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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

The Economist Building

The Economist Building

'Tomorrow will inherit only space.', Peter Smithson

 

Em 1959, Alison e Peter Smithson começaram a desenhar o quarteirão destinado à sede da revista The Economist, em Piccadilly, Londres. The Economist Building preconiza relações formais claras com a envolvente e oferece ao lugar o poder do análogo. Indica categorias carregadas de sentido circunstancial, histórico e racional.

 

O seu efeito urbano deve-se ao projecto de Berlim-Haupstadt, onde os percursos existem distintos, a níveis e hierarquias diferentes, criando redes de conexão. The Economist Building concretiza a ideia da cidade constituída por camadas de utilização diversa – entende-se aqui por camada o diferente nível criado entre a rua e a praça e entre o espaço novo e o espaço original. O quarteirão do The Economist Building, aberto e atravessável foi pensado para estar livre de actividades específicas e a sua identidade mudar de acordo com o tempo, estação e emoções.

 

Por esta altura, os Smithson desejavam pôr de novo em prática as características das ruas estreitas e das praças de reduzida dimensão, tomando como referência as situadas na envolvente do quarteirão. Os Smithson acreditam que 'Roads are also places' porque o carácter que uma rua (e todo o espaço público) adquire na identidade de um território é muito importante. A rua é interacção, transição, intensidade, velocidade e estrutura basilar de uma comunidade.

 

A praça pedestre do Economist Building é definida irregularmente por três torres de alturas diversas, de cantos chanfrados e programas distintos. A solução encontrada constitui-se num conjunto de diferentes escalas urbanas: o banco, a torre do The Economist e o edifício residencial. Para conseguir construir um lugar, os Smithson focalizam muita atenção na materialização exterior dos blocos, e assim obter uma composição formal una em pedra Portland. Com esta escolha atendem à natureza da envolvente em questão – os Smithson preferem ligar e relacionar e não confrontar. No The Economist Building percebem-se as diferentes escalas de integração do edifício através de opções formais e compositivas – para a rua mais movimentada, St James Street, lêem-se vãos mais generosos; a dimensão dos vãos que definem os blocos mais reservados, da Bury Street é mais contida. Retomando também o tema das arcadas, aproxima-se o espaço público do espaço privado e interpreta-se um dos cinco pontos do vocabulário corbusiano: os pilotis.

 

'If a building or an element of city is to give intellectual access to its occupants, access to their affections and their skills, access to their sensibilities, the fabric must have special formal characteristics.', Peter Smithson

 

The Economist Building nasce dos padrões da vida quotidiana e tenta ser objectivo acerca de uma realidade, com propósitos sociais, culturais e técnicos precisos. Revela-se pelo interesse do banal. O edifício desenvolve-se de acordo com padrões de associação, com formas reconhecidas que geram pertença e identidade. Com The Economist Building os Smithson trazem o 'feeling for life for everyday things'. A praça é pedestre, plataforma urbana, elevada, de carácter mais reservado, protegendo o interior dos blocos. Aí o Homem desenvolve as suas capacidades, exprime-se, relaciona-se e evolui – com a ideia de criar vazios na cidade, espaços de transição, os Smithson dão oportunidade para o espaço se encontrar a si próprio de acordo com as sucessivas necessidades do homem que o utiliza.

 

Assim, os Smithson desenvolvem a ideia de que o valor de um espaço vazio vais-se definindo e adquirindo com o tempo e de acordo com um processo de apropriação. Os Smithson esforçam-se por responder a condições reais - 'Life occurs in the emptiness...Providing space for people to live' (Peter Smithson, 2001). Concretiza-se a procura pelo uso livre dos esquemas urbanos, através da possibilidade de se abrir a obra a diversas interpretações e significados – à ambiguidade. Estas ideias, de padrões de associação e de identidade, já se haviam fixado no projecto de Bethnal Green em 1956, com Nigel Henderson. Os Smithson procuram não pela cidade do anonimato mas sim pela cidade comunitária que todos partilham ao circular.


'...a built domain where our everyday life will seem heroic', Peter Smithson, 1954


The Economist Building tornou-se objecto ícone da arquitectura de Alison e Peter Smithson, assim como a escola  de Hunstanton e o edifício Robin Hood Gardens – 'The Economist Building their triumphant realization... The finest work of the Smithsons.' (Frampton, 2003)


Os Smithson interessam-se pelo impacto da utilização que o homem associa a um espaço porque é preciso criar lugares de apropriação, para que exista um dialogo entre o homem, o edifício, a rua, o bairro e a cidade.


E o The Economist Building consegue ser exemplar neste sentido, retirar-se do plano meramente intelectual e afirmar-se ao ser compreendido por todos.  Investe na exploração do tema do 'espaço que fica entre', na admiração pelo espaço vazio, pelos buracos que se abrem na cidade que ligam e que revelam a vida – 'The emptiness I'm talking about should not need a specialized audience...Is it right to have so much? Can we get quality out of almost nothing?' (Peter Smithson, 2001). Deste modo, The Economist Building cria um lugar óbvio para o homem simplesmente ser.


Ana Ruepp