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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O ENSINO DO TEATRO EM PORTUGAL 6 – GINO SAVIOTTI, DA TEORIA À PRÁTICA TEATRAL

 

 

Neste conjunto de evocações da minha passagem e formação teórica no Conservatório Nacional é altura de recordar as aulas de Gino Saviotti na cadeira de Filosofia do Teatro, e lembrar a sua atuação e criação no meio teatral português da época, através designadamente da Companhia de Teatro de Sempre, que dirigiu no Teatro Avenida, precisamente na temporada a de 1958-1959: e foi nesse anos letivo que me matriculei na Faculdade de Direito e no Conservatório Nacional, aqui, mais uma vez o refiro, como aluno - ouvinte nas cadeiras de Arte de Representar e Encenação e de Filosofia do Teatro, esta, como já escrevi, ministrada por Saviotti.

 

Refiro pois nesta evocação, simultaneamente a docência no Conservatório e a docência, digamos assim, na arte do espetáculo, através da Companhia e do repertório selecionado. E até posso começar por aí, pois deveu-se a Saviotti a estreia em cena de peças fundamentais da moderna dramaturgia.

 

Cito duas: “O Gebo e a Sombra”, de Raul Brandão, e as “Seis Personagens à Procura de Autor” de Pirandello. E repare-se que foi preciso esperar pelos finais da década de 50 para que estes dois textos, relevantíssimos numa linha de renovação do teatro português e do teatro europeu, subissem à cena em Portugal, aliás primorosamente encenados e representados por uma companhia em que se destacavam os então jovens Carmen Dolores e Rogério Paulo.

 

Mas a presença inovadora de Saviotti no teatro português vinha de traz. Na qualidade de diretor do Instituto Italiano de Cultura, ainda hoje situado na Rua do Salitre, fundou e dirigiu, em 1946, com Luís Francisco Rebello e Vasco Mendonça Alves, o Teatro Estúdio do Salitre, companhia iniciática do experimentalismo no teatro português, onde aliás Rebello se estreou como dramaturgo, com “O Mundo Começou às 5 e 47”, e onde, até 1950, seriam representados dramaturgos da relevância e projeção de Almada, David Mourão Ferreira, Branquinho da Fonseca…

 

Cito Luís Francisco Rebello: apesar de “uma certa ambiguidade (…) em grande parte devido ao heterogéneo repertório apresentado nos cinco anos em que a sua atividade durou, (…) não há dúvida de que ao Salitre se ficou a dever a primeira tentativa meditada e consequente de atualização do teatro português, além da revelação de novos autores e atores” (in “Breve História do Teatro Português” pag.140).

 

Não falo aqui nas peças da autoria de Gino Saviotti, numa carreira de dramaturgo iniciada em 1929 “(Il Buon Silvestre”)   e de romancista e de teórico da história e da estética do teatro,  nesta área  com numerosos textos  relevantes editados em Portugal: mas recordo, isso sim, o interesse das suas aulas de Filosofia do Teatro, que valorizavam a Escola e para mim constituíram uma extraordinária iniciação  cultural e cientifica à teoria e à  pratica teatral.

 

As aulas constituíam uma interessantíssima iniciação à estética do texto e do espetáculo, dentro de uma visão também de evolução histórica: e passava-se em revista o que ia ocorrendo no teatro, em Portugal e não só,  com um sentido critico e didático que ainda hoje me apraz recordar.  

 

DUARTE IVO CRUZ