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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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A FORÇA DO ATO CRIADOR

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Arquitetura Moderna em Portugal e o I Congresso Nacional de Arquitetura.

 

‘Não concebo o ato de criação como um dinamismo cego ou como um facto gratuito. Só se consegue valor numa obra se nela confluírem tudo o que represente uma conquista da realidade para a sociedade que a recebe e que essa conquista esteja encarnada numa forma que reuna as condições necessárias para ser atuante no seio daquela sociedade’
Antoni Tàpies, 1955

 

O final da década de quarenta apresenta-se como o grande momento de reflexão da arquitetura moderna em Portugal (que, com plenitude, nunca chegou a manifestar-se). E assiste-se ao que se pode designar de rutura moderna. Foram as Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAP: 1946-56) que mais contribuíram, com o seu carácter global e de oposição (eram evidentes as ligações ao MUD), para uma procura da vanguarda, através da tomada de consciência da realidade contemporânea. Inicialmente, os artistas sentiam cumplicidade pela luta contra o regime e expunham como sinal de resistência. Era o momento certo para aplicação das ideias funcionalistas e socializantes do movimento moderno. Porém, desde logo, o olhar neo-realista afirmado nas EGAP, nos primeiros anos, acrescentava uma atenção maior aos factos humanos puros. Esta consciência social atualizar-se-á numa intervenção que evita o internacionalismo idealizante, buscando inovação em esquemas populares, visando o cidadão comum. A época do pós-guerra trás sobretudo um favoritismo, pelo desenho funcional, direto e simples – era necessário construir rápido, em série e com economia de meios – e a resposta mais completa e adaptada a esta circunstância é o Estilo Internacional.

Desde 1946, os arquitetos rompem com a arquitetura nacionalista. Muitos querem pôr em prática a arquitetura moderna pura - mas poucos estabelecem uma visão crítica.

O I Congresso Nacional de Arquitetura (Lisboa, 1948) transforma e acelera o tempo e faz nascer uma geração de arquitetos com novas intenções, não apenas políticas, mas sobretudo sociais. Agora sim, acreditava-se em mudar a sociedade através da arquitetura e em reconquistar a liberdade de expressão. O Congresso teve importantes conclusões entre as quais se destacam: renovação do Sindicato de Arquitetos, assumindo Keil do Amaral a presidência; fundamentação da nova arquitetura a partir dos grupos profissionais ICAT (Iniciativas Culturais Arte Técnica) e ODAM (Organização dos Arquitetos Modernos); renovação do ensino para melhor corresponder às necessidades contemporâneas; fortalecimento da classe dos arquitetos com reconhecimento público da sua missão social; valorização do planeamento urbanístico; concessão de prioridade aos programas de habitação social, equipamento e indústria - com renovação do código linguístico e dos respetivos regulamentos; recusa dos bairros sociais salazaristas; apoio da ideologia arquitetónica do racionalismo europeu dos anos vinte e trinta (Gropius e Le Corbusier) e da nova arquitetura brasileira de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Reidy.

Ora, o Congresso abriu sobretudo caminho a uma correção/revisão da arquitetura moderna, através do abandono de uma dimensão abstrata e distante da dimensão humana – o modernismo puro com as suas intenções sociais, depressa se tornou pesquisa meramente formal. São as artes plásticas dominadas pelo neo-realismo e arquitetos como Keil do Amaral e Távora, que põe em prática uma arquitetura social, mais humana, revisionista do movimento moderno – um tradicionalismo comunicante com a vida local, pela divulgação aturada da arquitetura regional.

 

Ana Ruepp