As irmãs Brontë
O fascínio e o mistério envolvendo as irmãs Charlotte, Emily e Anne veio a desenvolver o chamado mundo Brontëano que nasce e logo se expõe nos tempos da rainha Vitória em Inglaterra.
Estas irmãs conseguiram a notoriedade no universo literário de então, não obstante serem mulheres e mulheres de vidas tremendamente sofridas. Entendem utilizar nomes masculinos nas suas obras literárias, pois receavam que o preconceito contra as mulheres escritoras, as vencesse numa luta tão profundamente desigual que coragem não bastasse.
Muitos rios de tinta correram já sobre a vida e obra destas irmãs, filhas de um austero reverendo inglês. Na verdade, a despeito da rígida educação que receberam , exploraram estas irmãs, áreas do amor/paixão, da sombria natureza humana, como se tivessem habitado uma vida de convívio com a percepção das realidades em liberdade, e não confinadas à pequena casa que habitavam e que se abria para o cemitério do lugar.
Na escrita das irmãs Brontë existe uma clara luta contra impossibilidades, luta que passa pelo físico e pela linguagem que escolhem para clarificar a consciência encontrada, e o desejo de a partilhar através da inteligência e da emoção.
Principalmente conhecidas pelos seus romances como é o caso do livro de Emily “O Monte dos Vendavais”, ou o “The Tenent of Wildfell Hall” de Anne, ou ainda “Jane Eyre” de Charlotte, escreveram também poesia.
Foi pela chancela da Relógio D’Água, no corrente mês, e pela tradução de Ana Maria Chaves, que me chegou às mãos os “ Poemas Escolhidos das Irmãs Brontë”.
Tento a sugestão de os atravessar num comum verso, mas tão distinto poema, que, o índice de procurar estas irmãs pela poesia constitua também um desafio.
Às vezes penso que um coração apertado
Me faz assim chorar quem está ausente,
E mantém o meu amor tão arredado
Dos amigos e amizades do presente;
Às vezes penso que é só um sonho.
(…)E a Paciência, do jugo já cansada,
Rende-se ao desespero,
A Vida acabará e eu não vivi;
Onde está a minha juventude?
Trabalhei, estudei, ansiei, sofri,
Todo esse tempo de plenitude.
Ao encontro de Charlotte e por outro caminho Emely responderia:
Estava em paz, e vossos raios bebia,
Eles, que eram vida para mim;
E em sonhos inconstantes eu me comprazia,
Como o calca-mares no mar sem fim.
Ideias e estrelas, uma a uma,
(…) Enquanto vindas de parte nenhuma
(…) E por entre os olhos fechados.
E Anne continuaria o diálogo solitário nas mãos destas palavras:
God! If this is indeed be all
That life can show to me ;
(…) While I go wandering on
(…) From earth, and air, and sky
(…) As in the days of infancy
Sweet Memory! Ever smile on me.
Pode a infância ter tanta glória?/Ou será prodígio da Memória/Que o passado vem dourar?/
Nem tudo é divino; os seus reveses/(Embora de pouca dura tantas vezes)
Custam mesmo assim a suportar.
Teresa Vieira
Abril 2014