A FORÇA DO ATO CRIADOR
Modrian e a Verdade que Ascende a Natureza.
‘For every form, even every line, represents a figure, no form is absolutely neutral.’ Piet Mondrian, 1937
Segundo Mondrian, no texto ‘Plastic Art and Pure Plastic Art’ (1937), existem duas inclinações humanas, diametralmente opostas, para produzir arte: uma que é expressão de uma beleza universal e outra que é expressão de uma estética individual. A primeira inclinação pretende representar uma realidade de forma objectiva e a segunda de forma subjectiva. Mondrian afirma que toda a história da cultura demonstra que a beleza universal da arte não está associada a uma característica particular da forma, mas sim associada às relações que se estabelecem a um ritmo dinâmico, dos elementos que lhe são inerentes. Revela também que as formas existem somente para criar novas relações: e que as formas criam relações e as relações criam formas. Segundo Mondrian, um dos problemas mais importantes da arte está em atingir um equilíbrio entre o subjectivo e o objectivo. Mas é sobretudo importante encontrar a solução do problema da arte através do acto de fazer e não do acto de pensar. O artista deve então ser o mais objectivo possível na representação das formas e das suas relações. E este trabalho nunca será assim vazio, porque a oposição dos elementos construtivos e a sua execução trazem consigo emoções. A expressão universal só existe através do real equilíbrio entre o universal e o individual. Gradualmente, a arte purifica-se. Mondrian acredita que a evolução da arte torna o homem consciente para o facto de que o tempo é um processo de intensificação (aprofundamento e não extensão) – uma evolução do individual para o universal, do subjectivo para o objectivo, para revelar a essência das coisas e do homem. Amar as coisas na realidade significa amá-las profundamente e vê-las como microcosmos inserido no macrocosmos – só assim, segundo Mondrian, é possível atingir a universal expressão da realidade: ‘Art - although an end in itself, like religion – is the means through which we can know the universal.’
Mondrian acreditava que a simplicidade deveria ser o estado ideal da humanidade – e escreve em Natural Reality and Abstract Reality ‘We need not look past the natural, but we should in a sense see through it.’ Graças à teosofia, Mondrian tomou consciência que a arte poderia fornecer uma transição para as regiões mais belas pertencentes ao reino espiritual. A importância da horizontal e da vertical revelada por Helena Petrovna Blavatsky em Isis Unveiled (1877) e em The Secret Doctrine (1888) permitiu a Mondrian apreender a significação mística dos símbolos geométricos tais como o triângulo e a cruz. Blavatsky constrói igualmente a teoria do ortogonal, referindo-se à perpendicular celeste e à linha de base terrestre horizontal, e fazendo correspondência à vertical, como princípio masculino e à horizontal como princípio feminino. Na visão de Blavatsky, a cruz, intersecção de duas linhas, exprime a concepção mística e única da vida e da imortalidade. Mondrian ao encontrar a sua expressão na forma e na cor, isto é, na linha recta e na cor primária claramente definida, desejava reflectir acerca de uma realidade mais elevada ou uma verdade que transcendesse a natureza, na certeza de que ao prosseguir com esta procura poderia aceder a uma compreensão e a um conhecimento mais sublime (Moszynska, 1998). Tanto Mondrian como Blavatsky acreditavam que arte e religião caminhavam em direcções paralelas, ambas com o principal objectivo, o de transcender a matéria (Golding, 2000).
Ana Ruepp