LONDON LETTERS
The RHS Chelsea Flower Show, 2014
Uma esplêndida regalia para o olhar e ponto de encontro anual para os amantes da jardinagem. Desde meados do 19th century, 1862 creio, que o Great Spring Show marca a agenda londrina. HRM The Queen esteve já de visita à iniciativa, a elevar o perfil de uma exposição internacional com traço e sensibilidade a gosto inequivocamente britânico nestes windy days. — Un temps tout à fait de saison! A edição de 2014 estará aberta ao público durante toda a semana e desperta os sentidos quando a reta final da campanha eleitoral se estreita no tema da emigração em troante crescendo de tons étnicos. Também por isso é recomendável a ida aos jardins de Chelsea, os quais nem a I World War cerrou. Na era do genoma, a raça é pobríssimo argumento político. — Dear, dear me! A swallow doesn't make the summer! Amanhã é dia de ballot box. Sahelizado o centro, o sistema de Westminster testa os extremos.
A aprazível proposta primaveril da inspiradora Royal Horticultural Society soa ainda mais irrecusável em plena temporada de caça ao voto. A exposição tem sempre muito para observar, mas nesta edição há notas de interesse maior. Uma é a homenagem aos combatentes da Great War, com o espaço floral do Birmingham City Council a reproduzir ao vivo uma trincheira; e a segunda é a presença da Tibetan Blue Poppy, a meconopsis dos Himalayans, cuja cor contrasta com as abundantes papaver rhoeas vermelhas que beberam o sangue de 600.000 dos nove milhões mortos nos campos bélicos da Flandres. A por cá raridade suscita, algures, curiosa interrogação numa exibição destinada a proporcionar direta experiência com o mundo das sensações. Quantas tonalidades tem o azul? Cor conservadora, por definição, anda agora a revelar alta volatilidade na paleta partidária, um pouco como o mar, luminoso à tona e escuro nas profundezas. Acresce o interesse da localização do evento perto do Thames. Bairro de escritores, afluentes por sinal, como Mrs George Elliot ou Mr Henry James, além de residência eterna de Mr Thomas Carlyle, The Sage of Chelsea, o Flower Show apresenta-se desde 1905 no perímetro do Royal Hospital e é uma das causas de os Edwardians at war tomarem como etiqueta o arranjo floral na mesa e o jardim na casa.
O contraponto ao debate eleitoral é bem vindo. Após tantas profecias de um terramoto popular nas eleições europeias, que as locais são assunto estritamente das comunidades, aumenta o grau de curiosidade em torno dos resultados finais. Os otimistas acham que nada de essencial mudará. Ainda assim, recrudesce o ruído em torno das propostas isolacionistas do Independent Party de Mr Nigel Farage. Sinais abundam de talvez a indiferença escoltar também gélida abstenção. Frau Angela Merkel informou até o eleitorado de estar a sua chancelaria em Berlin a cuidar dos arranjos florais nas instituições europeias.
Por cá roda ainda caseira controvérsia que denota quanto a vida política dispensa hoje a memória e o entendimento, abreviada no aventureirismo da vontade. Ontem com Mrs Hilary Clinton em público e hoje com HR Prince Charles of Wales em privado, surgem expressões de desconforto face a ambos recordarem a similitude histórica de atos e argumentos no expansionismo de Herr Adolph Hitler nos 30s e Mr Vladimir Putin na Crimea. A diplomacia possui subtilezas e escusa aquilo que RH Harold Nicolson designa de "a misconception of human nature", mas não dispensa os valores. Assim, aliás, se escolhem votos e trincheiras. No alerta ao West do mestre: — The gap which has been created between reality and unreality constitutes a serious menace!
St James, 20th May
Very sincerely yours,
V