ATORES, ENCENADORES (XL)
Francisco Ribeiro em “Um Homem Só” de Costa Ferreira – Teatro Nacional Popular - Teatro da Trindade, 1959
Desenho de Frenando Bento, in Dicionário do Teatro Português; dir. Luis Francisco Rebello/ Prelo ed.
OS “COMPANHEIROS DO PATIO DAS COMÉDIAS”
Temos aqui feito evocações e análises de um conjunto de iniciativas que, a partir de meados do século passado, marcaram a modernização do meio teatral português, no plano da produção de espetáculos e da cultura subjacente. Cabe assinalar que essa ação se manterá por décadas, em sucessivas iniciativas que venciam as conhecidas dificuldades, mas simultaneamente marcavam uma capacidade de aculturação e um convívio público e com o público (e a expressão não é redundante) marcada pela qualidade e perseverança de quem assumia, programava e realizava esse trabalho, árduo, difícil, tantas vezes ingrato de renovação.
Nessa linha de evocações, já referimos ou referiremos o Teatro Nacional Popular e os Comediantes de Lisboa, ambos de Francisco Ribeiro, o Teatro dArte de Lisboa de Orlando Vitorino e Azinhal Abelho, o Teatro Experimental do Porto, o Teatro Experimental de Cascais ou mais tarde, o Teatro Estúdio de Lisboa ou a Companhia Nacional de Teatro de Couto Viana, entre outros mais: e é sempre justo lembrar os a empresa Rey Colaço-Robles Monteiro, evocando expressa e implicitamente, o que significou naquelas dezenas de anos - e isto, com plena e assumida consciência dos aspetos globais, positivos e negativos, inerentes. Porque, em qualquer caso, houve uma indiscutível ação cultural global e um indiscutível profissionalismo.
E assim é com os Companheiros do Pátio das Comédias que, a partir de 1948, desenvolveram por pouco tempo aliás, uma política de aproximação cultural a partir de critérios de exigência notáveis. Basta lembrar os nomes que integraram a iniciativa: Costa Ferreira, no início de uma brilhante carreira de ator profissional, e, com ele, nomes que marcaram a vida cultural da época, e em tantos aspetos marcam-na até hoje - desde logo Jorge de Sena, mas também António Pedro, Tomaz Ribas e, na cenografia, Lima de Freitas.
E é de assinalar esta simbiose de profissionalismo nas artes de espetáculo com a qualidade crítica e com a expressão e projeção no plano da cultura – com designadamente Jorge de Sena, ele próprio dramaturgo renovador na História do teatro português e também, em simbiose, da História da cultura – a prolongar no exterior essa ação notável e duradoura.
Todos estes escritores foram pois também dramaturgos: e como tal haveremos de os invocar. Aqui, porem, falaremos da ação cultural na renovação difícil da cultura e do meio teatral, com destaque agora para Costa Ferreira. E basta considerar a época de fundação dos Companheiros do Pátio das Comédias para avaliar as dificuldades inerente…
Talvez por isso, o grupo iniciou a sua atividade em salas mais ou menos improvisadas, e, a partir de certa altura, numa ligação com os meios universitários, no Instituto Superior Técnico. A certa altura “muda-se” para o então ainda existente Teatro Apolo, antigo Teatro do Príncipe Real, na esquina da Rua da Palma com a Praça da Figueira, demolido no início dos anos 50.
Mas deve ser assinalada a vocação e a ação percursora de experimentalismo dos Companheiros do Pátio das Comédias. Recorde-se o repertório, e recorde-se que isto se passava em 1948/49: Tchecov, Gogol, Alfieri, Labiche, com o célebre “Chapéu de Palha de Itália”, e Feydeau com o não menos célebre “Feu La Mére de Madame” aqui chamado “A Sogra de Luís XIV”, além de Molière com “A Escola de Maridos”; e, nos dramaturgos portugueses, João Pedro de Andrade com a “Continuação da Comédia” e peças de A. Ventura Ferreira e do próprio Costa Ferreira que se afirmaria como um dramaturgo de grande qualidade em algo como 20 títulos.
E recorde-se ainda, para terminar, a qualidade do elenco: Sara Vale, Carlos Duarte, Idália Guimarães, o próprio Costa Ferreira, Canto e Castro, Armando Cortez, Carlos Duarte… Nomes que marcaram uma época no meio teatral e cultural português, a começar pelo próprio Costa Ferreira.
Dele escreveu Urbano Tavares Rodrigues: “essencialmente um homem de teatro, um comediante no melhor sentido” (in “Noites de Teatro” vol I 1961 pag.244).
DUARTE IVO CRUZ