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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ATORES, ENCENADORES (XXXIX)

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NOTA BREVE SOBRE TEATROS UNIVERSITÁRIOS

Nesta série de evocações e análises do espetáculo teatral, é justo fazer uma referência, mesmo que breve, às iniciativas ligadas às Universidades. O movimento não é apenas dos nossos dias, muito embora se registe um desenvolvimento do interesse e sobretudo da estruturação de grupos universitários com continuidade, subordinados a uma  estética e a uma doutrina, chamemos-lhe assim, que se foi afirmando sobretudo a partir dos anos 30/40 do seculo passado, e teve momentos de grande projeção em épocas mais recentes, como veremos a seguir.

Num texto integrado nesta série de artigos (Atores, Encenadores - XXIII - “Três Mestres da Literatura Portuguesa que Foram Atores” - 12.05.15) referi o interesse de Eça de Queiroz pelo teatro, expresso designadamente em numerosos personagens e situações da obra romanesca, o que aliás contribuiu para as adaptações e versões dos romances à cena e ao cinema. E evoquei a própria experiência de Eça como ator enquanto cursava Direito:

“Comecei por me fazer ator do Teatro Académico. Era pai nobre. E durante três anos, como pai nobre, ora grave, opulento, de suíças grisalhas, ora aldeão trémulo, apoiado no meu cajado, eu representei, entre as palmas ardentes dos Académicos, toda a sorte de comédias e dramas - tudo traduzido do francês…” (in “Últimas Páginas – O Francesismo”) . Aliás, em “As Farpas” são recorrentes as referências a espetáculos e a peças da época. (cfr. a minha “História do Teatro Português ”designadamente  págs. 180 -181 e 322). E Lucciana Stegagno Pichcio refere peças francesas traduzidas por Eça e “um esboço de drama sobre o tema de ”Os Maias” (in “História do Teatro Português págs. 284, 409, 410).

Em qualquer caso, a única tradução que nos chegou foi da peça “Philidor” de Joseph Bauchardy (1810-1870) - e sobre ela, escrevi outro local: “esta peça recomenda-se apenas por duas sólidas razões – a tradução impecável e literariamente importante e o curiosíssimo encadeado de cenas de teatro-no-teatro com a consequente reconstituição do meio teatral da época” (in “Repertório Básico de Peças de Teatro” pág. 158; cfr. também “Vivência Teatral em Eça de Queiroz” de António Manuel Couto Viana no “Dicionário de Eça de Queiroz” dir. A. Campos Matos págs. 946 e segs).

Ora bem: a tradição do teatro na Universidade, que Eça recorda e documenta, manteve-se e alargou-se à Universidade de Lisboa às restantes Universidades que se foram criando. E é justo referir a ação de Paulo Quintela no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, a partir de 1938, com destaque para a encenação de dramaturgos clássicos portugueses, designadamente Gil Vicente mas não só, – e isto, num envolvimento cultural adequado ao meio universitário, aos respetivos atores e espetadores.

Na sequência deste movimento, foram surgindo, nos meios universitários, iniciativas de qualidade e continuidade ligadas ao teatro. Nelas se formaram ou nelas colaboraram ao longo das gerações de estudantes e docentes, nomes que se afirmariam no meio teatral ou em estudos de literatura dramática. Luís Francisco Rebello, na “Breve História do Teatro Português”, cita designadamente o Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra a partir de 1956, com um repertório que cobre desde Molière, Calderon de La Barca, até  Adamov e  Bertold Brecht. E podemos também referir os grupos teatrais das Universidades do Porto e das Faculdades de Letras e de Direito de Coimbra e de Lisboa.

DUARTE IVO CRUZ