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Blogue do Centro Nacional de Cultura

Um espaço de encontro e de diálogo, em defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar. Estamos certos de que o Centro Nacional de Cultura continuará, como há sete décadas, a dizer que a cultura em Portugal vale a pena!

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ATORES, ENCENADORES - LXXIV

 

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MÁRIO DE SÁ CARNEIRO, DIRETOR DE UMA COMPANHIA DE TEATRO EXPERIMENTAL

 

Temos aqui alternado a referência a atores profissionais com a referência a individualidades dominantes da literatura, da cultura ou da política, que em fases diversas da vida, participaram em espetáculos teatrais, como atores ou encenadores. Essa tradição, há que insistir, vem das origens vicentinas e inclui situações por vezes episódicas mas nem por isso menos significativas: e basta lembrar Almeida Garrett, em 1843, a fazer de Telmo Pais na estreia do “Frei Luis de Sousa”.

No início do ano assinalamos aqui o início do centenário da morte trágica, auto-infligida, de Mário de Sá Carneiro, ocorrida em 26 de abril de 1916, tinha o autor 26 anos. Evoquei então a sua intervenção como diretor de um movimento teatral, a Sociedade de Amadores Dramáticos, para além da sua própria produção dramática: ou melhor, daquilo que, nessa linha de criação, chegou até nós, com destaque para duas peças – “Amizade” escrita com Tomás Cabreira Júnior (1912) e “Alma” (1913) esta escrita com Ponce de Leão.

E citei títulos que, ou não chegaram até nós, ou que deles restam apenas estratos: “O Vencido” (1905), “Gaiato de Lisboa” (1906), “Pesar de Estudante” (1907), “Feliz pela Infelicidade” (1908), “A Farsa” e “Irmãos” (ambas de 1913) além de uma tradução/adaptação de “Aveugle” de Michel Provins. Fiz aí referências a estudos anteriores da minha autoria e de Luis Francisco Rebello e François Castel.  

Acrescente-se, de Sá Carneiro, “O Vencido” e “Feliz pela Infelicidade”, bem como um estrato inominado, publicados pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda com estudos de Manuela Nogueira e Maria Aliete Galhoz: e há referência a mais textos perdidos (in Mário de Sá Carneiro – “Juvenília Dramática”- INCM 1995).

Neste contexto de celebrações dos 100 anos da morte do escritor, damos aqui notícia de duas iniciativas muito recentes.

A Biblioteca Nacional inaugurou uma exposição intitulada “Mário de Sá-Carneiro - «O Homem são Loco»”, citação de Fernando Pessoa, comissariada por Ricardo Vasconcelos e Jerónimo Pizarro, catálogo com retrato da autoria de Júlio Pomar,  mostra  essa que  exibe  e documenta um conjunto muito interessante de livros, textos e imagens referentes à vida e obra do autor.

E aí, assinalo um aspeto curioso, ligado à produção teatral de Sá Carneiro. É que a sua primeira peça publicada, “Amizade”, identifica na capa os dois autores, mas por ordem inversa daquela que é hoje referida por todos os historiadores de teatro e literatura: Tomás Cabreira Júnior e Mário de Sá Carneiro, diz a capa da edição, dando assim “prioridade” ao malogrado primeiro co-autor, que poria termo à vida em 1911 - tal como Sá Carneiro faria 5 anos depois…

Esta sequência de nomes dos autores foi entretanto totalmente alterada posteriormente (“Amizade” de Mário de Sá Carneiro e Tomás Cabreira Júnior, assim citada), pois a relevância de um e de outro não se pode comparar, mas a edição original é como referimos.

Por seu lado, o Jornal de Letras Artes e Ideias (JL - 27 de abril / 10 de maio de 2016) dá grande destaque ao centenário da morte de Sá Carneiro, a partir de textos de um conjunto relevante de escritores, em edição devidamente ilustrada com gravuras e desenho na capa de João Abel Manta. E aí, reproduzem-se designadamente dois textos relativos à atividade teatral de Sá Carneiro, ambos em francês.
Trata-se em primeiro lugar de uma carta data de 3 de Julho de 1911, assinada por Tomás Cabreira Júnior e Mário de Sá Carneiro, destinada a um jornal e onde se esclarece que a peça “Amizade” dos signatários foi escrita em 1909 e não é plágio de uma “Amitié” publicada por Jules Lemaitre.

E ainda uma notícia (também em francês) publicada mas não datada nem identificada, onde se informa que foi fundada em Lisboa, em Março de 1912, uma nova sociedade teatral de amadores, a Sociedade de Amadores Dramáticos, indicando o repertório dos quatro primeiros espetáculos. Primeiro: “Les Fossiles” de François de Curel; segundo: “O Relógio do Senhor Cura” de António Ponce de Leão e a “Amizade” de Cabreira e Sá Carneiro; terceiro: ”Interieur” de Maurice Maeterlinck, “Le balcon” de Gunnar Helberg e ainda “Les Bouligrin” de Courteline; e o quarto: “Mentiras” de Ponce de Leão.

 

DUARTE IVO CRUZ