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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ATORES, ENCENADORES - XXXVII

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NOTÍCIA DE UMA EXPOSIÇÃO REFERENCIAL DA ARTE CÉNICA

O Museu Nacional do Teatro e da Dança organizou na Cidadela de Cascais uma mostra denominada Pintores e Arquitetos que, precisamente, reúne e expõe (até 31 de agosto) cenários e figurinos da autoria de 42 artistas portugueses, cobrindo desde os anos 20 do século passado até aos dias de hoje através de centenas de projetos e de modelos devidamente situados na biografia e carreira artística dos artistas plásticos, e das peças, cenografia e encenação respetivas e nos teatros e datas dos espetáculos em que foram produzidas.

Trata-se, como se pode ver, de uma complementação vasta e abrangente da história do teatro-espetáculo moderno em Portugal, mas também da história das artes plásticas. E mais: dada a qualidade e obra correspondente dos artistas representados, a mostra revelas-nos também, através da identificação de um repertório que significa e envolve o que se fez nos palcos, como se fez, e quem o fez - porque o espetáculo teatral é um texto, uma encenação, uma representação, uma cena, cenários, figurinos para um público em locais e espaços determinados, quase sempre, ou muitas vezes, em edifícios próprios, com uma técnica e uma arquitetura específica. Artes plásticas, artes cénicas, literatura, direção de atores, em suma, espetáculo.

E esta abordagem global, exemplificada e documentada a partir de casos concretos, descreve a simbiose da arte portuguesa e dos seus criadores, neste caso, repita-se, na sua dimensão exclusiva ou não de artistas plásticos, no conjunto da criação teatral – daí que se justifique o seu relacionamento com atores e encenadores.

E nesse sentido, selecionamos aqui algumas referencias em que a ligação da criação é mais direta.

Talvez o caso mais flagrante seja Almada Negreiros, ele próprio interprete de criações cénicas próprias e alheias: Almada ator, mas também encenador, e obviamente cenógrafo e figurinista, em espetáculos que cobrem desde 1915/18 - “O Jardim da Pierrete” e outos espetáculos de cena - até concretamente ao vicentino “Auto da Alma” e “O Mar” em 1965/66. Isto é mais ou menos conhecido: mas ainda menos o será a pletórica de cenários e figurinos em que Almada colaborou, devidamente identificados e datados, aí incluindo revistas, óperas e espetáculos de teatro declamado.

Ora, Almada surge aqui como exemplo por definição destacado: mas este é o âmbito global da exposição. E podemos assim acrescentar, entre os 42 artistas plásticos/cénicos representados, mais nomes e obras de grande destaque no historial da arte portuguesa. Lembramos, como exemplos não exaustivos, colaborações cénicas, por vezes exclusivas ou dominantes ao longo de longas carreiras: Abilio Matos e Silva, Bernardo Marques, Carlos Botelho, João Abel Manta, um inesperado Eduardo Malta, Raul Lino, Francisco Relógio, Jorge Barradas, Vespeira, Stuart Carvalhais, Cesariny, Maria Keil, João Vieira, Eduardo Anahory, Estrela Faria, Lima de Freitas, Mili Possoz, e mais recentes Emília Nadal, Ana Vidigal, José de Guimarães, Gracinda Candeias, João Abel Manta, José Manuel Castanheira, Paula Rego, Pedro Calapez, Sá Nogueira, Júlio Pomar, Marta Wengorovius…

E destacamos novamente António Pedro, já aqui evocado, pois a sua participação na arte contemporânea é também transversal: artista plástico, dramaturgo, fundador e diretor de duas companhias de grande relevo na modernização do teatro português, Os Companheiros do Páteo das Comédias e o Teatro Experimental do Porto.

Mas voltando à exposição: como diz no catálogo José Carlos Alvarez, “pretende dar a conhecer alguns dos arquitetos e pintores portugueses que, de forma mais ou menos continuada, colaboraram na construção e na conceção plástica do Espetáculo, nas suas mais variadas formas: na ópera, na dança e no teatro musicado ou declamado”.  

A lista que acima deixo não é exaustiva. Mas o que se nota é esta simbiose de grande qualidade entre as artes plásticas e as artes do espetáculo.

Ora bem: pois não é o teatro uma arte plástica em movimento? E não é um quadro com personagens, uma encenação estática? E não é uma paisagem ou um interior, um cenário?

DUARTE IVO CRUZ