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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

A procura por uma arte colectiva.jpg

A procura por uma arte coletiva


‘A arte não deve persuadir, e sim estar intimamente persuadida; apenas assim será poesia, pois a poesia é o ‘espírito de verdade’ que está no fundo das coisas e das pessoas’
, Giulio Carlo Argan

 

Tal como apresentado na semana passada, Giulio Carlo Argan em ‘Arte Moderna. Do Iluminismo aos movimentos contemporâneos .’ (1992) afirma que a arte pode ou resultar de uma inspiração puramente individual ou ser um instrumento que serve toda uma sociedade.

Ora a procura por uma arte coletiva manifesta-se, segundo Argan, através de uma representação formal de uma funcionalidade puramente social.

Para Argan, no Neoclássico, por exemplo, a ideia surge apenas entendida como uma exigência moral. A natureza é entendida como sendo uma invenção humana racional e é representada como favorecendo nos indivíduos sentimentos sociais (a arte tem, assim uma função educativa). O modelo clássico tem um sentido ético-ideológico, na medida em que é dado como arquétipo da arte, colocando-se como valor absoluto e universal, anulando tradições nacionais – os artistas não o repetem academicamente, mas aspiram à sua perfeição. Para Argan, a arquitetura do período neoclássico representa o primeiro episódio da arquitetura moderna. Com Boullée e Ledoux, a arquitectura é livre, simplesmente ‘fundada na consciência do dever civil’. O tema tipológico e a classificação precisa e funcional do objeto atuam em serviço da sociedade e do seu progresso. Cada edifício apresenta uma forma adequada a uma função, a uma tipologia e a uma espacialidade racional.

Já a cultura dominada pelo pensamento positivista, para Argan, elimina tudo o que é empírico na atividade do artista, oferecendo um método objetivo – os impressionistas baseiam os seus trabalhos em estudos de cor e concretizam uma nova apreensão da realidade. É o início da tentativa de tornar a arte uma ciência. A casualidade pessoal de cada artista abre-se à casualidade de um momento concreto. A realidade é agora representada através de uma ação cognitiva.

O movimento moderno surge como resposta formal social ao processo de industrialização, porque para Argan, o progresso pode transformar a finalidade da arte. E a questão da arte social culmina na Bauhaus, que ao integrar, através do factor da comunicação, todas as artes não deixa prevalecer nenhuma atividade. Apenas um método pode determinar a forma da vida do Homem em sociedade. Na Bauhaus, afirma-se o progresso pela educação. A escola é o núcleo, por excelência, formador da sociedade. A concepção da Bauhaus estabelece-se como um sistema de relação estreita entre a poética (funcional, racional) e a ciência (indústria). E assim produz formas-padrão, formas geometrizadas capazes de receber diversas interpretações. A Bauhaus não pretende criar formas ideais, pretende sim criar formas que produzam um dinamismo (uma forma em formação pelas interpretações sucessivas que vai recebendo). E Walter Gropius (1883-1969) é o criador do método racional e da Bauhaus como sendo uma escola democrática (Gropius é o firme defensor de uma ideia, de um programa, de um método, porém não crê na universalidade da arte). Gropius acredita que a função social do artista se concretiza no ensino, porque a finalidade imediata é a de restituir, entre a arte e a indústria produtiva, o mesmo vínculo que unia a arte ao artesanato.

Marcel Breuer (1902-1962) é o designer do novo tempo, é o designer da existência mínima. Projeta objetos totalmente inovadores em tipologia, tecnologia e funcionalidade. Concebe objetos espaciais ambíguos e experimentais. Ao criar, por exemplo os móveis em tubos metálicos, ele instaura uma nova tipologia, uma nova tecnologia e uma nova funcionalidade. Breuer entende que o problema do móvel era um problema arquitetónico. E a questão possuía um aspeto prático económico: em casas reduzidas ao ‘minimo da existência’, os móveis não poderiam ser maciços volumosos e pesados. Os móveis com tubos metálicos surgem como uma solução objetual leve, quase imaterial e económica porque a produção é em série. Breuer, segundo Argan, constrói assim um objeto útil que reflecte uma intuição espacial e interpretável e que é a primeira e mais bem conseguida síntese operacional e funcional das artes e do desenho industrial.

 

Ana Ruepp