Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Sobre Rafael, poderíamos recordar o seu inconfundível «Álbum das Glórias», poderíamos ir à cerâmica com Maria Paciência ou à caricatura de «António Maria» ou da «Paródia», mas preferimos o nosso querido e adorado Zé Povinho, deitado a dormir sobre uma albarda de asno. Nas suas costas está toda a nossa História, representada no rol dos nossos monarcas… Até um elefante aí se encontra a recordar o Venturoso… O desenho é delicioso, e nós, representados pelo Zé, descansamos… Dormimos? E o genial desenhador, admirado humorista lembra-nos que «ridendo, castigat mores», perguntando apenas aquilo que só nós temos para responder, com vontade e determinação e não com sono e indiferença: «Levantar-se-á?». Suponho que ninguém deseja ou pensa noutra resposta senão, um rotundo sim. E neste tempo de férias somos levados a dizer que pela determinação, pela criatividade e pela vontade é que vamos. Zé Povinho tem-se levantado sempre. Não fora isso, não teríamos novecentos anos!
Data de 1888 a inauguração do então chamado Teatro da Avenida e esta designação reflete a própria cronologia urbana, digamos assim: o teatro, inaugurado com uma comédia, constituiu o primeira edifício referencial de cultura, na recentíssima Avenida da Liberdade, que se ia construindo a partir da destruição do Passeio Publico, dois anos antes. Mas esta circunstância acabou por não valorizar nem o edifício, nem a sua atividade cultural, sem embargo de época de maior destaque ou qualidade. O Teatro Avenida duraria até 1967: em 13 de Dezembro, um incendio deixou-o inoperacional, não obstante ter sobrevivido grande parte da estrutura da sala. Seria demolido a partir de 1970. Era uma sala modesta, mas com a dupla qualidade da localização e da própria estrutura à italiana, com duas ordens de camarotes. A exploração e a intervenção cultural, digamos assim, foi sempre irregular: de tal forma que, em rigor, é em meados do seculo XX que o Avenida alcançou um nível de maior destaque. Já aqui tive ocasião de referir um desses bons momentos de atividade artística. Com efeito, no Avenida funcionou, no final dos anos 50 do seculo passado, a chamada Nova Companhia do Teatro de Sempre, dirigida por Gino Saviotti, professor do Conservatório e co-fundador, em 1946,com Luis Francisco Rebello e Vasco de Mendonça Alves, do Teatro Estúdio do Salitre, a funcionar no Instituto Italiano de Cultura, de que Saviotti era diretor. E cerca de 10 anos depois, , Saviotti dirige, no Avenida , o Teatro de Sempre, com um repertório de grande qualidade: Goldoni, Pirandello, Raul Brandão… sendo de assinalar em especial, a estreia em Portugal de “O Gebo e a Sombra”, de Brandão e de “Seis Personagens à Procura de Autor” de Pirandello, peças referenciais da literatura dramática, antes nunca representadas em Portugal. Mas em 1964, o Avenida assumiu novamente uma relevância cultural que constituiria aliás a sua derradeira fase de atividade – e que terminaria da pior maneira. Com efeito, foi no Avenida que se instalou a Companhia do Teatro Nacional, dirigida por Amélia Rey Colaço, na sequência do incendio que, naquele mesmo ano, destruiu o D. Maria II. E tal como recorda Marina Tavares Dias, “desalojada a Companhia Rey Colaço Robles Monteiro, o empresário Vasco Morgado pôs o Avenida á disposição do Ministério da Educação para que ela para ali transitasse.” (in “Lisboa Desaparecida” vol. 2 )
Fazem-se obras e o Teatro reabre em Fevereiro de 1965. A companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro ali se mantem, com o estatuto de Teatro Nacional, até ao inicio da temporada de 67/68… E eis que, em 13 de Dezembro de 67, arde o Avenida! Não seria reconstruído.