«... julgo que a poesia tem, também, a obrigação de palpar o mundo, de estar atenta aos sintomas e ajudar ao diagnóstico.» — Joaquim Pessoa
Com a idade em que outrora os poetas morriam e que, hoje, apenas garante uma carta de residência provisória para a cidade da poesia, Joaquim Pessoa não precisa porém de ser apresentado ao seu público. Autor de muitos livros de poemas, premiados, esgotados, o mais novo Pessoa da literatura portuguesa dispensa-se perfeitamente de qualquer introdução. A poesia é que não… (…)Em terras de Portugal, onde a poesia surge espontaneamente da rocha e da areia como da gleba
Assim a introdução crítica de Roxana Eminescu ao livro “O Amor Infinito” – prémio de Literatura – António Nobre – 1982 – de Joaquim Pessoa na Círculo de Poesia , Moraes Editores 1983.
A luminosidade da escrita de Joaquim Pessoa também é patente na arte deste poeta que nos seus quadros dava cor a poemas como este:
«Um mundo de palavras. Língua
que lambe o universo para espanto
da imobilidade das estrelas»
Entendemos “O Amor Infinito” como uma ruptura de clássicos paradigmas. A morte já não é gelo nem dor, mas luz da manhã por companhia, realçando mais a injustiça feita ao mortal e que o leva a que, por essa razão, não há que morrer calado, antes
A palavra justa clama pela água
ao contrário da morte que o céu não sossega
e
dói-te o dia no rosto
numa expressão que se identifica com a efemeridade do Tudo:
Tu és tudo o que morre
(…) A morte é herdeira única do corpo.
A razão, apenas, um artigo do vento.
Este livro também nos faz a proposta de escolhermos sozinhos os sítios do descanso onde se imortalize o coração no ter/haver que ser tudo de outras maneiras. Existe, diga-se uma originalidade de ideias e de valores filosóficos inerentes, num meta-discurso , cuja caducidade entende por natural: ou sugere que se entenda tão só como sede saciada.
Existe, na sua escrita, muito do poeta danado por tão profunda dilaceração até à chegada do caminho-luz. Existe a esplendorosa e trágica manhã que borda as camisas (…) e o esquecimento que é tão leve como a seda que cobre o motor da borboleta.
E depois "Vou-me Embora de Mim" um outro livro, do qual diz Maria Lúcia Lepecki afirma que o poeta se dá a conhecer o antes e o que vê estar sendo agora.
E nas palavras de Eduardo Lourenço:
o poeta é o cronista dos mitos, bem como a ideia de que, em Portugal, o pensamento filosófico mais genuíno é o que se encontra na escrita dos poetas.
Claramente nos surge desta escrita de Joaquim Pessoa um comprometimento social e politico assumido como movimento de revelação dos sentidos. E afirma sabendo que tudo faz parte do tudo
O que faço nas artes plásticas é também um acto poético. Julgo ter uma plasticidade muito ligada à poesia, sinto-as como irmãs
Vemos também Joaquim Pessoa como um crente que se ignora. Pensa com o sentimento e com ele cria gamas de cores não aéreas, que projecta na sua pintura:
Com braços de luz e de paz, e de água queimada.
M. Teresa Bracinha Vieira
Julho 2014