POSTAL SEGUNDO
Querido amigo:
Demorei a responder-lhe pois estava na Índia, mas entenda que esse facto não me levou a esquecer a sua carta. A sua carta a Saramago foi para mim um telefonema para a terra e não para o céu. Uma intimidade espiritual de si para si, eterna, no escutar-se e no dialogar-se. Foi também uma mão aberta de silêncios do existir, no qual o mergulho é feito por agua e fogo interpelando a vida acordada. A eternidade que refere nesta sua carta, é para mim uma tentativa de unir o ser dividido que somos, e dar-lhe todo o tempo que só a morte interrompe.
Todo o seu tempo fora de Portugal é também parente da intensidade a favor de uma existência, afinal nunca descuidada, e de uma tranquilidade que sempre lhe regressa quando quer. Este, talvez este, o seu futuro e o de tudo o que lhe vai sendo único.
Talvez esta a mensagem de um passageiro requerente da vida.
Aceite um abraço solidário,
Teresa Bracinha Vieira