e perversamente aberta a eventuais fenómenos democráticos que logo castra, e, uma democracia abafada, igualmente perversa e sedutora, por entre as naftalinas que tanto matam bicho como apodrecem ilusões e forças.

 

Em rigor o espaço de uma vida é curto para lutar contra as tais novas opções que a realidade nos demonstra existirem, e igualmente pouco, o tempo necessário para que os homens acreditem que estão mais aptos à não liberdade do que ao desafio que ela consigo traz.

Referimo-nos à tal liberdade criativa e responsável, grande caminho que muitos seres não vêem ou dele se arredam para que se cumpram as vidinhas no descanso podre de um jornal matinal que mecaniza o pensamento até que à noite de novo o leve o sono.

 

Afinal, troca-se, como dizia Hobbes, a obediência pela protecção obediente, quando se aceita o tal pacto de sujeição, nele se englobando o direito de pensar e decidir.

 

Assim, quando no exercício da docência procuro transmitir aos meus alunos, o quanto se inquinam gerações vendendo-lhes por comerciáveis os direitos inalienáveis, apenas os estou a alertar para os perigos dos modernos autoritarismos que, bem sabem dividir entendimento e resistência, soluções e salvaguardas, numa proximidade de uma interpretação de Maquiavel, quando transfere para a imensa burocracia o poder anestésico de eliminar o homem.

 

Todavia, lembremos que também do Homem faz parte o fogo grego, único que arde debaixo de água, único que herda e transmite o quanto a dignidade humana é inviolável, o quanto, qualquer forma de desprezo pelo ser humano, subverte os fundamentos da própria democracia, ao ponto de sob ela se erigirem as tais supostas novas opções politicas.

 

M. Teresa Bracinha Vieira

27.02.11

Sec.XXI