POSTAL QUINTO
Meu amigo:
A dor de um livramento de mulher, a dor de um parto, não é mais do que a dor de um texto em mudança, mudança daquela que não sabemos quanto tempo dura e quanto dói, e o quanto é sempre meio-caminho. É-nos dada assim esta dor de livramento, como se soubéssemos possuir o precioso.
A sua carta que ontem recebi, é um abrir de uma certa fúria. Nela também a saudade de uma paz segura, ou afinal o tempo quando nos fala ao ouvido numa alegria de um choro simplesmente inevitável.
E nada cabe num postal para lhe responder ao que li. E nada é de onde nasceu. É de uma outra luz de uma outra trave e, talvez por isso no dia seguinte ao que refere, ninguém morreu: readquiriu-se uma espécie de infância. Surgiram de novo as nuvens-algodão.
Recordo que nesta sua carta o mundo deixou de ser fenda.
Muito lhe agradeço
Sua amiga
Teresa Bracinha Vieira