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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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NOTA FINAL SOBRE O GRUPO FERNANDO PESSOA NO BRASIL

Fazemos hoje uma referência final à atuação do Grupo Fernando Pessoa (GPF) no Brasil. Mas atenção – final nesta abordagem, pois poderemos sempre voltar ao assunto, quanto mais não seja na perspetiva de iniciativas teatrais e dramatúrgicas luso-brasileiras.

Em crónicas anteriores, ficaram bem patentes três ideias-base: o carater percursor da tournées do GPF, o seu alto nível cénico-dramatúrgico – textos de Pessoa representados por tão excelentes artistas portugueses – e a repercussão e a qualidade do público, bem representado pelo conjunto de escritores brasileiros que se fizeram fotografar com o Grupo e, tal como os artistas portugueses, evocados um a um nesta série de crónicas.

Iremos então agora, como nota final destas evocações, referir a existência de apreciações que alguns grandes nomes da literatura brasileira, ou residentes no Brasil, fizeram ao espetáculo e aos intérpretes, num livro de autógrafos conservado por Glória de Matos: Vinícius de Morais, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Paschoal Carlos Magno, Carlos Drumond de Andrade, João Gilberto, Tomaz Ribeiro Colaço e Madalena Rey Colaço, entre outros, assinalam e elogiam o espetáculo do GFP.

Como amplamente temos lembrado, os espetáculos do Grupo Fernando Pessoa no Brasil tinham como texto principal, precisamente a “Mensagem”, publicada no primeiro número do Orpheu. Nesse sentido é oportuno referir também que na origem do Orpheu surge o escritor modernista brasileiro Ronald de Carvalho (1893-1935), diplomata de carreira, criador e estudioso da literatura e um dos nomes referenciais e referenciados da Semana de Arte Moderna de São Paulo (1922), movimento renovador da arte e da cultura no Brasil.

Ronald de Carvalho, hoje bem pouco lembrado entre nós, estabelece assim uma ligação entre o início do modernismo português, via Orpheu e o início do modernismo brasileiro: e isto, não obstante as reservas que em obras diversas, formulou relativamente à literatura portuguesa.   

Ora, retomando as evocações que, nesta série de artigos temos escrito sobre Almada Negreiros e sobre Fernando Amado, é interessante então fazer mais algumas breves referencias:

Em 1935, escreveu Almada, especificamente sobre Ronald: «Na formação do Orpheu, os primeiros nomes que aparecem são os do poeta português Luiz de Montalvor e o do escritor brasileiro Ronald de Carvalho. Ronald de Carvalho, há bem pouco tempo falecido no Brasil, vítima de um desastre de automóvel, era, além de escritor, diplomata e secretário da Presidência da República, tendo sido recentemente eleito “Príncipe das Letras Brasileiras”»...

E é curiosa a referência ao Rio de Janeiro feita em 1944 por Fernando Amado: “Desembarquei há mais de quatro meses na cidade maravilhosa e, embora cheio de projetos, não consegui ser mais do que um vulgar turista, passeando, admirando, tentando perceber o que em volta de mim sucede, o que pode e quer e o que há-de vir a representar, num futuro próximo, o imenso Brasil”.

 

DUARTE IVO CRUZ