O ENSINO DO TEATRO EM PORTUGAL 3 - A EXPERIENCIA COMO ALUNO
Permita-se, a partir de agora, uma certa a evocação da experiencia pessoal.
Em 1958, com 17 anos, ingressei na Faculdade de Direito de Lisboa, nesse mesmo ano instalada na Cidade Universitária: foi o primeiro curso lá iniciado.
E no mesmo ano, matriculei-me, como aluno ouvinte – estatuto e expressão usada à época - na Secção de Teatro do Conservatório Nacional, Escola então dividida em três cursos: Música, Teatro e Dança. Era Diretor o meu pai, Maestro Ivo Cruz, que bem se bateu pela reforma estrutural do ensino das artes de espetáculo, só obtida, já noutro quadro, anos depois.
Eu voltaria ao Conservatório e à Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, seu sucessor orgânico, como titular da cadeira de História do Teatro. Mas os anos que frequentei como aluno, anos de formação teórica, deram-me a oportunidade de participar em aulas, conviver com alunos e sobretudo beneficiar do ensino de um grupo notável de professores, que aqui enumero e recordo.
Nada menos que Fernando Amado em Arte de Representar e Encenação e em Estética Teatral; Álvaro Benamor em Arte de Representar e Encenação; Eurico Lisboa em História da Literatura Dramática; Gino Saviotti em Filosofia do Teatro; Carlos de Sousa em Arte de Dizer e Declamação. E havia ainda a cadeira (que não frequentei!) de Dança Teatral, dirigida por Margarida de Abreu, também titular dos cursos de Bailado.
Era pois, como se pode ver, um elenco de docentes de primeiro plano, que conciliavam o ensino com o prosseguimento de carreiras profissionais destacadas no meio teatral da época.
O ensino fazia-se então no velho Convento dos Caetanos, ainda hoje Conservatório de Música, onde Garrett fundara e dirigira o Conservatório. Os cursos de teatro e cinema mudaram-se nos anos 90 para a ESTCL, na Amadora. Diga-se que o Conservatório nada tinha obviamente de conventual… e desde a Sala de Concertos, com, no teto, uma notável alegoria de Malhoa evocativa das artes do espetáculo, ao pequeno mas funcional estúdio de teatro onde decorriam as aulas das disciplinas ligadas ao espetáculo; ao estúdio de dança, às numerosas aulas de instrumentos mas também ao Museu do Conservatório e à notável Biblioteca especializada - todo este conjunto, instalado, repita-se num edifício em si mesmo belo e carregado de história, marcava (e ainda hoje marca) um estilo e um conteúdo de ensino, na época em que o frequentei muito discutido e tantas vezes contestado, mas que, hoje, podemos reconhecer como adiantado para o Portugal de então – e sobretudo, ministrado por um grupo notabilíssimo de professores, todos eles, simultaneamente, grandes professores e grandes profissionais das artes do espetáculo.
E recomeçaremos a evocação, na próxima crónica, precisamente por Fernando Amado.
DUARTE IVO CRUZ