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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS


A Midsummer nightmare (1)


A Midsummer nightmare
, 2014

 

A Midsummer nightmare (2)

Diabo, diabinho, diabrete; devil, elfin, goblin – three of a kind. Tal qual. Six-six-six, já está! Uma armadilha perfeita. O assalto é prepretado à luz do dia, em luzidio mercantino, à vista de todos e sem alguém travar estes artistas de viver à custa do alheio. Os meliantes sacaram-me a bolsa, com as notas, chaves de casa e tudo o mais! — Oh, mon Dieu de l’apathie! Dimensão divertida no evento é o montante monetário ser ridiculamente baixo para o aparato da tríade que a polícia diz a atuar há algum tempo nas redondezas. Hmm! When the going gets tough, the tough get going. O regresso à pleasant land suaviza os cantos das emoções. Whitehall vive a smart season. O Scottish referendum entra no prime time televisivo com duelo entre Mr Alex Salmond/Nationalist e Mr Alistair Darling /Unionist a dar vantagem ao Better together e celebridades como Dame Judi Dench ou Sir David Attenborough a apelarem publicamente aos eleitores que votem não à independência a 2014 September 18. Também o anúncio da candidatura parlamentar do Mayor de London gera um tufão de expetativas quanto a uma provável candidatura de Mr Boris Johnson à liderança dos Tories na era pós David Cameron. De férias em Portugal, o Prime Minister fala com o US President Barack Obama sobre o perigo crescente na Ukraine, Syrya e Irak. Na dolce vita europeia, o motor económico germânico desacelera.

A stormy weather, hoje, com heavy rains e mesmo flash floods em Lincolnshire e até no Kent. O ar lavado espraia a perturbação da surtida no sad weekend. É garantido: os cleptocratas são indivíduos desagradáveis. Tudo já surge em sépia azulada. Rostos, gestos, os sorrisos brancos em volta, a shop talk, mas já as roupas se esbatem e a pergunta persiste: — Where did they come from? Revisitadas as circunstâncias, frame a frame, invoco os detectives of the house. Mrs Agatha Christie sugere a vinda da arguta Miss Jane Marple de St Mary Mead e o meu olhar desesperado de vítima do crime no mercado fá-la ainda apresentar a lustrosa e oval cabeça de Monsieur Hercule Poirot. — «Merely a suggestion.» Invocando expertise em gangs da high finance avança agora P.G., perdão… Sir Pelham Grenville Wodehouse, nenhum outro senão o mestre retratista de Mr Geoffrey Windlebird quando o great financier is about to meet his Waterloo. O ilustre autor de The episode of the financial Napoleon contrapõe maior valia nos serviços de Mr Horace Appleby, um competente mordomo que salva um banco insolvente — assaltando-o. O método é eficaz, assegura-me ele. — «Clean slate; tabula rasa chance!!!» O diálogo dos mestres diz tanto quanto omite. Apontam Cinquevalli e frutíferas operações com apaziguamento de irritados shareholders com a eventual dádiva de preference shares (interest guaranteed). Identificam inclusive o leque das estratégias de manipulação mediática: gradação, distração, informação irrelevante… create a mousetrap. Eleva-se a voz autorizada de Mrs Mary Roberts Rinehart — «Simply one of those mysterious crimes that keep our newspapers and private detective agencies happy and prosperous. The butler dit it».

 

A Midsummer nightmare (3)

 

A Midsummer nightmare (4)

A convenção do whodunit situa a malfeitoria em cenário adequado. Pela ressonância algures entre Messer Nicollò M. e Mister Edmund B. visiono o Mercantino delle Pulci, na Piazza dei Ciompi, coração de Firenze, paredes meias com a Loggia del Pesce e o casco histórico de Santa Croce. Sabeis do ambiente colorido. Velharias, fancaria, muitas antiqualhas falsificadas sem valor correspondente. O espírito feudal das elites naturais travestido de peculiar all in the family. Aqui todo o cuidado é pouco. Larapiam a comida, o prato, os talheres mais a mesa e ainda as cadeiras. Do meu dinheiro, nem rasto. Delete enter; start over. Quanto às tesouras para cortar tais unhas, o problema mesmo é how to catch a good butler in nowadays. Com o filme nas telas dos cineteatros em volta, pelo menos, o cartaz é apelativo. — Who done it? The butler did it. But when did the butler ever do it? I have never heard of the butler actually having done it. Was the butler framed?! 

O captain! My captain! Mr Robins McLaurin Williams partiu hoje, atravessando o oceano da eternidade para entrar sob aplauso na Dead Poets Society (Peter Weir, 1989) Chegada a barcaça, bem longe do mundano tumulto, aqui poderá conversar sobre poetry and life com Mr. Walt Whitman. — RIP, dear Mr Williams.

 

St James, 12th August

Very sincerely yours,

V.

TEMPO DE FÉRIAS…

TEMPO DE FÉRIAS… HENRIQUE POUSÃO E AS CASAS BRANCAS

 

HENRIQUE POUSÃO E AS CASAS BRANCAS…

 

Como poderíamos falar do Verão sem ir até ao jovem Henrique Pousão, promessa maior da nossa história da arte, levado prematuramente pela doença da época?…

E que é o Verão? Não é outra coisa senão a promessa realizada do tempo consumado, em que se colhem e se debulham os cereais, em que a natureza explode e em que o calor e a luz se projetam nas planícies e no mar cor de cobalto. Poderia ser em qualquer dos lugares do nosso Mediterrâneo. Sim, porque Orlando Ribeiro foi perentório a dizer que nós somos uma partilha entre o Atlântico e o Mediterrâneo. Mas só a sensibilidade de um pintor português como Henrique Pousão (1859-1884) poderia fazer-nos sentir tão nós próprios perante estas casas brancas, a cal dá vida à luz, estes catos, a mulher que olha este mar ao fundo.

Sabemos que foi em Capri nesse ano distante de 1882, mas poderia ser hoje, agora mesmo. Nada há que não nos seja familiar neste lugar e neste tempo. Não foi por acaso que Pousão se sentiu atraído por esta paisagem, tendo-a interpretado magnificamente.

Pablo Neruda também se deixou apaixonar:
  Capri, Reina de Roca 
  En tu vestido de color amaranto y azucena 
  Vivi desarrollando 
  La dicha y el dolor la viña llena 
  De radiantes racimos
  Que conquiste en la terra

É um tempo de paixões que aqui surge retratado, sentido, libertado, fecundo… Não pode ser esquecido o muito jovem pintor. Leia-se o que Bernardo Pinto de Almeida disse da força artística de Pousão, da sua capacidade de interpretar, de dizer e de amar…  Ficamos aqui, serenamente, perante estas casas brancas, como se o tempo pudesse parar.

 

CNC