A FORÇA DO ATO CRIADOR
Thomas Nozkoswki e a pintura da vida real
‘There is so much that crosses our minds as we paint, so much I think it’s folly to imagine another person being able to even come close to the richness we create for ourselves in our work.’, Thomas Nozkowski, 2009
Na conversa de Thomas Nozkowski (1944) com Garth Lewis para a revista Turps Banana, em 2009 (Issue 7), Nozkowski revela que nos últimos trinta e cinco anos tenta sempre criar algo novo, através de uma apertada disciplina de trabalho e através do trabalho exaustivo da ideia que existe por trás de uma pintura. Embora acredite na possibilidade de concretização através de uma perspectiva sempre diferente, Nozkowski não anseia produzir um trabalho provocador.
‘I’m trying to translate complicated personal and even spiritual experiences into an abstract form.’
No trabalho de Nozkowski, existe uma necessidade permanente em escavar memórias, ideias e gostos subjectivos. Em contraste ou continuação com os expressionistas abstractos (com quem aprendeu na Cooper Union), o trabalho de Nozkowski encerra um processo profundamente conceptualizado, sistemático, orientado e metodológico. Nozkowski estabelece regras para o acto de pintar (nos anos setenta determinou duas regras cruciais: o tamanho reduzido das telas, 50x70cm, para assim ‘fazer do modesto algo ambicioso.’; e o facto de todas as telas terem génese conceptual na sua vida real). Esta visão pragmática está associada a uma necessidade de produzir pinturas com uma carga subjectiva e pessoal, sem recorrer preconceitos formais. Tudo o que Nozkowski faz vem do seu mundo real e não está só limitado a um determinado objecto ou espaço mas igualmente aberto a experiências interiores e exteriores. E revela que no domínio do pensamento, as ideias são sempre perfeitas e exequíveis, porém assim que confrontadas com o mundo físico todo o tipo de dificuldades aparece. Alguns dos seus constrangimentos mais práticos passam por trabalhar, do princípio ao fim de uma pintura, com um pincel muito mais pequeno do que o necessário – e esta estratégia revela-se muito útil para Nozkowski, porque vê aqui uma oportunidade para construir vagarosamente uma pintura. Nozkowski deseja ter controlo, consciência e responsabilidade sobre tudo o que dispõe sobre a tela – até porque o entendimento e a modificação de um mínimo detalhe pode modificar o todo significativamente. O tamanho reduzido, que estabeleceu para as suas telas, foi inspirado numa pintura que viu, em 1975 na National Gallery em Londres, ‘The Vision of Saint Eustace’ (1438-42), de Pisanello – ‘I saw the painting in London in 1975. I don’t know how to describe the feeling, but it was as if I knew why every stroke was made. Every color, every shape. I thought it profoundly moving, and in fact the first paintings I made in the format I now work in.’
Na sua opinião, uma vez decidido a usar como fonte de inspiração o mundo que o rodeia, Nozkowski viu-se confrontado com o grande mistério da individualidade – ‘These objects, whether they’re books or paintings, have to compete with the real world. That’s tough.’
Sendo assim abstracção, para Nozkowski, manifesta-se pela necessidade de convidar à contemplação mais do que forçar confrontação – ‘I believe that what I am doing is actually very close to our normal way of looking at and thinking about the world’. O seu trabalho deseja criar um real impacto sem impor uma presença, sem a necessidade de recorrer a um grande formato, honrando a variabilidade contínua da experiência vivida – apesar de acreditar que a linguagem criada deve ser passível de ser desvendada, deve também ser um veículo de reconhecimento da diferença. No decorrer do seu trabalho, Nozkowski afirma que se alguém é capaz de imaginar um problema, também é capaz de encontrar uma solução. E Nozkowski recusa-se a desistir de uma pintura – o que significa que alguns trabalhos demoram, por vezes, anos a terminar- ‘I come from the working class. I know that working is a pain. Believe me if I could do these things in five minutes, I would.’
Ana Ruepp