Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!
Um dia Kavi quis confrontar o deus da Criação, queria interroga-lo sobre as razões do mundo. Aceitou então que um fantástico falcão conhecesse as razões desta sua vontade. Disse-lhe o quanto era importante para ele debater com esse deus o para quê das coisas e da própria Coisa. A ave, acedeu ser mensageira e breve lhe chegou com a aceitação do deus ao seu encontro, impondo, todavia, uma condição: usaria o deus uma máscara pois que assim o exigia a proximidade da verdade absoluta. Kavi, que bem sabia o quanto o rosto fala sempre a verdade oculta da alma, propôs de imediato usar também uma máscara para que o encontro-confronto fosse leal, e mais, pediu à ave majestosa das altitudes que ajuizasse o diálogo com o deus do Começo.
E ambos se encontraram usando máscaras de jade, não sem que antes, Kavi, na sua, escrevesse por dentro: “surpresa perante o mundo, estranheza ante a morte”. E de repente Kavi sentiu-se no topo do mundo, no cume da Coisa e bem percebeu o quanto jogava a vida sem que o deus jogasse a sua imortalidade.
E saiu-lhe a pergunta:
De onde provéns tu próprio? Não se sai assim do nada para um Mundo….
- Eu sou de aquém do Ser, e saí do Informe.
(…) Diz-me como foi o princípio do tempo?
Como falar-te com palavras, remédio vão dos homens (…) são números, não palavras (…) que formam o filtro e o fogo do Principio.
(…) O universo é brinquedo dos deuses? ou és tu mesmo brinquedo da Coisa já criada? quem joga? quem é jogado? e o que joga?
Tu, Kavi não te conformas com a condição humana que te coube.
E assim durante o dia Kavi foi interrogando o deus, interrogando até perceber que este, nada lhe diria que não estivesse no Livro, e, por essa razão, não sairia nunca mais sábio do confronto tão desejado. Perguntava-se mesmo se sentiria tédio o próprio deus? Tédio que o levaria também a sentir-se exausto? A sentir uma necessidade de casa já sem máscara? As múltiplas equações que saberia o deus do Começo, rodariam sempre pelos céus e pelas noites não lhe tirando o sono de tanto as conhecer e afinal? afinal até se distraíra o deus tal como um mortal e junto aos elementos da montanha, do céu, das nuvens, das rudes pedras, deixara perto de Kavi, esquecida, a sua máscara de deus. Dentro dela inscritos símbolos e números desconhecidos dos homens. E logo que encontrado este trilho de nova procura, uma súbita atrapalhação faria cair das mãos de Kavi a máscara do deus, escaqueirando-se esta em pedacitos minúsculos, antes mesmo que Kavi tivesse tido tempo de fixar os símbolos.
Regressou enfim, à Terra, Kavi intuindo a sua condição humana como uma fatal arma que o matava porventura até.
Julgo que Kavi se acolheu de novo no caos, acreditando que uma eventual hesitação do deus face à Criação fizera surgir a imperfeição do mundo. Julgo também que Kavi deixou de procurar o útero das ânforas com a ideia de por aí se decifrar, e, olhou a indiscrição, de novo, olhou-a por todos os ângulos, como forma viva de receber o inesperado: como sempre fizera. Julgo ainda que Kavi não se metamorfoseou. O seu cérebro ligava-o à vida e num relance olhou a ave majestosa que a tudo assistira, enquanto ela, com incrível precisão me pousava no ombro, me pousava na cumplicidade das ideias.
Para mim é assim que me resulta a leitura do brevíssimo e excelente conto de António Vieira (António Bracinha Vieira) intitulado “O Confronto” e inserido no seu livro “Dissonâncias”, livro este que leio e releio desde a sua edição em 1999 pela &etc.
Tal como temos aqui referido, o Teatro Nacional de D. Maria II celebra em 13 de abril próximo os 270 anos de inauguração. A seu tempo novamente evocaremos esse evento, tão significativo, há que dizê-lo, para a história do teatro e do espetáculo português.
Mas hoje referiremos a escolha e a “classificação artística” correspondente da primeira companhia selecionada para a inauguração do D. Maria II com a peça “Álvaro Gonçalves, O Magriço, Ou os Doze de Inglaterra” de Jacinto de Aguiar Loureiro. A criação do teatro inscreve-se na reforma estrutural que Garrett definiu e executou, a partir de uma Portaria redigida pelo próprio Garrett e assinada pelo então Ministro Passos Manuel, datada de 28 de Setembro de 1836: nela se referem aliás, num autoelogio, os “distintos talentos, literatura e patriotismo” do autor da reforma, consagrada em Relatório de 12 de Novembro de 1836 e transformada em nova Portaria referendada por D. Maria II em 15 de Novembro seguinte.
Garrett seria nomeado diretor do Teatro, e nessa função e cargo se manteve até 16 de Julho de 1842, data em que foi exonerado num governo de Costa Cabral: e não é pois de estranhar a ligação direta do TNDMII aos sucessivos poderes públicos, tal como aliás durante dezenas de anos, se concretizou com a empresa Rey Colaço-Robles Monteiro, aliás em si mesma de indiscutível qualidade global.
Mas o que aqui nos interessa hoje é a evocação do elenco de atores que iriam constituir a primeira companhia residente, como posteriormente se diria, do Teatro D. Maria II. E é interessante evocar toda esta política de criação e início de atividade do teatro à luz do que posteriormente ocorreu. Seguimos a “História do Teatro Nacional D. Maria II” de Gustavo de Matos Sequeira, 2 volumes publicados em 1955 por iniciativa de Luís Pastor de Macedo, Comissário do Governo no TNDMII de 1943 a 1946.
Aí se referem, com efeito, as “classes”, como então se dizia, dos atores que constituíram e elenco inicial do teatro, de acordo com uma Portaria datada de 19 de Fevereiro de 1846. Essas classes eram três, e a Portaria descriminava a função dramática de cada ator (o “emploi”, como então de dizia), os anos de carreira, e por vezes a origem imediata no plano das companhias teatrais.
Assim, temos “da classe das primeiras partes” 11 atores, sendo o primeiro o então bem conhecido “Epifânio Aniceto Gonçalves; primeiro centro absoluto: sócio, diretor e ensaiador do Condes. Ator há 14 anos”. Publicamos aqui uma gravura.
E seguiam-se nomes quase todos bem prestigiados na época: Joaquim José Tasso “1º amoroso ou galã de ponta de cena”, assim mesmo, José Anastácio Rosa “galã central” Teodorico Baptista da Cruz, “centro cómico”, Vitorino Ciríaco da Silva “pai-nobre ou centro”, Crispiniano Pantaleão da Cunha Sargedas “primeiro cómico absoluto”, Manuel Baptista Lisboa “centro cómico, característico”, Inácio Caetano dos Reis “baixo-cómico” , todos com os anos de carreira , e todos oriundos do Condes, exceto o ultimo citado que vinha do Teatro do Salitre.
E três atrizes, todas elas vindas também do Condes: Emília das Neves “primeira-dama absoluta”, Carlota Talassi da Silva “primeira-dama” e Delfina Rosa do Espírito Santo “velha cómica ou meio carater”. E esta, mesmo especializada em papéis de velha, por ser de longe a mais nova, é a única que ostenta a idade. “Tem 27anos. Há quatro que é atriz”.
E seguem-se, nesta tabela garrettiana de 1846, mais duas categorias de atores: os “da classe dos comprimários” com oito atores masculinos e sete femininos, sendo que destas chegou até nós com prestigio o nome da Joseffa Soller, na altura “2º dama (a qual) foi bailarina. Pertence ao Salitre. Tem 26 anos”.
E segue-se finalmente uma ambígua “classe dos que devem ser preferidos em futuros contratos”, com oito atores e cinco atrizes, dos quais o único nome que hoje ainda surge citado será o do ator Romão António Martins. E o ator José dos Santos Mata é referido com uma insólita designação: “O Mata Castelhanos”…!
Mas é interessante que esta categoria de atrizes e atores traz algumas especificações denotando a maior fragilidade das carreiras e dos contratos; “aluno(s) premiado(s)” ou “elogiado(a)” do Conservatório, “ator de vários teatros”, “tem andado por companhias ambulantes” ou mesmo “ está em Elvas numa companhia ambulante” , o que não deixa de ter significado do meio teatral da época: aliás, outro “tem sido ator no Salitre e no S. João do Porto. Está em Beja”. Cita-se mesmo um caso de precocidade: “Maria Cândida de Mendonça (filha do ator Bernardo Vítor de Mendonça). Tem 18 anos e é atriz há 5”.
Alguns destes atores e atrizes são referidos como não tendo “escritura”, o que denota uma atenção ao carater profissional da companhia: o que aliás é coerente com o profissionalismo da obra de Almeida Garrett!...
O choque é magistral entre The Judean People’s Front e The People’s Front of Judea. Perdão! A luta agudiza-se entre Conservatives’ Inners que defendem a permanência do United Kingdom na European Union e Conservatives’ Outers que antes apoiam a retirada do Club 27. Os competidores vestem cores que
confundem o humble spectator. Assim: A hoste Bremain exibe ministros de HM’s Government; a hoste Brexit apresenta ministros da Crown também. O Prime Minister lidera os Inners, mas comanda estes e aqueloutros no Cabinet Room. Confusos?! Bom, não fiqueis. Magnificente mesmo é a visão dos futuros debates televisionados do Brexit. The Movie candidato a louros e expulsões. — Chérie. Rien ne sert de courir, il faut partir à point. Mr Leonardo DiCaprio conquista o Oscar de Best Actor pelo papel de Hugh Glass em “The Revenant”. Mr Tom McClean ultima preparativos por cá para, a bordo do “Moby,” aos 73 anos, atravessar o Atlantic Ocean. — Well! Life’s a journey. We certainly must enjoy the expedition. Os norteamericanos antevêem duelo entre Mrs Hillary Clinton e Mr Donald Trump na White House Race após a Supertuesday. Tréguas na Syria abrem janela de oportunidade para a paz. Pope Francis elogia a generosidade grega na crise dos refugiados, exortando Europe a esforço articulado para acolher quantos dela hoje necessitam. As eleições em Ireland continuam em contagem, sem executivo previsível, com a eventual derrota da coligação no poder e a vitória do Fianna Fáil comparadas a algo suave como shocks, sea changes & seismic shifts.
Light rain showers within windy and mild fresh days em London. Os jardins em volta denotam the early joys da primavera. Antecipando os ventos quentos e a passarada que com estes vem, Mr Nigel Farage intervém na UKIP's Spring Conference em Llandudno para declarar o já lendário 23rd June como "independence day" caso os Brits votem para sair da EU. Quando o Chancellor RH George Osborne planeia nova vaga de cortes na despesa pública, o G20 soa os alarmes contra a Brexit e o Labour Party contrata Mr Yanis Varoufakis como advisor, o foco na riviera galesa afirma a paleta das atenções em Westminster. A batalha Inners/Outers manifesta velocidade e intensidade tamanhas que partidos e políticos parecem até distraídos das eleições em Northern Ireland, Wales, Scotland e London agendadas para 5th May. Quer os competidores, quer a charanga mediática trabalham as dimensões concetuais da soberania ‒ aquele poder que não aceita igual dentro das fronteiras ou superior fora destas. Logo no início da quadrimensal corrida, porém, temo que os dois lados do argumento hajam esgotado o leque de razões pró e contra a ligação muito ou nada sentimental da ilha ao continente além Channel.
Padrão comum há nas barricadas. Por motivo de bons soundbytes, todos Tories que Labourites e Lib-Dems jogam na assistência, uns e outros tendem a clássicas comparações plumitivas. Afinal, sempre Sir Winston Churchill ancora a Britishness na “Law, language, literature.” Tome-se, por exemplo, o Inner Prime Minister. Amiúde o primus inter pares é descrito como Julius Caesar em Ides of March; tal serve para de caminho apontar como Marcus Junius Brutus o seu até há pouco close friend, most loyal ally e ainda Secretary of Justice RH Michael Gove. Daí a glosada linha do "Et tu Michaeltus." Veja-se agora distinto Big Outer: RH Boris Johnson. Aqui o caso refina, por colisão de egos. Em plena House of Commons sibilinamente sublinha RH David Cameron que se move não por ambições, sim obrigações. À adaga do oportunismo responde o Mayor of London com invocação de Lucius Quinctius Cincinnatus, herói que salva Rome de ataque Aequi e depois deposita laureado bastão para regressar ao cultivo das terras. No demais: Only 114 days to go…
Recomendável teatro é visto ainda noutro palco. O projeto é multimédia, o texto surge abreviado e somente apresenta duas idas à cena. Todavia, o espetáculo sobre o diário íntimo de um ajudante de guarda-livros na baixa de Lisboa suscita boa nota a quantos rumam ao Coronet Theatre para ver The Book of Disquiet, do Sr Fernando Pessoa. O cineteatro de South London acolhe no fim-de-semana a “a stunning UK premiere” do holandês Mr Michel van der Aa’s, com as palavras ditas por Mr Samuel West e o som da London Sinfonietta dirigida pela maestrina Sra. Joana Carneiro. The Times qualifica o conjunto como “remarkable 75-minute conflation of avant-garde music, film and theatre.” Nada diverso! O trabalho erguido sobre “a factless autobiography” ensaia, enquadra e vivifica o estilo avulso das reflexões do heterónimo Bernardo Soares que cedo afirma o que retém o autor entre o tinteiro e o papel: “a poesia da Pérsia, que não é de um lugar nem de outro, faz das suas quadras, desrimadas no terceiro verso, um apoio longínquo para o meu desassossego. Mas não me engano, escrevo, somo, e a escrita segue, feita normalmente por um empregado deste escritório.” O livro propriamente dito tem edição póstuma e três vozes, seja a do amanuense da Rua dos Douradores, seja a do onírico Vicente Guedes, seja ainda a do poeta confinado em destino exíguo: "uns livros de contabilidade e a capacidade de sonhar." A “fortune's Wheel” ecoa no 28 New Kent Road. — Hmm! Do remember Master Will in “The Tragical History of Julius Caesar:” The fault dear Brutus lies not in not our stars but in our selves if we are underlings.