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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ATORES, ENCENADORES - LXII

 

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UM LIVRO SOBRE ATRIZES PORTUGUESAS DO SÉCULO XX

 

Faço aqui referência a um livro muito recentemente publicado, da autoria de Luciano Reis, “As Grandes Divas do Século XX” (ed. Parsifal – dezembro 2015) onde se recorda e analisa a atividade artística de 15 atrizes portuguesas de primeiro plano, algumas ainda em atividade, mas todas com longas e notáveis carreiras. As biografias artísticas cobrem assim o historial do teatro português contemporâneo, a partir do final do século XIX - início do século XX, caso de Palmira Bastos, que se estreou em 1890, Maria Matos (estreia - 1907) ou mesmo Amélia Rey Colaço (estreia - 1917): e assim se percorre mais de um século de historial de espetáculo, dado que, repita-se, algumas atrizes evocadas estão felizmente vivas e em atividade.

Iremos vendo, ao longo desta série de artigos, alguns dos casos mais destacados no historial do espetáculo português do século XX – e por vezes, do XXI!

Sem entrar aqui em pormenores, refira-se entretanto desde já as grandes linhas gerais destes currículos, na perspetiva dominante do significado no contexto do teatro português contemporâneo. E desde logo algumas vertentes desta atividade artística/profissional, porque comuns e dominantes nas variadas carreiras evocadas, merecem referência global. O que não impede que, em certos casos, se remeta para as exemplificações específicas, em artigos intercalados da série.

E logo em primeiro lugar, realce-se uma certa continuidade profissional, ou pelo menos, de meio ambiente cultural. Não são esporádicos, de facto, os exemplos de tradição familiar próxima ou imediatas no meio teatral. Quer dizer: algumas destas atrizes chegam ao teatro na continuidade de carreiras familiares, digamos assim: filhas de artistas, ou familiarmente relacionadas.

Também é interessante apreender a diversidade de início das carreiras. Se é certo que encontramos casos repetidos de frequência do Conservatório, também são comuns as situações profissionais iniciadas diretamente no meio teatral propriamente dito, em colaborações esporádicas ou desde logo regulares, em companhias de teatro. Algumas muito jovens, para interpretar personagens muito jovens, quando não crianças, o que está longe de ser pouco habitual no teatro - sendo certo, entretanto, que, no caso de crianças em cena, o interprete é muitas vezes mais velho do que a personagem desempenhada.

Em qualquer caso, temos, no livro de Luciano Reis, depoimentos de atrizes que pisaram o palco antes dos 10 anos: e a maioria iniciou carreiras profissionais muito antes dos 20. E essas carreiras prolongam-se por dezenas de anos, em certos casos, repita-se, até aos nossos dias.

Refiro hoje apenas duas situações.

Palmira Bastos estreou-se com 15 anos, em junho de 1890, por iniciativa de Sousa Bastos, com quem viria a casar, e que é autor de um livro aqui muitas vezes citado, “Diccionário do Theatro Portuguez” (1908). A peça, hoje esquecida, intitulava-se “O Reino das Mulheres”.

E a última apresentação de Palmira em público foi em 1966, um ano antes da morte, com a gravação televisiva, com público, no Teatro Avenida, do enorme sucesso de “As Árvores Morrem de Pé” de Alejandro Casona, antes durante meses em cartaz.

Já aqui evocamos o último espetáculo de Amélia Rey Colaço, no papel de Rainha em “El-Rei Sebastião” de José Régio, duas récitas realizadas no Teatro Portalegrense a 19 e 20 de outubro de 1985, numa homenagem a Régio, durante anos professor do liceu local. (cfr. Atores, Encenadores – LIX, 11 de novembro de 2015).

Recorde-se que Amélia era filha de um dos grandes expoentes da vida artística da época, o pianista Alexandre Rey Colaço. A sua estreia em récitas familiares ou de beneficência, como jovem declamadora, vem da primeira década do século passado, mas desde logo assumiu uma dimensão internacional, tendo Amélia estudado em Paris e inclusive participado numa récita em Madrid na presença do Rei Afonso XIII, isto em 1915, informa Luciano Reis.

Mas a estreia profissional de Amélia Rey Colaço ocorre em 17 de novembro de 1917 no Teatro República, hoje Teatro São Luiz, no papel da Vagabunda da peça “Marianela”, de Benito Perez Galdoz. Dirigia a companhia e dirigiu o espetáculo o grande ator Augusto Rosa.

Quanto a Maria Matos, havemos de a evocar em outra crónica, com realce para a sua longa carreira no teatro e no cinema.

E também evocaremos outras atrizes referidas no livro de Luciano Reis.

 

DUARTE IVO CRUZ