Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Para a Bi. E também para o Duarte Ivo Cruz. O Mário deixou-nos esta madrugada, serenamente, em Sábado Santo. Muito esperávamos ainda dele, da sua inteligência, da sua sobriedade, do seu conhecimento. Felizmente, deixou-nos ainda as deliciosas memórias, que intitulou despretensiosamente «Páginas Amarelas». Poderemos sempre regressar a elas e reencontrar o seu espírito e o seu exemplo. Aí deparamo-nos com uma época e um conjunto de personagens, que nos permitem gozar o melhor do memorialismo. Homem de nunca parar, deixou preparadas as comemorações de Miguel de Unamuno, que lhe prometi que se fariam, em sua memória e segundo o espírito que desejava imprimir nelas. A promessa aqui está reiterada, com o pedido a todos os seus amigos que possam congregar esforços para que a dignidade seja suprema. Para o Mário, a cultura portuguesa era inesgotável, universalista, permanente, feita de pormenores, de amizades, de encontros – mas sempre de vontade, de determinação e de esperança. A cultura é por definição viva, imprevista, incerta, imperfeita, apaixonante. Amava, por isso, os sítios por onde passou na sua vida multifacetada de diplomata, de caminhante, sempre de peregrino – Brasil e Espanha tiveram uma importância fundamental. Todos nos lembramos da sua presença neste blog do CNC. Lendo os seus textos, percebíamos que o tempo e as personagens que aí habitavam eram motivo permanente das suas invocações e do seu entusiasmo. Do Mário poderemos dizer o que ele mesmo, muito justamente, disse de Paulo Lowndes Marques: «foi em toda a sua vida um exemplo perfeito da Parábola dos Talentos, ou seja, o exemplo de quem nunca deixou de pôr a render todas as suas qualidades e de cumprir, de forma exigente, os seus deveres na terra e de quem nunca se conformou com a atitude daqueles, pessoas ou instituições, que não assumiam por inteiro as suas responsabilidades». Nunca esquecerei a sua invocação do Padre António Vieira, que foi para D. João IV o que grão-doutor João das Regras foi para o Mestre de Avis. «Já então os lisboetas se haviam habituado a encher a Igreja de s. Roque, atraídos pela fama dos seus sermões, nos quais, além de cuidar das coisas de Deus, cuidava também das coisas da Pátria, exortando os fiéis a cumprirem as suas obrigações perante o Estado e a cuidarem do bem comum, porque advertia ele, “sabei cristãos, sabei príncipes, sabei ministros, que se vos há de pedir estreita conta do que fizestes, mas muito mais estreita do que deixaste de fazer”». A conversa com Mário apenas foi interrompida. Seguirá dentro de momentos! Muito e muito obrigado pela amizade e pela generosidade.
O estilo ou o defeito de substância geram desconforto. E que escrever sobre as contradições? Com a aceleração política para a caçada ao voto no próximo mês, em eleições locais e europeias, o debate público ganha já traços feéricos nas linhas partidárias com uns costumados flash boys. — Chérie, c'est le ton qui fait sa chanson! As campanhas eleitorais sempre terão quê malabárico de ato promocional de venda ao incauto de um Buckingham Palace ou quiçá aqui dos belíssimos jardins de St James. Diz-se uma coisa e o seu contrário, é alto e é baixo, é largo e é estreito, será e não será, restando ao eleitor concluir sobre se o que aquele tal diz é pouco ou nada. –Humm. There is no alternative but to leave the serious stuff for serious people! Temo mesmo que o esforço desmesurado para convencer as gentes de que vivem hoje melhor que no passado recente atinge picos que fariam corar uma working lady de apelido Thatcher. Ainda assim, abreviadas a vida e a comunidade às finanças, o fim da crise foi hoje oficialmente declarado com argumento estatístico e em modo Ronald Reagan. Daí: Votar-se-á com a carteira.
Anda por cá deliciosa ironia ao melhor de Pieter Bruegel, The Elder em De parabel der blinden. A crise do cost of living finda às mãos de razão técnica: os salários crescem acima da inflação. Que o ganho seja às décimas e as faturas galopem a dois dígitos, é cor fora da paleta do pintor. O fact checking exige trabalho e a dívida+défice esfumam-se em rude e volumosa pobreza. O micro management explica o declínio do debate político com a metamorfose de elites que enveredam pela escada rolante do cifrão ao invés dos degraus do status – a educação não é mais o antigo bem; sim o neo artigo para compra e venda. Ora, nem classistas georgians ou victorians toleraram dogma da desigualdade entre ricos e pobres a galope anual de 42% como hoje. Também nem em 1814 ou 1864 se ouviam numa qualquer sala de Westminster senhores vermelhuscos a citar grandes padres da fé em latim, pois sobreviria a frieza entre verbis e verbera. Tal qual Mr George Bush sr no labera lege, para orelhas que leiam, temos lupus in fabula. Advém risco maior: a falar para a fotografia, os representantes e candidatos podem imunizar-se no partido, sem impedir a repulsa no voto. É que há algo de moralmente corrosivo nisto a que a indispensável confiança da coroa não resiste.
Not by accident, o líder do UKIP continua em escalada radical nas sondagens. Com as intenções de voto a atribuirem à sua hoste uns consistentes 15%, Mr Nigel Farage é agora visado com os milhões recebidos como deputado europeu na união política que afirma abominar. Aos críticos responde o independentista como sempre: o dinheiro é bem aplicado na gesta para ser despedido e encerrada a empresa que lhe paga tais chorudos vencimentos. Pagará tamanha ingratidão? Afinal, at the end of the day, seja em Westminster ou em Brussels, quem paga é o contribuinte. O ataque negro tem leitura nas sondagens que avaliam a qualidade dos empregados políticos. Ipsos MORI Political Monitor: Clegg – 29%; Miliband – 30%; Cameron – 38%; Farage – 40%.
Vale o Rt Hon Secretary of State for Foreign and Commonwealth Affairs, Mr William J Hague, a doar liderança à Europe na Ukraine crisis. Cá por casa anda a garotada entretida a pintar coelhos e ovos para as festas da Páscoa. Os dias afiguram-se até longos pela fadiga de os ouvir no jardim dos fundos. — Indeed, a bad workman quarrels with his tools.