OS MAIS ANTIGOS TEATROS DE LISBOA - VIII
OS SUCESSIVOS EDEN - TEATRO E CINEMA
O historial do espaço urbano e do edifício que resta nos Restauradores, hoje transformado em hotel mas mantendo a estrutura arquitetónica do velho cinema e Teatro Eden, representará uma das mais antigas localizações de espetáculo de Lisboa. Por ali já funcionara, em 1875, um velho circo, intitulado Recreios Whittoyne, nome do proprietário e fundador, o clown (como então se dizia, mais do que hoje e sem qualquer sentido pejorativo) Henry Whittone. Sucede-lhe em 1882 o chamado Grande Colyseu. Tudo isto é demolido para a construção da Estação do Rossio. Ao lado do Eden existe até hoje o muito mais antigo Palácio do Marquês da Foz, o qual integra também, como sabemos, uma pequena sala de espetáculos.
De 1909 a 1912, lembra Marina Tavares Dias, funcionou na área um velho Teatro Variedades, demolido ou adaptado para a construção do primeiro Teatro Eden, este inaugurado em 25 de Setembro de 1914, com uma opereta ainda hoje digna de registo – nada menos do que “O Burro do Senhor Alcaide” de Gervásio Lobato, D. João da Câmara e Ciríaco Cardoso, com a jovem Palmira Bastos como cabeça de cartaz: são nomes “históricos” e ainda hoje notáveis… E “até 1928 o Eden foi um dos templos da Revista” , alternando a partir de 1918 com temporadas de cinema ( cfr. Marina Tavares Dias, “Lisboa Desaparecida” vol. 2; M. Félix Ribeiro “Os Mais Antigos Cinemas de Lisboa” – 1978).
Em 1929 o Eden encerra e inicia um complicado processo de construção do novo Eden Teatro, a partir de um belíssimo projeto do arquiteto Cassiano Branco. As obras, dirigidas pelo arquiteto Carlos Florência Dias, arrastam-se durante 7 anos, em sucessivos impedimentos burocráticos e com adaptações do projeto inicial, que ficou, diz José Manuel Fernandes, “uma sombra do que Cassiano desenhou, apesar disso notável obra, coroada com piramidais torres de ferro e vidro”. (in “Cinemas de Portugal” - 1995).
E em Abril de 1937 ocorre a inauguração, com a opereta “Bocage” de Frederico de Brito e outros, com música de Rui Coelho e direção artística de Estêvão Amarante: e por estes nomes podemos avaliar a qualidade e relevância da produção.
Luís Francisco Rebello, no “Dicionário do Teatro Português” e na “História do Teatro de Revista em Portugal” (1984/5) recorda as fases brilhantes do Eden como teatro de revista e opereta, até que em 1939/40 o cinema passa a dominar a exploração durante décadas. Mas não em exclusivo: além de iniciativas esporádicas, o Eden albergou, de 1966 a 1974, a Companhia de Teatro do Gerifalto, de António Manuel Couto Viana, durante décadas a única iniciativa regular de teatro infantil: e assim, no palco até aí mais ou menos esquecido do Eden, foram encenadas peças de clássicos, mas sobretudo de autores portugueses contemporâneos. (cfr. Ricardo de Saavedra e António Manuel Couto Viana “Memorial do Coração – Conversa a Quatro Mãos - 2012).
Até que, em 31 de Dezembro de 1989 o Eden encerra definitivamente como sala de espetáculos. Em 1993 iniciam-se obras de transformação em hotel, conservando com adaptações a fachada e mantendo os baixos-relevos de Leopoldo de Almeida.
DUARTE IVO CRUZ