AIR MAIL
Aqui entre estes e outros tempos
Levantados
A lembrança deixou meio queimadas
As heras que afinal restavam
Despojadas
De uma morte rigorosa: e aqui
Uma voz por entre as pedras
Responde-me:
«Aqui fui eu a cidade tão formosa, aquela
Que deu um nó à outra que o pastor trouxera
À boca e ao peito numa paz de amor desfeito que muito afagou
Para não viver morrendo.»
Então, pátria minha de sentires em danos que me fazes
Do modo que sabes te agradeço,
Não mereço mais que o mal com que me satisfazes
E de ti padeço, em mundo vivo
Mas te não privo do entendimento com que te quero
E de meu parto te livro
E de meu peito te não ninho
Aqui entre estes e outros tempos
E a quanto é temporal chamar eterno,
Ou negar verdades em suspeitas ausências
És soberana, sempre e tanto
Que volto a pegar na pena
E te escrevo
Numa esperança que se me aleixa,
Ou não saiba eu que tudo isto
É teima,
Acordo de credores,
Jurando que me dás tudo
O que já tens dado
Amor,
Usando espada e sem que nenhum de nós queixoso
Se difame
Teresa Bracinha Vieira
Outubro 2015