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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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OLHAR E VER

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Burt Lancaster em «Il Gattopardo».

 

14. DESENCANTOS


I. Li algures que Avigdor Lieberman, ministro israelita dos negócios estrangeiros, enviara à senhora sua homóloga no governo de Estocolmo, Margot Alström, uma mensagem em que dizia que a Suécia deve compreender que as relações no Médio Oriente são muito mais complicadas do que o modo de montagem de um móvel Ikea... Ao que a mesma senhora retorquira que teria muito gosto em lhe mandar um móvel Ikea em kit, para que compreenda como a respectiva montagem exige um parceiro, cooperação e um bom manual... A insistência do governo de Israel na expansão de colonatos a sul e leste de Jerusalém, e a sua intenção de declarar o seu estado como pátria da nação judaica, surgindo como sinais de recusa de um estado e de uma pátria palestina, têm vindo a minar os apoios de que beneficia nos EUA e na UE: além do reconhecimento, pela Suécia, do Estado Palestiniano - que motivara a missiva acima referida - já catorze países europeus haviam votado a favor do estatuto da OLP como observador na ONU, e mais uns poucos (vg. França, Irlanda, Reino Unido) viram assembleias legislativas recomendarem aos seus governos o reconhecimento puro e simples do Estado Palestiniano. E é facto também que, além do ressurgir de um sentimento de judeofobia (conhecido por antissemitismo), muitos judeus da diáspora europeia, por receio ou por desacordo e vergonha, se vão afastando das sinagogas e outras reuniões, das práticas e das festas tradicionais, de tudo aquilo que possa identificá-los como judeus. Não por deserção da sua cultura, das suas famílias e linhagens, nem, entre os praticantes, da sua religião. Mas por não quererem ser tomados por apoiantes de governos e políticas que, recentemente, cada vez mais se orientam por objectivos nacionalistas e hegemónicos da mais radical ideologia sionista. Têm razões de ter medo de ataques e sevícias, porque mesmo nos estados de direito em que vivem, e de que são inteiramente cidadãos, se repetem casos lamentáveis de ataques a pessoas e assembleias, de profanação de templos e cemitérios. Mas, sobretudo, sofrem, além do medo, a humilhação de serem confundidos com os arautos de ideias, sentimentos e propósitos de que não partilham.

II. Outras notícias nos contam que os movimentos terroristas desencadeados em nome do islão vêm provocando também alguns efeitos inesperados no próprio mundo muçulmano. Assim, escreve Umar Yussef Suleiman em raseef22.com: Nestes últimos três anos, houve tantas violências confessionais na Síria, no Iraque e no Egipto, como nos cem anos anteriores em todo o Médio Oriente. Isso provoca desencanto entre os jovens árabes, não só face aos movimentos islamistas, mas a toda a sua herança religiosa. Assim, em reacção ao radicalismo religioso, uma onda de ateísmo se propaga actualmente na regiãoA afirmação segundo a qual "o Islão é a solução" parece cada vez mais claramente uma ilusão...  ...A eferverescência actual do mundo árabe é comparável à da Revolução Francesa. Esta começara pela rejeição dostatus quo. À partida, era dirigida contra Maria Antonieta e, no fim, levou à queda das instituições religiosas e à proclamação da república. Aquilo a que assistimos no mundo muçulmano é um movimento de fundo para mudar o quadro intelectual, e não somente o presidente. E para isso serão necessários anos de luta.

III. Otman Abu al-Qayan, guerrilheiro do Daech (Estado Islâmico), morreu em combate, aos 26 anos. Como outros que, até mais jovens, muitos vindos de muito longe, mais desencantados do que islâmicos, todos os dias vão tombando, alguns sem que, talvez, alguém pense que jaz morto e arrefece o menino de sua mãe... Otman era árabe e muçulmano, mas cidadão de Israel, onde se formara em medicina e trabalhava, com consideração e estima de todos, como interno, num hospital. Não são precisas mais palavras do que as que confidenciou um colega seu, clínico no mesmo hospital:  Fomos fulminados quando soubemos a notícia da sua morte. Disseram-nos que tinha partido para a Síria, e entrado no Daech depois. Não queríamos acreditar, era inverosímil. Tanto mais que ele ainda não completara 26 anos e o seu estágio de interno corria bem. Parecia assegurado o seu futuro. O que é que poderá levar alguém como ele a abandonar a família, o país, o trabalho e a profissão, para integrar uma organização como o Daech, que é tudo o que há de mais distante dos valores do verdadeiro islão? E como pôde ele fazer aquilo sabendo que era previsível que isso teria consequências para os seus colegas árabes que trabalham em hospitais israelitas?

IV. Muita gente, em França e não só, se emocionou recentemente com dois casos de adesão ao Daech: o de Maxime Hauchard, normando e francês dos quatro costados, de 23 anos de idade; e o de Mickaël Dos Santos, francês filho de portugueses. O primeiro, diz-se, tem tido um percurso sanguinário ao serviço da jihad, a que se converteu, sem se ter tornado muçulmano; o segundo, também acusado de degolações, e sensivelmente da mesma idade, era um pacífico e simpático rapaz, católico praticante, que se converteu ao islão, ao que parece por influência de amigos muçulmanos, no meio dos quais acabou por ser recrutado para o EI. Conta a sua ex-namorada francesa que foi o único namorado que apresentou aos pais, em 2008, tinha ela 18 e ele 16 anos: Trazia sempre uma cruz ao pescoço. Era tímido, meigo, um tanto influenciável. Quando os amigos o desafiavam para uma parvoíce, ele ia com eles... E lembrará ainda que aquele meiguinho, quando, em 2009, começou a converter-se ao islão, já lhe ia dizendo que ou te convertes também, usas véu, deixas a escola e de andar com rapazes, ou acabamos tudo...A conversão levou três meses, e romperam o namoro. O jornal Le Monde, de onde respiguei estas informações, publica dois artigos de opinião sobre esta matéria. Ambos os autores são académicos e investigadores com experiência em consultadoria internacional. Um, Jean-Luc Marret, sem afastar factores de ordem social (desemprego, convívio ou inserção em comunidades ou grupos de desadaptados) nem uma certa militância islâmica, reconhece ainda a pertinência de factores de ordem psicológica:" falta de autoestima, incapacidade de gerir a frustração, recurso à violência desinibida, ou, ainda, a expressão fantasma da solidariedade para com os muçulmanos percebidos como oprimidos". O jihadismo como transição coxa para a idade adulta, passa pela procura de referências em linha, de grupos ou redes radicais, e pelo desconhecimento ou recusa de normas colectivas...E, depois de se interrogar sobre o recurso a medidas tradicionais de reinserção (penas de prisão exemplares, trabalho social, reeducação, terapia familiar e pessoal), levanta a questão final de saber se o menosprezo das ideias de adesão à República e à Nação,a supressão de ritos republicanos de integração (em particular o serviço militar obrigatório), não terão contribuído para produzir jihadistas. E finalmente, resta ainda saber se os jihadistas franceses não serão também um dos mais terríveis resultados do multiculturalismo, que enfatiza mais a excepção do que a parecença. Já o outro articulista, Samuel Laurent, insiste na presença crescente do islão radical, designadamente do salafismo, na Europa, particularmente em França, onde se organizam e expandem redes guiadas e doutrinadas por ideólogos como o britânico Anjem Choudary: qual avassaladora maré, essas redes vão recrutando essas gentes em nome de um islão que elas não podem compreender, porque está revelado por um livro em árabe, que não entendem. Ou seja: jovens, sobretudo, são fracturados da nossa sociedade, pela força de uma ideologia activa que procura expandir um califado de islão radical. Mas no meu espírito permanece a pergunta: não será por desencanto connosco que eles se sentem tentados por uma solução tão radical das suas vidas, ao ponto de entrarem numa vertigem de ódio e totalitarismo? Onde estão as nossas referências, isto é, esses marcos da nossa cultura, isso a que chamávamos valores?

V. Seja-me permitido digredir um pouco : subjacentes a estas alienações, não estará outra, sua causa mais profunda? Não será a nossa incapacidade de viver a tradição, isto é, de receber, amar e transmitir heranças de cultura e valores, a primeira alienação? Quantos de nós jamais pensaram, disseram ou ouviram que é preciso amar a tradição, que não basta recebê-la e transmiti-la tal qual? No tempo e no modo, ou nos modos dos tempos, devemos aprender que o coração vital da tradição é o amor. Porque só o amor converte, transforma, ou seja, transpõe um valor, que é essência, de um pensarsentir, que é existência, para outro pensarsentir, outra cultura da sua própria vida... Tudo é movimento, e o ser sobrevive na transformação. Qualquer de nós, nasce cresce e envelhece, não fica sempre na forma que aconchegada vive no ventre de sua mãe. A simples equação de qualquer situação ou problema, a avaliação da pertinência ou impertinência de normas e medidas, sobretudo de modelos de comportamento, é necessariamente condicionada pela evolução da circunstância, em que vão mudando os instrumentos e instituições da economia e da política, os meios de comunicação e organização social, os hábitos de consumo e alimentação, a medicina do corpo... Amar a tradição não é ser saudosista de um passado prestigiado pela nossa imaginação, quiçá mais livre no conforto artificial da vida moderna. Tampouco é ser conservador, no sentido de pretender que a família, o estado, a igreja, por exemplo, são instituições imutáveis na sua forma, definitivamente encerradas nos modelos em que as conhecemos e julgamos eternos, ignorando que, ao longo da sua própria história, foram sofrendo crises que as modificaram. Não sou relativista, nem partilho o cinismo do "Leopardo" que diz ser preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma. Acredito, sim, que o amor de Deus, como Jesus ensina, é inseparável do amor dos outros, e que este único princípio deve guiar a nossa consideração do que está mal e deve ser corrigido, ou bem e deve ser melhorado, da abertura possível  e necessária a que nos sintamos todos mais próximos e menos excepcionais, mais acolhedores e menos exclusivos, mais rigorosos porque menos intolerantes. Esta última consideração, parecendo contraditória, apenas chama a atenção para o facto de se sentirem como justas as normas, e como de equidade os acordos, que se entendem ou sejam racionalmente aceitáveis, pelo que devemos exigir-nos mais caridade na explicação e menos intransigente soberba na propensão, tantas vezes pouco razoável, para a imposição. O "segredo" da simpatia geralmente despertada pelo papa Francisco reside na sua compreensão da fraqueza humana e da misericórdia de Deus. O apelo à exigência da conversão não se faz pela afirmação insistente de regras inamovíveis, nem com ameaças e castigos. Faz-se pela descoberta do que é belo e bom, do amor esquecido. O desencanto é, afinal, o cansaço de uma espera iludida. Numa sociedade que permitiu à ganância e ao desejo de gozo irreflectido que  acenassem ilusões sem alma, desesperaram-se muitos, e a estes nem sempre têm acudido valores de esperança que, tantas vezes, ficaram ocultos ou se fizeram detestar pelo monolitismo com que os seus supostos "proprietários" os apresentaram. Tanto se aliena a tradição quando de seus valores nos esquecemos, como quando os não deixamos crescer pela idade dos tempos e mesquinhamente os "guardamos" em armários de bafio. Haja mais ar e menos desencantos.  

Camilo Martins de Oliveira

A FORÇA DO ATO CRIADOR

 

O corpo e o mundo visível do pintor. 

O corpo e o mundo visível do pintor.

 

‘A natureza está no interior’, Cézanne.

 

Em ‘O olho e o espírito’, de Merleau-Ponty (2004) afirma-se que o pintor oferece o seu corpo para pintar. O corpo do pintor é emprestado ao mundo para assim converter o mundo em pintura. E para compreender estas transformações é necessário encontrar o corpo operante e actual do pintor, que é uma intercepção de visão e movimento.

Ora, o corpo faz parte do mundo visível e só vê aquilo para que olha – e por isso o mundo visível e todos os movimentos físicos do sujeito criador que aí acontecem, são partes totais do mesmo Ser. A visão do sujeito é concebida como uma operação do pensamento que constitui, perante um espírito, uma representação do mundo (ideal ou inerente). O corpo do pintor está imerso no visível, graças ao seu corpo, também ele visível, e aquele que vê não se apropria daquilo que vê, apenas se aproxima através de um determinado olhar. O movimento do sujeito no mundo é a sequência natural e maturada de uma visão.

O enigma do pintor consiste em que o corpo do sujeito é ao mesmo tempo vidente e visível. Ele vê-se vendo, toca-se tocando, é visível e sensível para si mesmo. Um ser que se vai constituindo por inerência em relação àquilo que vê, àquilo que toca e ao que é sentido. Visível e móvel o corpo do pintor pertence às coisas e está preso à textura do mundo. As coisas do mundo visível são um anexo ou prolongamento do corpo. A visão do sujeito criador faz-se do meio das coisas e assiste-se a uma indivisão do que se sente e do que faz sentir.

Logo que o sistema de trocas entre o visível e o invisível é estabelecido, todos os problemas da pintura aí se encontram. Uma vez que o corpo e as coisas são feitas da mesma matéria, é necessário que a visibilidade manifesta das coisas se desdobre no corpo, numa visibilidade secreta. Qualidade, luz, cor e profundidade que estão perante o corpo, só estão na obra porque despertam um eco nesse mesmo corpo. Surge então algo visível, essência ou ícone do real visível. A obra é o interior do exterior e o exterior do interior. É uma visibilidade imanente do imaginário. O imaginário está ao mesmo tempo muito próximo e muito distante do real – próximo porque pode manifestar através do corpo, o diagrama, o âmago e a analogia desse real.

O olho vê o mundo e aquilo que falta ao mundo para ser obra e o que falta à obra para estar completa. Existe na obra criada uma enorme proximidade entre o olho, o corpo e o espírito. E por isso, a pintura celebra, desde sempre o enigma da visibilidade. O mundo da pintura é um mundo visível, completo mas parcial. A pintura confere existência visível ao que a visão crê invisível. O pintor enquanto pinta confessa que a sua visão é espelho ou concentração do universo – e a obra é assim analogia, génese e metamorfose do ser na sua visão. Nem todos os meios com que trabalha são propriamente reais.

E sendo assim, a interrogação da pintura refere-se à génese secreta das coisas no corpo. O papel do pintor consiste em projectar o que vê e em ser trespassado pelo universo. E pinta para se emergir. Na pintura há uma verdadeira inspiração e expiração do ser – é acção tão pouco discernível onde não se distingue quem pinta e o que é pintado.


Ana Ruepp

CARTAS DE CAMILO MARIA, MARQUÊS DE SAROLEA

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 A Ceia de Emaus de Caravaggio

Minha Princesa de mim: 

Escrevo-te mais uma carta póstuma. E é póstuma mesmo, posto que a não deixei aí, na tua caixa do correio, nem sequer nas mãos de algum grumete que a levasse. Vai ela desde aqui, que não é sítio, nem de cima nem de baixo, nem tem data de antes, agora ou depois. Segue simplesmente uma carta, inspirada por esse afago sem tempo nem espaço, o tal que começa por onde todos passamos, e não termina. Há coisas que só Deus sabe. Dos sofrimentos e alegrias que passei, não fica dor, nem gáudio, nem paixão qualquer, nem sequer lembrança... A eternidade não é contínua, não tem duração. É simplesmente ser. Talvez por isso nos convencemos de que Deus é amor. Como mão que demos e nunca foi largada. Morto, não valho mais, nem menos. Tampouco existo, existir é só o modo episódico da essência. A essência, sabes bem, é a substância - se assim me posso exprimir - de essere, ou do sermos, tranquilamente. Não tem esquecimento nem recordação, não se angustia nem agita, não cala nem exclama. Permanece. Quando saduceus perguntaram a Jesus quem seria, na ressurreição da vida eterna, o marido da mulher que, de acordo com a lei hebraica, por viuvez casara com sete irmãos, esse Mestre respondeu : aqueles que forem dignos de tomar parte na vida futura e na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. Na verdade, já não podem morrer, pois são como os anjos, e, porque nasceram da ressurreição, são filhos de Deus... ...Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos. E acrescenta S. Lucas que mais ninguém se atreveu a fazer-lhe perguntas. Na verdade, é a vida que é mistério, a morte apenas certeza. Certeza inelutável de que o nosso tempo tem conta, peso e medida. O tempo de Deus é outro, talvez não exista, ou quiçá exista agora e seja eternamente. Mas agora, só é, no coração de cada existência, não um cômputo, mas uma abertura ao desconhecido, um terrível sentido muito fundo de que, apesar da nossa contingência, tudo é graça. E nada pode ser mais dolorosamente gratuito do que sorrir alegremente à vida, a essa vida que sem pedido nosso nos foi dada, e que, com ou sem pedido, nos será tirada. Episódio? Sim ou não, talvez nos valha ir soprando a íntima centelha que, crescendo em chama, nos vá alumiando o caminho escuro do mistério. Digo-te isto tudo, sem pessimismo nem tristeza. Apenas com imenso respeito por todos nós - por ti, por mim, por todos os que, em tantos modos, acreditam ou desacreditam - e com a alma cheia de sabores sempre novos, porque é inefável o gosto antecipado do que ainda não conhecemos. Será mesmo póstuma a carta? Ou tê-la-ei eu escrito antes da hora? Ou pensei-a fora de horas? Ou estarei simplesmente a sentir que, por muito que queira e gostasse, homem nenhum pode recordar ontem, e viver hoje, sem que a manhã por vir lhe entristeça ou deslumbre o coração?  Sinto-me pobre e rico. E dou-te uma mão de afectos, sem anéis...     

 

Camilo Maria

Camilo Martins de Oliveira

PORVENTURA VERSOS

 

1.

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Quando vejo por sonhos meu tesouro

Parece que o vejo numa alma aqui presente

No centro das minhas mãos cerradas e tementes

Que apertam venturas imensas ou já ausentes?

 

É altura de uma grande fantasia

Entender dano, perdição fuga e morte

Ou sublime não fosse

Aquele norte

 

Que um dia vivi se assim dizer posso

De um segredo que por o ser

Se não diz e de tão quieto se não mostra

 

Mas de indício se transforma

No beijo meu

Esse sim

 

Pois consenti-o nos meus olhos

Quando mesmo gentil

 

Não pude ver-te


M. Teresa Bracinha Vieira
2015

 

 

2.

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De ti nada guardo na memória

De ti tudo tenho em meu coração

 

E os tempos que vão

De vãs glórias

 

Mais não são

Do que teu amor, amor

Minha história

 

E quando eu morrer saberei

Do teu braço num abraço

Que segura a minha mão

 

E por tal certeza

Tudo te devo

E não só por consolo de luz

Já que a promessa

É peito e foi segredo e gruta

 

Jura por ambos feita

Luta de amor

Que em nós perdura

 

Peça única

No cristal do céu

Reconhecendo-nos

Nuvem de chuva clara

 

Saudade muita

 

M. Teresa Bracinha Vieira

2015

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