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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

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A procura por uma arte individual

 

‘A arte é justamente a realidade que se cria a partir do encontro do Homem com o mundo.’, Giulio Carlo Argan

 

Argan apresenta a arte moderna como uma procura constante entre o individual e o colectivo. Em ‘Arte Moderna. Do Iluminismo aos movimentos contemporâneos .’ (1992), Giulio Carlo Argan escreve que a arte pode provir ora de inspiração concentrada no indivíduo, ora de um instrumento racional que serve toda a sociedade. Argan divide assim os momentos históricos, de 1790  a 1970, em duas grandes categorias: a procura por uma arte individual e a procura por uma arte colectiva.

Na procura por uma arte individual todo o trabalho do artista é o verdadeiro trabalho humano. É trabalho livre puro. Sem se submeter à máquina, o artista alcança a liberdade com o seu trabalho.

Como se verifica no Romantismo histórico, a arte nasce de uma inspiração, de um estado de recolhimento e reflexão, intensificando a dramática da existência. A arte romântica é uma nova posição face à história da arte. A nova realidade afirma-se através de evocação, de sonhos e da imaginação. Associada a poéticas do sublime, a natureza é vista como um ambiente misterioso e hostil, na qual o Homem desenvolve sentimentos de solidão, individualidade e tragicidade do existir (no encontro com o divino, e na presença constante da angústia). Ao procurar cessar com o universalismo formal, o Romântico procura por uma autonomia própria, pondo fim ao clássico. Assiste-se a uma mudança contínua das tendências artísticas com o desenvolvimento da indústria, que é ciência sobre a natureza; a transformação das tecnologias; a organização da produção económica, da ordem social e política; a crise do artesanato; e a crise da finalidade da arte. Pretende-se o aprofundamento do problema da relação do artista com a sociedade do seu tempo e o reflexo que a realidade tem no indivíduo. O mundo moderno é agora confrontado com o poder de produção da máquina face ao Homem, e da ciência face à criação. A arquitectura gótica é retomada como sendo capaz de restituir e valorizar o trabalho humano nas cidades, numa espécie de espiritualidade para o tecnicismo moderno exaltar.

Já o Simbolismo, como pesquisa da mente humana e estando inserido nessa pesquisa por uma arte individual, pretende produzir uma sensação visual que se cruza com a poética do ser (o eco do mundo no Homem). Os signos revelam o que está para além da consciência, como se pela arte de Horta, Van de Velde e de Gaudí a profundidade do ser humano se revelasse. Tanto o natural como o artificial podem assumir um significado simbólico – tudo o que é concebido pelo Homem é originariamente artístico.

Argan segue descrevendo o sublime, a melancolia, a solidão, a angústia existencial do Homem diante da natureza. Insiste no Expressionismo, ao associar o fundamento da arte à percepção humana. ‘O expressionismo alemão pretende ser precisamente uma pesquisa sobre a génese do acto artístico: no artista que o executa, e, por conseguinte, na sociedade a que ele se dirige.’ O Homem, ao exprimir-se dá importância ‘não ao que vê, e sim ao que deixa ver.’ O expressionismo estabelece então uma comunicação activa e contínua entre objecto e sujeito. As formas pictóricas tornam-se autónomas, o Homem tem vontade em dominar o mundo. E desta maneira, o artista reage à realidade que vê, extraindo imagens penosas de si, partindo da sua existência. Após a Grande Guerra assiste-se à invenção que actua como antídoto à depressão geral. Abre-se campo à experimentação formal. Erich Mendelsohn surge assim como arquitecto que modela massas plásticas, realizando soluções formais que expressam a função, integrada no dinamismo da vida. O monumento é substituído pela evidência do dinamismo funcional. O expressionismo inicia a possibilidade de uma arte que modifica a realidade pela invenção, pela introdução de relações profundas ao puro acto de criar sobre dados objectivos e concretos. 


Ana Ruepp