SONETOS DE AMOR MORDIDO
Quadro de José Malhoa, 1926/Museu José Malhoa, Caldas da Rainha
12. DE LEONOR A D. JOÃO II
Mataste, João, dois dos meus irmãos,
e, por loucura tua, o nosso herdeiro,
o nosso único laço verdadeiro,
onde unidos nos dávamos as mãos...
Morto Afonso, morreu meu sentimento
de ti, primo e marido. Só ficaste
o rei que odiei quando mataste
a família do meu contentamento...
Não vou à cabeceira da agonia,
misteriosa, em que se afoga o dia
do teu sol solitário e forte e rei...
Ficarei por Alcácer, fortaleza
que, longe de Alvor, é a minha defesa
de saber se jamais amor te dei...
Camilo Martins de Oliveira