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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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MARIA BARROSO (1925-2015)

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O que acrescentar?
por Leonor Xavier

 

Mais de vinte anos depois da conversa, em que me perguntou se eu seria sua biógrafa, é-me difícil fazer uma reflexão objetiva sobre a personalidade, o mérito, o percurso da mulher notável que é Maria Barroso. Na sua personalidade, vejo a liberdade como princípio de vida, a família como força e estrutura de carácter, a política como disciplina de comportamento, a fé como misteriosa e firme revelação em idade madura.

O que acrescentar que sobre ela não se saiba ou não tenha sido dito?

Mais do que factos da vida pública, são agora desejados os detalhes sobre a sua vida privada. Se discretamente atenuou a sua própria expressão, para mais ser conhecida por primeira-dama e mulher de Mário Soares. Se foi essa a sua vontade, em vez de se distinguir pela sua intervenção e ação nas causas em que se tem envolvido, desde sempre. Perguntam-me como é a organização dos seus dias. Se é uma mulher independente. Se determina os rituais da casa e da família. Se tem uma relação próxima com os netos. Se tem uma agenda própria. E mais e mais. Parecem ser mais importantes estas minúcias do que o seu percurso de vida. O ambiente em que nasceu, os estudos, os amigos, o teatro, o amor, a política.

Talvez sejam menos conhecidos os seus concretos gestos de atenção aos outros, mais ainda aos mais simples, aos anónimos cidadãos que chegam perto, a dar-lhe uma palavra, a ouvir-lhe a voz. Poderão ser lembrados os seus tons de feminilidade, a sua maneira clássica de vestir, a determinação no estilo, a harmonia nas cores, a escolha do pequeno enfeite que sempre usa, a combinar com as variadas circunstâncias em que está presente. Na sua expressão pública, Maria Barroso diz a importância da família, na ordenação da sociedade. E na vida privada fala da casa dos pais, das brincadeiras com os irmãos. Lembra cenários de juventude à roda da mesa de jantar, repartidas então as fases difíceis de todos e de cada um. Forte e claro é o discurso amoroso constante, sempre que fala do seu amor. As prisões, os exílios, as separações, os medos. A coragem, o atrevimento, são nela justos motivos de orgulho.

Não tem temperamento para silêncio ou omissão, nas questões políticas e sociais de atualidade ela afirma-se. Quando tem uma causa a defender, fala o quanto pode, debate, imagina, propõe ideias, dá sugestões, defende opiniões, abre hipóteses de solução. Sabe que os problemas que apresenta pertencem, preocupam e dizem respeito a todos e a todas. Podendo ser intolerante e até radical quando discorda, ela sente a compaixão, pratica a solidariedade, a doçura. É reconhecido o seu estilo, o seu jeito, a sua maneira de ser na fantástica capacidade de comunicação que mantém com as instituições, os poderes, os cidadãos.

Na sua postura, vejo a marca de formação que recebeu como atriz nos anos 1940 da sua juventude, quando no Teatro Nacional pertenceu à Companhia Amélia Rey Colaço-Robles Monteiro, surpreendendo pelo talento que a poderia ter consagrado como uma das notáveis da sua geração. Aplaudida então pelo público e pela crítica, para sempre lhe ficou a clareza na maneira de falar, a certa medida das frases, a colocação de pausas e pontos finais, o momento justo da respiração. As costas direitas, o olhar determinado, a expressão dos olhos a confirmar o que diz e como diz.

Sem desânimo nem pausas ou ausências, Maria Barroso tem tido perto de duzentas intervenções públicas em média, por ano. Umas largas dezenas de idas e vindas entre Lisboa e as mais variadas geografias do país não a cansam. Uma vintena de viagens anuais, acrescentando aos destinos europeus as mais variadas rotas de longa distância estimulam-na. Para que a solidariedade cresça no seu curso para a transformação dos males deste mundo, faz conferências nas escolas secundárias e nas universidades, promove debates e congressos, anima causas e ações. A violência na televisão e na imprensa, em especial, tem sido motivo de textos e pronunciamentos. Assim como a família, a educação, a violência, a assistência aos flagelados, às vítimas de seca ou de chuva, têm sido suas razões de ser. Pela defesa dos direitos humanos e pela cooperação inspira-se para campanhas a lançar, cresce em energias, tem disponibilidade absoluta. Sempre que procura ajudas, apoios, parcerias, raramente recebe recusas, porque a urgência de realizar é total e as soluções possíveis existem.

Nestes dias sombrios, releio o que Maria Barroso me disse e escrevi, no último capítulo da sua história: "O meu reencontro com a fé deu-me uma serenidade muito grande para olhar todo o percurso da minha vida, despedir-me deste mundo sem receio nem angústia."

 

in Diário de Notícias, 29 de janeiro de 2015
Fotografia © Reinaldo Rodrigues/Globalimagens

LONDON LETTERS

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The Greek fire, 2015

É Oxi, Nein, Não, No. Os gregos rejeitam os termos do novo resgate financeiro em referendo histórico que diz da tragédia helénica e ainda da farsa europeia. Andamos nisto há cinco anos.

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A moderada reação da City à ruína do South confirma o detalhe político no plano de sanitarização em torno da rebelde Athens. Mas o cerco tem vítimas além do risco da Grexit crescer e as bolsas tremerem. O dano maior consiste no facto de a ideia do pós-guerra de uma collaborative Europe estar a morrer em mãos insensatas. Pior: com esta cairá um dos dois pilares da NATO e da segurança ocidental! — Chérie, il n'est pire aveugle que celui qui ne veut pas voir! Passam 10 anos sobre o London 7/7 em reino sob alerta crítico de ameaça terrorista. O Chancellor George Osborne apresenta o 2015 Tory Budget em Westminster, com atenções centradas nos novos cortes no assistencialismo e nos impostos. — Hmm. Two wrongs don't make a right. Batalha de titãs também em Wimbledon, com Mr Andy Murray a disputar a segunda semana dos jogos. Sandringham acolhe o batismo da Princess Charlotte of Cambridge.

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Summertime within paradoxical hectic days. Uma volta pelos jornais europeus e percebe-se o quanto as elites estão incomodadas com o desesperado «não mais» da Hellenic Republic. Não por acaso temem o contágio político; não o seu risco monetário. O tom comum da Press é que os gregos desafiam Die Deutsch Europa. Mesmo os céus quase votam neste jogo de alto risco e Berlin vive a lightening stormy night, escrevem nas diversas línguas da neo Babel. Ora, a decisão 61,3-38,7% no #Greferendum tem o seu quê perigoso. A lembrar uma frase do bósnio que acende o rastilho da First World War – Antes morrer de pé que viver de joelhos. A memória histórica pesa pouco, todavia, na Merkellande de que os eurocéticos de todas as cores atestam agora não temerem sair. Afinal, invocando a pena fina de Mr William Hazlitt, que significado terão Verdun-sur-Meuse, Passchendaele ou Somme para os nossos doutos eurodecisores de hoje!?

Caso o senso regresse a Brussels e a Athens talvez, quiçá, tais ilustres e ilustrados possam realizar real negociations. Caso contrário, vacilante na bússola, a Eurozone progredirá na terra incognita de que amiúde fala Mr Mario Draghi no European Central Bank. Por outras palavras, lavrando an impossible situation. Se por cá se questionam sobretudo os modos de uma cada vez mais provável Grexit.it, a par dos efeitos numa eventual Brexit.irl, pergunto-me o porquê desta fuga do futuro nas chancelarias continentais. Qualquer que seja o cenário para o qual tendam o/as senhores/as do Euro, aquém Channel, tomam-se previdências cautelares na City e arredores. Justamente quando aos pés das Balkans, na sensível encruzilhada entre Europe, Asia e Africa, o fogoso Mr Yanis Varoufakis apresenta a sua demissão de ministro das finanças do país que um jornal berlinense hoje mesmo rotula como Das zerissene Land

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Provando a distraídos que as bandeiras possuem a deep symbolism, os US envolvem os (perdi-lhes-a-conta) candidatos à White House numa vivíssima discussão sobre se o estandarte da Confederacy deve estar, ou não, num museu, decorridos 150 anos sobre a American Civil War ganha pelas forças nortistas do republicano President Abraham Lincoln. Na green and pleasant land de Blake, o fio dos dias é outro. Em vésperas do sempre colorido debate orçamental na House of Commons, um sorridente casal passeia com os filhos em Sandringham até St Mary Magdalene. A igreja recebe uma cerimónia privada, com 21 official guests que incluem a Queen e os Prince Philip, Charles, William e George entre outros. Todos, discretamente, celebram o batismo da 9-week old Princess Charlotte Elizabeth Diana of Cambridge. — Well! Method is essential for knowledge and for life.

 

St James, 6th June

Very sincerely yours,

V.