EUGÉNIO DE ANDRADE
Para além do dizer do mito do sentido da vida, os poetas determinam o ritmo da existência e do não regresso da grande quietude, tentando uma realidade suportável ao sugerir a própria libertação final dela.
Existe sempre um último jardim nos olhos do poeta, quando a percepção pressente, aquele ligeiro respirar, por muito mais ambicioso que fosse o desejo da promessa. Mas os rios lavram-se assim na casa dos poetas, e sempre e só, e se o tempo o permitir.
Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.
Aqui, neste tempo, ter-me-á segredado Eugénio de Andrade que eu ainda não conhecia as rugas do silêncio, sendo nesta vida que as devia procurar. E vou apenas à fonte. Vou apenas até lá e basta vê-la correr no fio de um riacho.
Teresa Bracinha Vieira
Maio 2016