A FORÇA DO ATO CRIADOR
Jane Jacobs - complexidade, simultaneidade e variedade urbana.
‘Life attracts life.’, Jane Jacobs, The Death and Life of Great American Cities, 1961
‘You can't rely on bringing people downtown, you have to put them there.’, Jane Jacobs, The Death and Life of Great American Cities, 1961
Em 1956, Jane Jacobs (1916-2006) no artigo que escreveu para a revista Fortune, ‘Downtown Is for People’, afirma o seu desagrado pela Cité Radieuse de Corbusier. Ora, o aparecimento da cidade vertical e zonificada pensada por Le Corbusier determinou em grande parte o planeamento urbano do pós-guerra (inclusivamente o planeamento de Nova Iorque, conduzido por Robert Moses).
Para Jane Jacobs, as cidades são e devem ser sim, organismos complexos que criam uma lógica própria. O livro The Death and Life of Great American Cities (1961) de Jacobs apresenta um estudo dos factores que voltam a criar vida e espírito às cidades. Jane Jacobs, defende a grande cidade através de um planeamento que esteja ao serviço da vida urbana, mas também do valor humano e cultural – a favor da complexidade, da simultaneidade e da variedade. E para assegurar a diversidade e o pleno funcionamento da cidade de Jacobs, é necessário uma forte densidade residencial, um tecido urbano cerrado, uma mistura de funções e uma aproximação dos pedestres à vitalidade e à concentração das funções urbanas. Habitação, locais de trabalho, de comércio e de lazer devem estar intimamente integrados uns nos outros e não segregados.
Para Jane Jacobs, existem três factores importantes que determinam a cidade:
A Rua
A rua, para Jacobs, é o elemento mais importante numa cidade não só pela sua capacidade de demarcar claramente o espaço público do espaço privado (que não se devem misturar nem ser ambíguos como acontece em contextos suburbanos), mas sobretudo porque a utilização constante da rua oferece aos utilizadores o mais eficaz meio de segurança, de contacto e de actividade.
Jacobs declara que a rua deve ter olhos – pertencentes aos proprietários da rua. Os edifícios da rua devem estar orientados para a rua e não devem virar o seu tardoz ou apresentar lados cegos. Os passeios devem apresentar utilizadores ininterruptamente – aumentando o número de olhos presentes na rua e dentro dos edifícios que a delimitam: ‘Nobody enjoys sitting on a stoop or looking out a window at an empty street. Almost nobody does such a thing. Large numbers of people entertain themselves, off and on, by watching street activity.’ Jacobs determina que passeios com uma largura entre 6 a 9m são suficientes para acolher qualquer actividade das crianças e dos adultos e incluir árvores para dar sombra. Porém a rua, para ser utilizada tem de oferecer uma grande quantidade de lojas e lugares públicos ao longo dos passeios – alguns destes lugares devem também ficar abertos à noite. Lojas, bares e restaurantes contribuem para dar segurança à rua, pois oferecem aos transeuntes razões concretas para utilizar a rua. Para Jacobs, os habitantes da cidade não buscam a contemplação do vazio, da ordem e da calma. Uma rua viva possui sempre em simultâneo usuários e observadores – numa rua, a confiança estabelece-se através de uma série de numerosos e pequenos contactos.
O Parque
Para Jacobs, existem quatro regras importantes para desenhar um parque: complexidade (ao estimular uma variedade de usos e utilizadores reincidentes); centralidade (ser cruzamento principal, ponto de pausa, ou auge); acesso à luz solar; e encerramento (através da presença de edifícios e de uma diversidade de ambientes). E se uma cidade for bem sucedida em aceitar a diversidade de usos e de utilizadores nas suas ruas, com mais sucesso casualmente e economicamente a sua população poderá animar e apoiar parques bem localizados que podem dar vida ao bairro, em vez de vacuidade.
O Bairro
O Bairro deve conter uma multiplicidade de edifícios que varia em idade e condição.
Jacobs recomenda, a existência de quatro pilares no planeamento eficaz para um bairro de uma cidade: 1) desenvolvimento de ruas animadas e interessantes; 2) existência de um tecido de ruas em rede contínua e com um tamanho e poder de sub cidade; 3) intensificar a complexidade e multiplicidade de usos, através da presença de parques, praças e edifícios públicos incluídos na rede das ruas; 4) promover uma identidade funcional a nível do bairro.
Ana Ruepp