ENSINO DO TEATRO EM PORTUGAL 5 – ALVARO BENAMOR OU O ENSINO DO PROFISSINALISMO
Em 1959, Álvaro Benamor é nomeado professor da cadeira de Arte de Representar e Encenação no Conservatório Nacional. Desde o ano anterior, frequentava eu, como aluno-ouvinte, as aulas até então ministradas por Fernando Amado, titular da cadeira de Estética Teatral, mas acumulando as duas disciplinas desde a aposentação de Samuel Dinis: na semana passada evoquei essa experiencia, que tanto contribuiu para aminha cultura teatral.
A nomeação de Álvaro Benamor revelou-se entretanto totalmente adequada na dimensão do exercício profissional, que Benamor prosseguia, com ator e encenador, desde 1928. Mesmo para um aluno - ouvinte, que não desejava seguir a carreira mas se iniciava então em trabalhos de crítica e de investigação na História do Teatro Português, a assistência às aulas de Benamor revelou os aspetos da representação e da encenação, na perspetiva da formação e do desempenho da profissão de ator.
Nesse aspeto, Benamor revelou-se um professor de grande qualidade. Vinha credenciado com uma carreira exigente no teatro declamado mas também no teatro radiofónico e, à época, nas primícias da televisão, que ia para o ar, recorde-se, em direto, o que exigia dos elencos um rigor exponencial. E Benamor, para além do seu talento e técnica, revelava-se, em cada espetáculo e em cada aula, um homem de cultura, de técnica de cena, e também um verdadeiro pedagogo
Uma excelente carreira como ator ao longo de dezenas de anos implica obviamente repertório à altura. É de notar, aliás, que o último espetáculo profissional de Benamor terá sido A Dança da Morte de Strindberg na Casa da Comédia, dirigido por Jorge Listopad. Na época escrevi que “Álvaro Benamor conseguiu por forma magistral comunicar o progressivo compromisso moral de Kurt, a sua psicologia algo fraca e hesitante”. E ao longo dos anos 60, destacam-se espetáculos e interpretações relevantes num repertório que incluiu designadamente Colette, Graham Greene, Eduardo de Filipo, Kleist, Shakespeare, Sheridan, Gogol…
Mas também no Trindade, Álvaro Benamor surge como encenador na Companhia Portuguesa de Ópera, com um repertório que deu devido destaque a óperas portuguesas – Serrana de Alfredo Keil, A Vingança da Cigana de Leal Moreira, A Condessa Caprichosa de Marcos Portugal – além do grande repertório operístico, que, na época, estava concentrado no Teatro de São Carlos e, com mais público em cada espetáculo mas menos espetáculos, no Coliseu.
Isto passava-se na atividade profissional. Porque no Conservatório, Álvaro Benamor selecionava, para os alunos, um repertório clássico português, a partir de Gil Vicente, percorrendo dos clássicos aos contemporâneos, e dando assim uma complementação das cadeiras teóricas, desde a História da Literatura Dramática à Filosofia do Teatro…
Mas dessas falarei a seguir.
DUARTE IVO CRUZ