A força do ato criador
O minimalismo expressivo de Eva Hesse
Eva Hesse (1936-1970) move-se entre dois mundos, trabalha com transições. O trabalho de Eva Hesse estabelece-se de algum modo a partir do minimalismo mas densifica-o– utiliza noções de ordem serial, repetição modular, tirando partido de grelhas e tramas. As suas formas não são universais, apesar de puras são antes únicas porque têm acentuada ligação à sua vida. Eva Hesse associa assim profundidade à arte minimal, acreditando que o artista e o objecto criado coincidem (artista=objecto) – como resultado da ideia que se persegue.
O trabalho de Eva Hesse no final dos anos sessenta desenvolve-se a partir das seguintes contradições: universal versus individual; geometria versus imprevisível; racionalidade versus sentimento; estático versus mutável; mecânico versus manual; preconcebido versus acaso e intuição; objecto final versus processo. E é necessário mencionar que Eva Hesse estudou com Josef Albers (1888-1976)- que considera o rectângulo uma disciplina, uma estrutura rígida, uma autoridade moderna e que tudo o que se produz não deve dar visibilidade a um facto mental, mas sim a uma situação espacial.
Porém é importante para Eva Hesse caminhar mais além do racionalismo extremo da abstracção geométrica e isso consegue-se através de uma produção mais sensível e participada, associando o corpo e o espírito aos objectos criados. Hesse faz uso da ideia de estandardização mas os objectos que produz não são iguais, são antes únicos pois o acaso representa um papel muito relevante. A sua verdadeira preocupação é criar objectos com algo dentro, com significado profundo. E pretende a procura de uma matéria que associe vida às formas abstractas, para que as formas directas e elementares sejam mais expressivas. O seu trabalho é sinal de vida – acto subjectivo com grande significado pessoal. Forma e vida identificam-se.
Eva Hesse faz um esforço para abrir o trabalho ao desconhecido, utilizando os objectos que produz como instrumento de procura, com a ideia de estender para fora alguma coisa que ainda não existe e que ainda não é real, uma espécie de acumulação, de construção de experiências e de memórias. Hesse faz objectos sensíveis de valor expressivo elevado. Os objectos criados são vindos do interior muito mais próximos da introspecção e de experiências interiores. Os seus objectos são extensão do seu ser.
A arte minimal ao estabelecer-se só forma e cor conduz à negação de qualquer tipo de convicções, de qualquer tipo de subjectividade. Os cubos de Sol LeWitt que fazem parte da exposição ‘46 Three-part Variations on Three Different Kinds of Cubes’, são um exemplo do minimalismo. Eva Hesse também trabalha a partir do cubo porém abre-o, introduz 4,500 furos e em cada buraco infiltra fibra de vidro - assim vida sai pelas formas regulares. Eva Hesse não baseia o seu trabalho só na composição, na forma, no material, na dimensão, na escala e na posição. E para que tal seja possível, produzir uma forma expressiva, o sujeito e o objecto têm de estar muito próximos. O objecto deve ser uma imagem objectiva da realidade interna do sujeito que cria.
‘Hang Up’ (1966) é um exemplo concreto da vontade de Eva Hesse em transcender o suporte geométrico e bidimentsional da pintura. Eva Hesse considera ‘Hang Up’ a sua peça mais absurda, surreal e estranha, reflexo da sua vida e da sua experiência.
Eva Hesse acerca de ‘Hang Up’ afirma: ‘I think it was the most important statement I made. It was the first time where my idea of absurdity or extreme feeling came through. It is the most ridiculous structure I have ever made and that is why it is really good.’
Com este objeto, Eva Hesse parece criar estruturas para a sua vida. Como peça ideia é uma peça primitiva, básica que expõe a ossatura de uma construção e apresenta profundidade material e de sentido. Eva Hesse afirma ainda :‘..it is a kind of depth or soul or absurdity or life or meaning or feeling or intellect that I want to get…’
O seu trabalho tem então um significado muito pessoal que estabelece unidade entre o fazer, o pensar e o sentir. Experiências de vida estão sempre incluídas no acto de produzir os seus objectos.
Ana Ruepp