RÓMULO DE CARVALHO - ANTÓNIO GEDEÃO
Alcina do Aido e Maria Gertrudes Bastos, suas antigas estagiárias, recordam-se:
Uma preocupação que nos procurava incutir com a maior ênfase era a necessidade de, nas vésperas de uma lição em que se previa a realização de uma certa experiência, executá-la com o maior cuidado, testando todo o material até ao último pormenor, na tentativa de evitar qualquer falha que pusesse em risco a conclusão que se pretendia tirar.
Os antigos alunos deste grande professor de Físico-Químicas do Liceu Normal Pedro Nunes, nomeadamente os que estudaram os seus textos sobre pedagogia e didáctica, reconhecem-lhe uma raríssima capacidade no método de expor ao longo dos 42 anos que tão extraordinariamente leccionou. Rómulo de Carvalho numa Palestra cujo tema era subordinado à Física como objecto de ensino, dizia:
«Por vezes tomam-se como sinónimas as expressões método indutivo e método experimental. Não nos parece nada razoável esta sinonímia na metodologia pedagógica da Física em virtude de ser a experiência uma das vias, e não a única, que preparam o espírito para a indução.»
E mais adiante
«Somos nós, os que ensinamos, com as palavras que escolhemos e proferimos com as nossas hábeis insinuações, com as nossas escamoteações oportunas, com o nosso conhecimento sagaz do aluno e das suas circunstâncias.
Nós somos, em última análise, o método, o processo a forma e o modo.»
Meu admirável Mestre, esta é a ideia que se alia à preocupação de despertar o espírito crítico nos alunos. Aliás desde os anos 80 que muitos são os que defendem que a função do professor é apenas a de «criar situações de aprendizagem» e se têm atenuado os conceitos de investigação e ensino já que toda a aprendizagem é descoberta.
E a descoberta da palavra contida no átomo só a poesia a conhece, e quando a conhece tão profundamente como o Poeta António Gedeão conhecia, eis
Lição sobre a água:
Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.
(…)Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.
E eis que
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
E assim Professor e Poeta souberam nomear o mundo e escutar-lhe as pausas, os amores, as aflições, e as pastoras e os pastores inocentes, com sinais de lume, acenderam telas como docentes nas mãos de alunos.
M. Teresa Bracinha Vieira
2015