A FORÇA DO ATO CRIADOR
Acerca do espaço das casas de Frank Lloyd Wright, no início do séc. XX.
‘From the outset Wright devoted himself to the problem which was to be his life interest – the house as a shelter.’, Sigfried Giedion
Sigfried Giedion em ‘Space, Time & Architecture’ (2008) afirma que Frank Lloyd Wright (1867-1959) encontrou na tradição da casa americana e no exemplo de Sullivan e de Richardson, elementos que se constituíram como base para a sua arquitetura.
No início do séc. XX, Frank Lloyd Wright procura enraizar as casas na paisagem. Através da enfatização de fluidez horizontal dos espaços (porque como Wright afirma, os planos paralelos à terra identificam-se com o solo e fazem que as construções pertençam ao terreno); do uso de diversos materiais locais e naturais, por vezes contrastantes (a pedra, o tijolo, a madeira); do seguimento das formas do terreno como acontece em Taliesin; da construção de casas em dobras da terra, fazendo parecer que crescem da natureza.
‘From the beginning Frank Lloyd Wright faced toward an organic perception of the world. Organic in the sense of Sullivan and of Wright, is a protest against the split personality, against a split culture. It is identical with that development in which thinking and feeling approach coincidence.’, Giedion
Wright hesita no uso de novos materiais e na abertura das suas casas através de paredes de vidro. Wright prefere ligar o homem à terra o mais intimamente possível, introduzindo a natureza na casa através sim, de paredes ásperas e robustas. E Wright utiliza também a luz natural como elemento essencial na definição do espaço. Nos seus projectos, consegue aumentar a quantidade de luz na habitação através de iluminação indirecta, de iluminação proveniente de origens inesperadas e por vezes conseguindo até permitir a entrada de luz no volume a partir de três lados diferentes.
Frank Lloyd Wright procura também criar continuidade espacial através de uma vitalidade expansiva e de uma interpenetração de volumes. Em ‘Space, Time & Architecture’, lê-se que Frank Lloyd Wright trabalha, fundamentalmente, a casa como se tratasse de um espaço único. O espaço interno somente se diferencia para responder a necessidades especiais – cozinha, quartos dos empregados, caldeira. Para organizar as suas plantas, Wright serviu-se dos exemplos das casas americanas do séc. XVII, que dispunham de uma larga lareira ao centro. A partir deste núcleo (simbólico, real e maciço), diferentes espaços alastram-se rasteiros ao chão, do centro para a periferia. A maior parte das casas de Wright, em especial as de dimensão mais reduzida, são geradas a partir de uma planta cruciforme – dois volumes de diferentes alturas interpenetram-se.
‘A definição mais precisa que se pode dar actualmente da arquitetura é a que tem em conta o espaço interior. A arquitetura bela será a arquitetura que tem um espaço interior que nos eleva e nos subjuga espiritualmente.’, Bruno Zevi em ‘Saber ver a Arquitectura’, 1977
Sendo assim, a arquitectura de Wright centraliza-se na realidade do espaço interior, e no seu contacto absoluto com o exterior. A planta livre não é uma afirmação do volume arquitectónico, mas o resultado de uma procura total interior que se exprime em termos espaciais. Ao partir de um núcleo central e ao projectar os vazios em todas as direcções faz resultar uma riqueza volumétrica que pretende uma libertação do puro racionalismo que só responde à técnica e à utilidade. (Zevi, 1977)
Ana Ruepp