LONDON LETTERS
Cedo na noite dos séculos avisa Marcus Tullius Cicero que elites corruptas arruinam um país. E a história demonstra que faz pior: algures o cesarismo quebrado devora a própria soberania que o alicerça e lhes empresta razão de ser. Daí o estadista romano defender que os guardiões da cidade e dos seus essenciais valores sejam "people of great courage, great ability, and great resolve." — Chérie, les bons comptes font les vrais bons amis! O preço de governantes medíocres é tremendo na vida dos povos. Mais ainda, quando as trapalhices na high finance somam danos colaterais sem que alguém lhes trave a mão. Já o European Central Bank e o Signori Mario Draghi lançam pacote de estímulos para avivar a economia da Eurozone. Os bons samaritanos da ortodoxia silenciam-se. — Hmm. Love all, but trust a few! Wales acolhe um decisivo NATO Summit após a Cold War e agenda decisões para responder à tempestade de ameaças que se avoluma desde as fronteiras na Eastern Europe ao berço mesopotâmico da Lybia, Syria e Irak. Entre Mr Vladimir Putin e o Isis, o US President Barack Obama por cá passeia na serenidade mística de Stonehenge. O PM hesita na retórica securitária. A Generation Yes Scotland testa os laços comuns e ouve o stay with us de Mr Ed Miliband A bad finance volta a atacar.
Misty skyes and sudden showers within mild weather. Westminster vive dias febris em hot new political season. Algo gelado anda no ar. O Leader of HM Opposition tenta persuadir os Scotties a votarem sim ao UK com mensagem que diz tudo sobre o atual humor do eleitorado: — ‘Labour will win next year.’ Suportam os highlanders aguardar pela mudança da orientação política geral? O referendo de September 18 sufragará fatores aquém do valor da nação, como a distribuição dos custos das austerity policies ‒ percebida pelo comum como útil, mas desigual, arbitrária e classista. O separatismo veleja à bolina desde que a welfare state card separa águas no debate, com os laboristas e Mr Gordon Brown a remarem quase isolados contra a maré. Mr Nick Clegg anda desaparecido neste combate e Mr David Cameron atende a NATO’s pivotal Summit em Newport, indo depois ao Balmoral. O silêncio esmaga nas fileiras nacionais dos Lib Dem e Conservatives. À memória vêm os quietos prelúdios de Tories’ civil wars. Mesmo a cimeira galesa alerta para o preço da não paz global. O recado interno dos militares às chancelarias no West é claríssimo para as opções orçamentais na defesa: — “The cuts must stop.” O alarme de Mr Anders Rasmussen une-se a quantos observam a infeliz experiência social de um colossal falhanço político. Se, nas suas várias tonalidades, a austerity failed in Europe, as suas faturas ainda continuam a ser emitidas. Nestas, among bully and humorous meets, está a radicalização violenta dos jovens empurrados para fora das escolas e das empresas. E não apenas os islamizados. So, ladies and gentlemen, save the Union.
As coisas não andam globalmente bem, segundo tese caseira, desde que o fim de semana deixou de contemplar o domingo como dia santo e o sábado como meia jorna do trabalhador inglês, para se converter numa celebração 7x7 para credos monetários a deuses dos mercados. Nem aprofundo os detalhes do mais recente movimento bancário que, alheio a decente noção de propriedade, acaba de engolir depósitos cautamente entregues a uma destas novíssimas entidades: os valores sumiram de um dia para o outro, substituídos por magnânima nota ‘n.d.’ No livro The Shifts and the Shocks (Allen Lane, 2014) assinala Mr Martin Wolf que "financial crises do more than impose huge costs: they have bigger and more insidious effects. Inevitably, such crises help undermine belief that a globalising economy is of benefit to the vast majority of people. They make people anxious and angry and rightly so. Angry and anxious people are not open to the world. They want to hide in their caves, together with similarly angry people. Equally inevitably, crises undermine confidence in the elites. In democratic societies, a tacit bargain exists between elites and the rest of society. The latter say to the former: we will accept your power, prestige and prosperity, but only if we prosper too. A huge crisis dissolves that bargain."
John Le Carré regressa aos écrans em Central London com o ido Mr Philip Seymour Hoffman num dos últimos papéis e Mr Willem Dafoe como banqueiro às voltas com laundered money. A most wanted man é uma película do diretor Mr Anton Corbijn que retoma os espionage thrillers na senda da Smiley's People e do memorável Tinker, Tailor, Soldier, Spy, em ambiência de indefinidas cruzadas geopolíticas mas sob segura jura de “brilliantly twists and turns.” — Dear, dear. Trust no one. Suspect everyone.
St James, 9th September
Very sincerely yours,
V.
P.S. — Latest, from YouGov polls. Os quatro grandes grupos da Scottish society on the move: (1) Labour voters, de 18% no ‘Yes’ há quatro semanas para os atuais 35%; (2) Voters under 40, de 39% para 60%; (3) Working class voters, de 41% para 56%; e (4) Women voters, de 33% para 47%.