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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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O TEATRO DE REVISTA EM PORTUGAL (VIII)

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DOIS GRANDES AUTORES DE REVISTA: SOUSA BASTOS E EDUARDO SCHWALBACH

Num livro recente, Maria Helena Serôdio enfatiza a relevância da opereta e da revista na produção teatral portuguesa  da transição dos séculos XIX/XX. Cita designadamente, entre outros autores de drama e comédia, os originais ou as adaptações de André Brun (que aqui já foi evocado) numa adaptação de “A Severera” de Julio Dantas com musica de Filipe Duarte, autor também de opereta “O Fado” de João Bastos e  Bento Faria; e ainda,  num registo de “ópera cómica(…) as criações conjuntas de Gervásio Lobato,  D. João da Câmara e maestro Círiaco Cardoso, enquanto na comédia e na revista se vieram a destacar  no inicio do novo século Eduardo Schwalbach (“A Bisbilhoteira”, 1900 e “O Chico das Pegas, 1911)” e outros (in “A Republica das Artes-Teatro, 2010, pag. 17)

Precisamente evocaremos aqui Schwalbach (1860-1946) mas também o seu contemporâneo Sousa Bastos (1844-1911), que temos citado como autor do “Diccionário do Theatro Português” e de “Carteira do Artista”.   

E desde já adianto que Sousa Bastos é autor ou co-autor – uma vez que as revistas são quase sempre produto de co-autorias – de nada menos do que algo como 18 revistas. Luis Francisco Rebello selecionou cenas de algumas, e a simples leitura dessas cenas permite avaliar o sentido critico e cénico dos textos: por exemplo “Tim Tim por Tim Tim” (1889), em que a “Dívida Pública”  se auto- define como aquela “Que toda a gente condena” mas  se- auto-elogia:

 “Sou esbelta, sou catita/ Tenho atrativos aos centos;/ Como arranjo bom dinheiro/ Tenho fortes argumentos” pelo que “Quase sempre eu dou pretexto/Prós clamores da oposição…/Mas se ela trepa ao poleiro/Logo de mim lança mão!”

Gustavo de Matos Sequeira refere que Sousa Bastos assume em 1894 a direção do Teatro da Trindade, onde se manterá até 1897. E assinala que “O Sal e Pimenta de Sousa Bastos foi a grande peça de 1894. Ainda transbordou o seu êxito para ao ano seguinte. Desde julho da dezembro, a Gloriosa (sic) revista que rivalizou com o Tim Tim por Tim Tim da (do (Teatro da) a Rua dos Condes, encheu o cartaz da Trindade” ( in “O Carmo e a Trindade” vol. III pag. 407).

Mas recordo aqui ainda a revista “Em pratos Limpos” (1896) onde Sousa Bastos critica, numa sucessão de exemplos, os “galicismos”  na moda:
“A cadeira é fauteille! Bem bom!/É a gare a estação! Faz-me fel!/ A luneta é agora um lorgnon!/ E um mordomo é um maître d Hotel!” E segue-se a casa -  chateau ou chalet, estante -  étagere, bacia -  bidet,  molduras - passe partout  ,manta  -  couvre pieds,e mais 18 francesismos – “e mais não digo que a lista é comprida/ E nem mesmo eu a tenho ao alcance!/ Se à casinha que está na Avenida/ Até chamam um “chalet  d aisence!” (in Luis Francisco Rebello -  “História do Teatro de Revista em Portugal” vol. 1).

E é então altura de evocar as revistas de Eduardo Shwalbach. Das largas dezenas de revistas que escreveu, cobrindo a passagem do seculo, destacam-se títulos e sucessos  como    “Agulhas e Alfinetes”, “Formigas e Formigueiros”, “Retalhos de Lisboa” “O Ovo de Colombo”, o Dia de Juizo”  “O Reino da Bolha”, “Fado e Maxixe” entre mais.

São quadros de grande sentido cénico. Por exemplo, em “Agulhas e Alfinetes”, estão em cena, a certa altura, um professor e pelo menos 14 alunos. Mas no plano oposto, temos por exemplo “A Feira do Diabo” que põe em cena Mefistófeles, o Orçamento da Despesa e o Orçamento da Receita. Ou a ultima revista citada por Rebello, “Ao Deus Dará”: “Haja Festança. Haja folia/  Que tudo a bem se arranjará/ Se a massa chega só pra um dia/ Para os seguintes… Deus dará” ( in ob. cit. vol. 2)

Vitor Pavão dos Santos, em “A Revista à Portuguesa” (1978), destaca uma cena de  “Fado e Maxixe”(1909) escrita com João Foca. Trata-se de um dueto entre a Avenida da Liberdade e as Avenidas Novas:
“AL _ Eu sou desta aldeola em ponto grande/ Desta Lisboa tola e presumida/Onde a tolice com rumor se expande/ A via mais seleta e concorrida

AV – Nós, Avenidas Novas/ Meninas petulantes/ Damos sobejas provas/ De sermos elegantes…”

E em “O Dia de Juizo”, o confronto entre a moda masculina e a moda feminina:
“Entre piadas, entre picuinhas/ Quer para elas, quer para os seus alcaides/ Vão os gentis e belos cartolinhas/ Com as lindas e dengosas Adelaides”…

DUARTE IVO CRUZ