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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

LONDON LETTERS

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Bloomsbury times, 1901-2015

Esplendidamente elitistas, todos eles de algum modo marcam a Edwardian era e mais além. Prova disso é o interesse que sucessivas gerações lhes dedicam. A Bloomsburyana tem agora mais um British drama a retratar o grupo de

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ilustrérrimos personagens que circula pelo 22 Hyde Park Gate logo após o passamento da Queen Victoria. Life in squares é o three-part serial de Ms Amanda Coe que a BBC Two está a emitir, desta feita centrado na personalidade de Mrs Vanessa Bell (1879-961). — Chérie! Les goûts et les couleurs ne se discutent pas. Temíveis sombras descem sobre a reputação de Sir Edward R G Heath (1916-2005). A polícia investiga alegações de child abuse pelo líder do Conservative Party entre 1965-75 e Prime Minister do UK de 1970 a 74. Nos altos círculos também The Old Bailey Courthouse causa nova baixa entre os City golden traders, por crime de manipulação das “worldwide interest rates." — Hmm. Variety is the spice of life. A crise dos migrantes agrava-se nas portas de Calais. Mrs Cilla Black parte aos 72 anos, com cascata de tributos à lendária Liverpool Girl que acompanha a epopeia dos Beatles. O US President Barack Obama apresenta em Washington audaz plano para o climate change.

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Unusual Summer weather at Central London. Há 100 anos, muito perto daqui, o mesmo céu acolhe um grupo de amigos que deixa legado para a posteridade e a BBC 2 agora revisita numa série dirigida pelo cineasta suíço Mr Simon Kaijser da Silva e protagonizada por nomes como James Norton, Lydia Leonard e Phoebe Fox (até à I World War) ou ainda por Eve Best, Catherine McCormack ou Rupert Penry-Jones (durante os tardios 1930s). O círculo original inclui famosos como Giles Lytton Strachey (biógrafo), Duncan Grant (pintor), Clive Bell e Roger Fry (críticos), John Maynard Keynes (economista) ou E M Forster e Harold Nicolson (ensaistas). Rodam em torno dos filhos de sir Leslie Stephen, um destacado autor vitoriano: o psicoanalista (Adrian Stephen), a escritora (Virginia) e a pintora (Vanessa) mais o primo por quem todos algures se enamoram (Duncan). O primeiro episódio decorre no Bloomsbury District, bem antes da Monk’s House em Rodmell e da Charleston FarmHouse em East Sussex, marcadamente a claro-escuro, ousado, no início dos laços estéticos, inteletuais e afetivos que, no feminino e no masculino, vão estabelecendo na distendida England do liberal King Edward VII até estilizarem o gosto nas décadas seguintes em toda a Anglosfera.

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untitled6.JPGCreio ter sido Prof Hermione Lee, uma das biógrafas de Mrs Virginia Woolf nos nossos dias, a colocar em equação preto no branco a raiz do persistente interesse no tempo pelos Bloomsberries e de um incisivo escrutínio a que há muito não escapa uma plural intimidade. Ora, faceta igualmente curiosa é o ângulo com que cada época aborda o Bloomsbury Group, ora como lote de libertinos da moral, ora enquanto pioneiros inovadores das belas artes. Os dias de Hyde Park são descritos nas milhentas páginas de reminiscências escritas pelos próprios em cartas, diários e memórias. Quadros singulares aparecem na tela “Memory Club” de Mrs Bell, hoje na National Portrait Gallery, e no capítulo “Old Bloomsbury“ de Mrs Woolf, em Moments of Being, sem olvidar os floridos detalhes no design de Mr Grant nos Thirties. Life in squares arranca na primeira tendência, cumprindo a sua premissa de disponibilizar “an intimate and emotional drama.” Encerrada a introdução  comum do espartilho vitoriano, ver-se-á o que reservam os demais episódios. Admito, aliás, que a leitura das missivas de uns e dos outros a tal possa conduzir, mas sobrará sempre aquele virginiano som em The Waves ou aquelas vanessianas tonalidades fortes do Self portrait, cuja sensibilidade transcende o fino linho dos lençóis.

Outros temas acordam a indolente atenção do Summertime. O Tory Government anuncia mais duras medidas políticas para gerir a sensível crise das migrações que se avoluma na fronteira de Calais. Com o Prime Minister de férias em Cornwall, sucedem-se reuniões em Downing Street e também as críticas à atuação da Home Secretary RH Theresa May e do homólogo francês Monsieur Bernard Cazeneuve. Após o envio de guardas privados, cães farejadores e materiais para erguer vedações em torno do Eurotunnel e da M20, agora atua-se na retaguarda doméstica. Quem ceda casa a ilegais incorre em crime e multa penal. O caso tinge-se assim de demasia, quando as estatísticas oscilam entre os 417,000 e 863,000l emigrantes sem lei e papéis no reino. Todavia, sob peculiar silêncio do Ukip e da European Union, instala-se por cá uma vozearia amiúde tonta em torno do “financial and human cost” da Operation Stack, envolvendo tanto o parqueamento de camiões internacionais nas estradas do Kent para inspeção, como o transporte de táxi para London dos sírios, eritreus &tc detetados pelas polícias. A contra-corrente de ânimos que exigem já vigilância militar a South ergue-se o Bishop of Dover, advertindo políticos e jornalistas de “a lack of humanity” quando abordam a questão migratória. Em tempo soa o apelo do Right Rev Trevor Willmott: — “We need to rediscover what it is to be human.”

St James, 3rd August              

Very sincerely yours,

V.