PORVENTURA VERSOS
11.
Porque mais do que nenhuma
Seta alguma
Vinda de ti
Me feriu
Caminhei sempre usando ilhas nos pés
E tu meu anjo indignado
Afeiçoado ao propósito de me venceres
Quedaste nado
Por mau zelo e por crueza
Julgaste uma após uma que era carícia
As ondas inquietas que sentias
E nem algumas, nem as mais secretas
Com vistas de lugares altos de tanto serem interiores
Sequer brancas se mostraram
Na espuma dos beijos
Que te não dei
Para que em mim
Dano inteiro
Se não fizesse
Teresa Bracinha Vieira
2015
12.
A verdura que não vi era tão viçosa
Que por entre pedras e pedras
Derivava-se em rosas
E assim se fendia
Até ao vale ameno
Ao vale dos outeiros protectores
De esperanças prontas
A usar e a vestir logo
Para o baile das cerejas nos cabelos
Depois
As raízes vinham do ar
Numa postura assumidamente ao contrário
Até que o chão as aceitasse seguras, cheirosas , virgíneas
E prontas a não se entregarem
Nem à terra, nem ao ar, nem ao fogo, nem ao mel da carícia
Posto no dentro da tua mão quase língua
Depois, querido meu, depois
As raízes tomavam porto de andar sobre o mar
Esse mar que segura naus
E que nunca demandou o nado
Das raízes
À caça, à caça ousada
Das verduras que se não vêem
De tão viçosas
De tão proa
Teresa Bracinha Vieira
2015