LONDON LETTERS
The faces of power, 2015
O sorriso é indeclinável, tal qual é a indeclinabilidade da ironia na gostosa literatura de exílio. O Sunday Times informa perfilarem-se 18 candidatos (Yes, eighteen!) à sucessão de RH David Cameron na Tory Leadership, posto que o Prime Minister cedo revela na última campanha eleitoral que não disputará a batalha legislativa em 2020. O número tanto revela o consenso sobre a potencial fraqueza do Labour Party sob Jeremy Corbyn MP, quanto diz das rivalidades face ao príncipe George Osborne.
— Chérie! C'est la poule qui chante qui a fait l'œuf. A curiosidade sobre os pretendentes endereça-me para boa fonte. As casas de apostas, porém, preferem o buzzword bingo em torno do sermão do PM na conferência dos Conservatives que decorre em Manchester. O "you can’t trust Labour” está em alta, denotando que o plano da maioria visa já a bola e não mais o jogador. — Well. Trust in God, but tie your camel tight. Lord Denis Winston Healey parte aos 98 anos, com aura de virtude entre os trabalhistas, que descrevem o chanceler dos anos 70s como “the best Prime Minister the party never had.” O President François Hollande e a Bundeskanzlerin Angela Merkel debatem a guerra síria com Mr Vladimir Putin, em Paris, enquanto a aviação russa ataca o Isis. O Nobel Comittee começa a desvendar, em Oslo, a galeria dos premiados em 2015.
Indian Summer days numa amena Central London. Momentos também de candura, para o olhar e o paladar. As vistas detêm-se em Hatfield House (Hertfordshire), na tela de Elisabeth I atribuída a Mr Isaac Oliver [~1565-1617]. As leituras passam pela Iberia e vagueiam na simpática vida e graciosa correspondência de um idiossincrático general português: o duque de Lafões, que, com 82 anos, capitaneia o exército lusitano contra os hispanos nas vésperas das invasões peninsulares por Bonaparte. Só um pedaço da sua prosa, relativo à superfluidade de combate sério: “Para quê? (...) As esporas da França fazem andar a Espanha; as da Inglaterra fazem-nos andar a nós. Já que o mandam, pulemos: que se ouçam os guizos, pois que é necessário — segundo dizem. Mas por amor de Deus! não nos façamos dano: rir-se-iam demasiado à nossa custa!” Com a War of the Oranges na mente, observo a alegre conferência Tory na (so-called) ‘Madchester.’ Após a maioria de sufrágios em Springtime e rijas sondagens nos Autumn days dando RH JB Corbyn como “the Britain’s least popular new opposition leader,” o Chancellor of the Exchequer acentua a caminhada do partido para o centro político. RH G Osborne promete “to shake Britain out of its inertia.”
O meu don telly favorito tem uma nova produção nesta era de volatilidade: The Face of Britain: The Nation Through Its Portraits. O Professor Simon Schama explora a história indígena através de belos retratos dos influentes, na National Portrait Gallery e na BBC2, cerca de centena e meia de propostas viajando nos séculos até às selfies contemporâneas, entre os grandes Francis Drake, Queen Bessie, Master Shakespeare e Lawrence Sterne ou Winston S Churchill e Princess Diana, na sequência do lançamento de livro e de audiolivro pela Penguin House. A exposição em St Martin’s Place (Charing Cross, Lon) apresenta-se em blocos temáticos sobre o poder, os poderosos, a fama, o amor e o ego (power, people, fame, love, self) e é agora ainda coordenada com a coleção da Oxford Dictionary of National Biography, que disponibiliza online o essencial das vidas destes homens e destas mulheres sob a cuidada edição de Sir David Cannadine. Trata-se de um olhar amiúde surpreendente, com algo do Elizabethan rainbow, passeando em várias estações, finíssimo nos detalhes e crítico na tensão entre representados e criadores. — Hmm! Something depends on natural disposition, more on practice: the first founds, the second then builds on that foundation.
St James, 5th October
Very sincerely yours,
V.