LONDON LETTERS
Horse trade ahead, 2015
The past is a foreign country: they do things differently there. Com estas palavras abre Mr L. P. Hartley o seu clássico do pós-guerra The Go-Between. Talvez que como o jovem Leo Colston do romance de 1953 se possam tomar as presentes promessas partidárias como os seus versos, construídos como magic spells para o poupar aos problemas.
O empate técnico nas sondagens e a incerteza sobre quem será o futuro Prime Minister conduz a crescente pirotecnia que nada mais suscita senão o acentuar do desencantamento. — Chérie, ce n’est pas tous les jours fête! A electoral registration encerra hoje com bom lote de newcomers a abdicar do direito a votar. A campanha soa quase apocalíptica nalguns sectores, devido a cenário provável de uma aliança anti austeridade-Cameron-Tories em Westminster. — Hmm. A Scottish tail wagging an English poodle, I suspect. Pela primeira vez na última década, a European Union coloca a emigração na agenda de trabalhos ministeriais. Um naufrágio ao largo do Mediterranean Sea, mais mediatizado, por momentos bate a indiferença moral de Brussels. Children first é o grito de desespero sobre as imagens deste weekend: pessoas em pleno mar, agarradas a destroços, a milhas das costas da civilização humanista.
Cloudy skies and a litlle bit cold at Central London, em dia de fecho na série de exibições dos manifestos partidários à eleição de May 7th. Uma rude ideia fica no ar: The right to buy… votes. Os mais velhos lembrar-se-ão ainda da bandeira de Mrs M envolta nas cores do capitalismo popular e esta é uma política que os Tories retomam agora com amplo espetro, desde a venda de acções do Lloyds Bank a preços de ocasião até à alienação das social houses com desconto. Para quem defende o rigor nas contas públicas, não está mal! Também os Lib Dems propõem medidas simpáticas à bolsa, mas tão residuais estão nas sondagens que apostam no opportunity for all e assim conquistar corações com a old liberal song que no século passado põe RH David Lloyd George em Downing Street. No leilão pontuam igualmente os ukkipers, cujas poupanças no cheque da Brexit dedicam ao pagamento de pensões e medalhas para todos os veteranos, além de investir an extra £12 billion into the NHS & £5.2 billion more into social care. No topo da cornucópia aparece hoje o SNP: cut the cuts; porém, empenhado em caçar votos em todo o UK, com o reforço do welfare state e o fim do Trident a par da ambição de novo referendo capaz de cumprir o seu designio de uma independent Scotland. Admito que, uma semana após lançado em Manchester, examino com outro olhar o Labour’s Manifesto Budget Responsibility e mesmo o ruivo Leader of HM Opposition aparece a erguer-se já como The PM Ed Miliband.
Mas um formidável desafio está constituído nas highlands do United Kingdom: a tigresa celta. Chama-se Nicola F. Sturgeon, tem 44 anos, é a Scottish National Party leader e First Minister. A senhora anunciou há momentos, em Edinburgh, o manifesto dos independentistas sob o lema A strong voice for Scotland at Westminster. Atrás de si tem cheers do eleitorado local que vota Yes à desunião nacional. A fatia garante a esta solicitadora de Glasgow meia centena de lugares na House of Commons e o potencial papel de king-maker no duelo Conservatives vs Labour. Todavia, o seu anti-austerity flavour é capaz de maiores danos. É que, somados a saída da GB e o abandono do programa nuclear na defesa do West, a lady tem a força das convicções e aquele quê de game changer que alavanca sucessivas maiorias de TRH Maggie Thatcher nos 80-90’s com o projeto de better politics and better policies. Já o General Election tracker teima em invariante neck-and-neck. Conservatives – 34,4%; Labour – 33,4%; Ukip – 13%; Liberal Democrats – 8,9%; e Greens – 4,9%. A North, o SNP concentra 48% das intenções de voto. Faltam 16 dias para a polling station.
O literary world vive agitado processo judicial. No centro das atenções está a Random House e Frau Cordula Schacht, filha de um ministro da economia do chanceler Adolph Hitler que reinvindica royalties sobre a biografia de Joseph Goebbels publicada em 2010 pelo historiador Peter Longerich. A descendente de Herr Hjalmar Schacht sustenta que os escritos do mestre da propaganda são parcela da herança paterna enquanto a editora da constelação britânico-germânica Penguin e Bertelsmann argumenta com moral rights, propondo até que qualquer pagamento de direitos sobre a investigação científica do Fellow da University of London se destine a uma Holocaust charity. O caso em trânsito num tribunal de Munich (Ger) é duplamente surpreendente. Tanto por alguém reivindicar copyright sobre os feitos da Nazi elite, quanto ainda pelo que contém de indelével tentativa de controlo sobre a inconveniente história do III Reich. — Well. When candles are away, all cats are grey.
St James, 20th April
Very sincerely yours,
V.