Tomas Tranströmer
Poesia Haikai
I
O sol junto ao horizonte.
As nossas sombras são gigantes.
Não tarda, tudo serão sombras.
II
E a noite decorre
de leste para oeste
à velocidade da lua.
III
Um par de libélulas
Encaixadas uma na outra
Esvoaçou por nós.
Tomas é muito amado no Japão justamente pela beleza da sua poesia haikai. No haikai japonês a sua técnica de surpreender no último verso é profundamente admirada. Entende-se hoje que Tomas Tranströmer influenciará necessariamente este género poético, segundo a opinião de estudiosos, num simpósio realizado em Quioto.
Como se sabe o poeta sueco Tomas Tranströmer foi o Prémio Nobel da Literatura de 2011. É um poeta de produção pequena mas traduzido em mais de 30 línguas. Vasco Graça Moura que traduziu alguma da sua poesia, afirmou na altura: “Tranströmer é o maior poeta sueco vivo”. Em Portugal, Tomas Tranströmer está representado na colectânea "21 poetas suecos", editada pela Vega, em 1981.
Em 1990 foi Tranströmer vítima de um acidente vascular cerebral que o deixou em parte afásico e hemiplégico. Ele estava a ouvir música, na ilha onde vivia recolhido, depois de doente, longe dos olhares do mundo, quando soube da atribuição do Nobel. Ficou surpreendido, acrescentou ainda o secretário da Academia.
Tomas Tranströmer: “The Music Says Freedom Exists”
Allegro
After a black day, I play Haydn,
and feel a little warmth in my hands.
The keys are ready. Kind hammers fall.
The sound is spirited, green, and full of silence.
The sound says that freedom exists
and someone pays no tax to Caesar.
I shove my hands in my haydnpockets
and act like a man who is calm about it all.
I raise my haydnflag. The signal is:
“We do not surrender. But want peace.”
The music is a house of glass standing on a slope;
rocks are flying, rocks are rolling.
The rocks roll straight through the house
but every pane of glass is still whole.
Hoje sentei-me ao piano e toquei a quatro mãos com o poeta. A emoção, não a contive, e ele entregou-me um papel onde tinha escrito há uns anos atrás
À procura de uma caixa de correio
atravesso a cidade com uma carta na mão.
Na imensa floresta de pedra e betão
adejava esta borboleta perdida.
Olhei-o, e nos seus olhos de neve, pus-me à escuta com este seu livro na mão: “50 Poemas” pela chancela da Relógio D’Água. De repente em mim o seu predominante tema de escrita: o carácter efémero da vida. A verdade no chão.
Acontece, a meio da vida, a morte bater-nos à porta
e tomar-nos as medidas. Essa visita é esquecida,
e a vida continua. O fato, porém, esse
é cosido em silêncio.
Imagino o quanto o gelo hoje está azul como o céu, e este, este é o meu agora para ti, Tomas Tranströmer.
Por cá tudo vai devagar. Talvez baste pôr em liberdade toda a verdade dos livros e fazermo-nos ao caminho, enquanto.
Uma árvore (…)apanha vida da chuva/(…) à espera, como nós, do instante
Escreveste.
E disseste que ao sol, damos a impressão de sermos quase felizes e ao mesmo tempo sangramos de mágoas que desconhecemos. E eu digo-te que espero um amigo na oscilante mesa da humanidade. Um amigo que avelude o ar.
Um amigo longamente amigo. Tua
Teresa Bracinha Vieira
Outubro 2015